O fim da era dos segredos, as redes sociais, a opinião pública e o julgamento do Lula

 

O fim dos segredos e a história. Foto: arquivo

As redes sociais serão os olhos e os ouvidos dos historiadores e da opinião pú­bli­ca sobre o que irá acontecer nos bastidores do julgamento pelos três desembargadores do Tribunal Federal Regional da 4ª Região (TRF4) da apelação do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT – SP), no dia 24, em Porto Alegre. Lula apela de uma sentença de 9 anos e seis meses, dada no ano passado pelo juiz federal de primeira instância Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, em Curitiba (PR). Lula é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do apartamento triplex no Guarujá (SP). O que irá acontecer em Porto Alegre fará parte da história política do Brasil porque o currículo político de Lula o tornou uma figura internacional e por ele estar em primeiro lugar nas pesquisas da disputa nas próximas eleições presidenciais. Se ele for condenado, além de não poder concorrer, pode ser preso.

Antes de seguir contando a história, eu quero lembrar aos meus colegas repórteres velhos e aos jovens o seguinte. Ter conhecimento dos bastidores do fato é fundamental para fazer o registro exato do que aconteceu. Isso só é possível nos dias atuais porque as novas tecnologias facilitaram o surgimento de vários sistemas de comunicação – blogues, rádios web, canais de vídeos, WhatsApp, sites e outras plataformas. Lembro que o Facebook surgiu em fevereiro de 2004 e hoje tem mais de 1 bilhão de usuários ao redor do mundo. São apenas 14 anos de existência, um segundo no relógio da história, como costumam descrever os velhos radialistas.

Vou citar dois fatos relevantes para a história do Brasil. Um deles aconteceu antes das redes sociais, e outro, depois. Lembram da disputa pela a presidência da República, de 1989, de Lula com Fernando Collor de Mello? Até hoje, estão sendo descobertos fatos novos dessa disputa. Há na internet um depoimento de José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni, da Rede Globo, sobre a disputa. Ainda hoje, há detalhes não conhecidos do impeachment de Collor, em 1992, e do assassinato do tesoureiro da sua campanha, Paulo César Farias, conhecido como PC Farias, em 1995, em uma casa na praia de Guaxuma, no litoral norte de Alagoas. Eu estive lá fazendo matéria no final dos 90 e no ano passado como turista. A casa virou atração turística, e a verdadeira história do que aconteceu se perdeu no tempo. Agora, lembram do impeachment da presidente da República Dilma Rousseff (PT – RS), em 2016? Todo o processo foi acompanhado em tempo real pela população, graças às novas tecnologias de comunicação. Dilma foi vítima de uma conspiração articulada pelo grupo político do seu vice, Michel Temer (MDB – SP), que hoje é o presidente do Brasil. Todas as versões das partes envolvidas nesse acontecimento podem ser acessadas na internet.

Aqui cabe o seguinte comentário. Tirando os casos de manipulação das informações. Antes das novas tecnologias, as grandes redes de comunicação não contavam aos brasileiros os bastidores dos acontecimentos por pura sacanagem? Não. A tecnologia disponível nas redações brasileiras, no início dos anos 90, não permitia aos repórteres terem uma visão imediata sobre os bastidores dos acontecimentos. Lembro na época, no Brasil e no mundo o celular era um artigo de luxo, e a internet era cara e deficiente. As notícias levavam horas, em muitos casos dias, para chegar aos ouvidos e aos olhos dos leitores. Na época em que entrei para a redação como repórter, em 1979, as coberturas dos acontecimentos se limitavam aos fatos que o repórter via acontecer na sua frente. Os bastidores do fato eram uma coisa que se levava dias para descobrir. Na maioria das vezes, não se conseguia chegar ao núcleo do acontecimento. Hoje o repórter pode acompanhar em tempo real tudo o que acontece. As versões dos lados envolvidos nos fatos estão disponíveis a um aperto de um botão.

Ao longo dos anos, o repórter tem ouvido que a história é feita pelo lado vencedor. Digo: isso não vale mais. As novas tecnologias tornaram possível a todos os lados contarem a sua versão da história. Portanto, cabe a nós, repórteres, sabermos ler, ouvir e ver nas entrelinhas dos relatos dos acontecimentos os bastidores que antes não eram informados ao nosso leitor. Graças às novas tecnologias, os fatos não têm mais segredos. Isso para todo mundo.

Deixe uma resposta