O MDB e o PSDB vão estar em uma saia justa no segundo turno das eleições presidenciais. Tanto faz o adversário de Jair Bolsonaro (PSL – RJ) ser Ciro Gomes (PDT – CE) ou Fernando Haddad (PT – SP). Se for Haddad, será uma saia justíssima. Há dois motivos para o constrangimento dos dois partidos. O primeiro é que o MDB nasceu como abrigo a todos aqueles que eram contra os civis e os militares que derrubaram o presidente eleito João Goulart , o Jango, do antigo PTB gaúcho, em 1964. E implantaram a ditadura militar no Brasil, que durou até 1985. Bolsonaro não é apenas mais um capitão reformado do Exército Brasileiro, ele fez todo a carreira parlamentar dele defendendo os valores políticos de 64 e aqueles a quem a história chama de torturadores que prenderam , maltrataram, mataram e cassaram os direitos políticos dos seus adversários, muitos deles parlamentares do MDB. Na redemocratização do país, vários políticos saíram do MDB e formaram outros partidos, entre eles PSDB, PDT e PT. Os que ficaram na sigla acrescentaram um P ao nome, e nasceu o PMDB, que no início do ano voltou a se chamar MDB.
O segundo motivo de constrangimento do MDB e do PSDB de apoiar Bolsonaro é mais recente. Em 2015, um grupo político, tendo à frente o atual presidente da República, Michel Temer (MDB – SP), e o senador Aécio Neves (PSDB – MG), articulou-se e conspirou contra a então presidente da República, Dilma Rousseff (PT – RS). Dilma foi cassada em 2016 e, no seu lugar, assumiu o seu vice, Temer. As contradições políticas internas e o envolvimento no recebimento de propina, denunciado pela Operação Lava Jato, implodiram o grupo político de Temer. Somando-se os dois motivos, chega-se à seguinte situação: se o MDB e o PSDB apoiarem Bolsonaro, não só estarão cuspindo na memória dos seus companheiros que foram vítimas do golpe militar como estarão dando razão àqueles que afirmavam que o envolvimento deles na derrubada da Dilma fazia parte de um plano maior, que tinha como finalidade comprometer a democracia brasileira. Se, por outro lado, os dois partidos apoiarem oficialmente o adversário de Bolsonaro no segundo turno, seja Ciro ou Haddad, vão ter problemas sérios internos com seus parlamentares que estão comprometidos com a campanha do PSL.
Não está escrito. Mas, nas entrelinhas da carta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB – SP), publicada ontem na imprensa, alertando para o perigo de ser eleito um candidato de extremo, há duas coisas que estão muito claras: a primeira é que prega o voto útil no seu candidato, Geraldo Alckmin, e a segunda é a saia justa de ter que declarar apoio a Bolsonaro, caso ele concorra com Ciro ou Haddad. Se acontecer, a saia justa a saída provável dos dois partidos vai ser a liberação das suas bases para apoiarem quem bem entenderem. O que não deixa de ser um ato covarde no atual momento da história do país, ouvi de um amigo e ex-parlamentar do MDB que foi preso político. Para nós, repórteres, lembrar os compromissos históricos dos candidatos não é velharia, como muitos editores falam. Mas é compromisso com o nosso leitor. A atual cobertura que estamos fazendo das eleições é uma das mais completas que vi em 40 anos de profissão, graças às novas tecnológicas e, principalmente, à divulgação das pesquisas que estão sendo feitas pelos bancos interessados no futuro do mercado de capitais. Mas está faltando contar a história dos personagens por trás dos números. Tenho dito em palestras para estudantes de jornalismo e nas redações dos jornais do interior do Brasil que nós não temos que só cobrar dos parlamentares honestidade e coerência política. Mas compromisso com os valores da sigla à qual estão vinculados. Como repórteres, não podemos comprar o peixe que é vendido pelos marqueteiros políticos de que um partido é apenas um punhado de letras. Não é. Ele é formado por valores – econômicos e morais – que são defendidos pelos seus seguidores. E o atual momento histórico brasileiro é uma grande oportunidade que temos para conversas com o nosso leitor sobre assuntos que, geralmente, não falamos nos conteúdos dos noticiários diários, ou porque a notícia ficaria enfadonha, já que consideramos que é obrigação de todos saberem a história, ou por negligencia nossa, que é o que acontece na maiorias das vezes. O dever dos parlamentares de defenderem as bandeiras históricas do seu partido é um desses assuntos que deixamos de fora. Um dos motivos da crise nas empresas de comunicação é que seus produtos – noticiários – deixaram de ser relevantes no cotidiano das pessoas. Cobrar dos políticos a lealdade às bandeiras históricas de seus partidos é um bom começo para trilharmos a volta ao caminho da relevância para o nosso leitor. É simples assim.
Brilhante análise. O PSDB certamente ficará em cima do muro.
Sabe? Em outubro completa 4 anos que estou fora da redação, onde lidei durante 40 anos (31 na ZH). Sempre trabalhei muito e andei bastante pelos rincões brasileiros. O que me deu uma visão bem diversificada da realidade brasileira. Fora da redação o repórter, no meu caso, tem tempo de respirar e conversar com calma com as pessoas. Eu estou fascinado com os conteúdos que não via antes e estou vendo agora nas conversas. Os “conteúdos que não via” são informações que nos levam a entender a floresta e não apenas a árvore. Vou parar por aqui ou acabo escrevendo um texto tijolão. Grande abraço.