Desde que foi encurralado pelas denúncias de Joesley Batista, um dos donos da JBS, à Lava Jato, o presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP) começou a se preocupar com a possibilidade real de acabar na cadeia. Essa preocupação é inédita na vida pessoal e política de Temer, 76 anos. Ela tirou o sorriso do rosto do presidente e alterou o seu tom de voz.
A real possibilidade de ir para a cadeia também está corroendo os fortes elos da aliança política entre as pessoas que fazem parte do grupo político de Temer, que é formado por homens experientes e mestres na arte da conspiração. O grupo foi responsável pela condução vitoriosa na conspiração que resultou no impeachment da presidente da República Dilma Rousseff (PT – RS), que foi substituída pelo seu vice, Temer. As três pessoas mais próximas ao presidente estão envolvidas em vários crimes descobertos pela força-tarefa da Lava Jato. Duas delas são os ministros, Eliseu Padilha, 71 anos, e Moreira Franco, 72 nos. Eles não têm mandato parlamentar. Portanto, se perderem seus cargos, perdem o foro privilegiado – direito a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – e vão responder na Justiça Federal de primeira instância, onde os processos andam com mais rapidez. E o terceiro é o Homem da Mala, apelido que ganhou o ex-deputado federal do PMDB (PR) Rodrigo Rocha Loures, 51 anos, por ter pego uma mala com R$ 500 mil de propina, paga pelo empresário Joesley Batista. Ele não tem foro privilegiado e a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ex-deputado foi preso preventivamente no sábado. Ainda é cedo para dizer se ele irá para a delação premiada. Se for, ele complica a vida de Temer.
Nos casos de Temer, Franco e Padilha, enquanto ocuparem os seus cargos, a situação deles só se complicará se estiverem usando suas funções para obstruir as investigações ou ameaçar testemunhas. Mesmo depois de perderem seus cargos – seja pelo fim do governo, por cassação ou por impeachment – e forem condenados, eles não irão para a cadeia devido à idade. Mas não se livrarão da condenação. Claro, os três sabem disso. E sabem que jamais descerão a rampa do Palácio da Alvorada algemados. Mas, então, qual o motivo do medo de ser preso? O registro na história. Hoje, graças às novas tecnologias, a disponibilidade das informações nas redes está acabando com a máxima de que, amanhã, ninguém irá lembrar. Lembra, sim. E só apertar um botão do computador ou do celular e poder ver a imagem, o áudio e os documentos, sem pagar um tostão.
Essa é a conjuntura. Uma era totalmente nova trazida pelas novas tecnologias, que garante que nada será esquecido. Nós, repórteres, temos que levar isso em conta quando analisamos uma situação.