O lado sombrio da personalidade de Trump e Bolsonaro

Qual é a verdadeira aposta de Trump (direita) e Bolsonaro (esquerda)? Foto: Reprodução

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), de não honrar a tradição americana em reconhecer de imediato, no dia 07/11, a derrota nas eleições para o seu adversário Joe Biden (democrata), lembrou-me um dos episódios mais sinistros da história da humanidade. Acontecido na Alemanha nazista, em 1944/45, anos finais da Segunda Guerra Mundial. Cercados pelos exércitos dos Aliados, Adolf Hitler e o seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels, enviaram para as frentes de batalha velhos e crianças como combatentes. Ficou registrado na história a fala de Hitler, de que o povo alemão estava perdendo a guerra por não ter sido digno dele, e portanto merecia morrer. Há vários documentários, estudos e pesquisas sobre o assunto. Um deles é o livro A Mente de Adolf Hitler, um relatório sobre a personalidade do líder nazista feito por Walter C. Langer, psiquiatra contratado pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos para estudar Hitler quando ele comandava a Alemanha.

Por que a comparação entre as duas situações? Existe um fio que unem os dois episódios. A estratégia publicitária que elegeu Trump em 2016 foi organizada por Steve Bannon, assistido por um grupo seleto de profissionais altamente qualificados na ciência da comunicação. O modelo usado por eles foi criado por Goebbels nos anos 30 na Alemanha nazista, retocado e atualizado pela tecnologia atual. Mas o cerne é o mesmo: distorção da verdade e uso de fake news como política de governo. Trump recebeu todas as garantias das autoridades, incluindo gente de peso do seu partido, de que a disputa com Biden foi limpa. Mesmo assim, continuou insistindo que houve fraude. E se ele estiver certo? Há mecanismos que garantem o direito dele. Aqui é o seguinte: Trump insiste que foi vítima de uma conspiração contra o seu governo feita pela imprensa livre aliada aos seus adversários políticos. Técnica usada por Goebbels para justificar os horrores da máquina de matar dos nazistas usada contra as minorias, em especial os judeus. Fundamentalmente é o seguinte: não interessa a verdade. Mas a versão.

Até quando Trump negará a vitória de Biden? Creio que não é por aí que devemos explicar a gravidade do caso ao nosso leitor. Mas pelo lado de que a cada minuto que ele insiste na negação está injetando nos americanos o vírus da desconfiança com a seriedade das instituições do país. No longo prazo, os fatos nos ensinam como isso tudo acaba. O mesmo caminho de Trump vem sendo percorrido pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido). Empunhando a bandeira do negacionismo, ele tem semeado a discórdia e afrontado as instituições da democracia brasileira. A máquina de distorcer a verdade recebeu adaptações à realidade brasileira e vem sendo usada por Bolsonaro. Aqui é o seguinte. Tenho insistido com os meus colegas repórteres, em especial com os jovens das redações envolvidos na correria da cobertura do dia a dia, que é necessário conhecer a história da Alemanha na década de 30. Para melhor entendermos os dias atuais e em que rumo podemos estar sendo conduzidos pelas fake news disparadas pela máquina de manipulação da verdade. A uma conclusão já chegamos: o progresso dessa máquina depende da nossa ignorância de como as coisas funcionam. Daí ser fundamental nós jornalistas trocarmos ideias e informações.

Sempre que tenho oportunidade falo nas minhas palestras para estudantes de jornalismo e nas redações pelo interior do Brasil que uma das grandes falhas na nossa formação profissional é o desconhecimento da história. Um repórter que não sabe como a humanidade chegou até aqui está em voo cego, porque não tem como dar a dimensão a um acontecimento. Claro que não podemos transformar uma notícia em uma tese. Mas podemos colocar no texto uma frase, uma palavra ou mesmo uma imagem para mostrar ao leitor o contexto da história. A imprensa livre sempre foi uma trincheira importante na luta contra o totalitarismo. E a munição que disparamos é a verdade. É por aí, meus colegas.

2 thoughts on “O lado sombrio da personalidade de Trump e Bolsonaro

  1. Prezado Jornalista Carlos Wagner
    Estou acompanhando o caso do desaparecimento da Professora Claudia Hartleben. Gostaria de saber se foram retiradas amostras de DNA da mãe de Claudia para uma futura comparação caso seja encontrado o corpo. Desde já os meus agradecimentos.
    Ivo M. Gloeden

    1. Faz parte do protocola da investigação policial guardar o dna. Não sei se foi seguido o protocolo no caso da Cláudia. Vou correr atrás e te informo.

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