Hoje não se usa tanto a expressão como antes. Mas ela ainda significa a mesma coisa: “não manda nada”. Sempre que alguém ocupava o cargo máximo de um país, empresa ou qualquer que fosse a organização e era apenas uma figura decorativa, se dizia que era a “Rainha da Inglaterra”. Como se sabe, na Inglaterra, o sistema político é a monarquia constitucional e quem manda de fato e presta contas ao Parlamento é o primeiro-ministro. Os monarcas ingleses perderam o poder de mandar em 1689, mas a família real, liderada atualmente pela rainha Elizabeth II, conservou a sua pompa e circunstância e alimenta as fofocas da tal imprensa marrom.
Essa descrição, com alguns ajustes, serve para descrever o atual desempenho do presidente da República Jair Bolsonaro. Um ausente nas articulações políticas do seu governo, um atrapalhado na condução dos assuntos econômicos do país, um elefante em uma loja de cristais nas questões de segurança pública e uma granada sem pino de segurança (mecanismo que impede que exploda) nas relações internacionais do Brasil.
Nos primeiros 130 dias do seu governo, Bolsonaro se mostrou eficiente em apagar incêndios feitos por dois dos seus filhos, o senador Flávio (PSL-RJ) e o vereador carioca Carlos (PSL-RJ). O último foi provocado pelo vereador, que publicou desaforos contra o vice-presidente da República Hamilton Mourão, general da reserva do Exército. O presidente também tem se mostrando eficiente em atirar pedras contra a esquerda brasileira. Enquanto isso, os problemas reais vão consumindo a paciência dos brasileiros. O desemprego avança, já são mais de 13 milhões de desempregados. A segurança pública é o caos, em parte graças ao sistema penitenciário brasileiro, que é uma fábrica de novos bandidos para os quadros das facções criminosas. O resultado dessa situação? Pesquisas de opinião pública mostram que a rejeição da administração do presidente Bolsonaro, em torno de 35%, é a mais alta de todos os presidentes da República eleitos pelo voto popular depois de 1985. Em pouco mais de quatros meses de administração, ele corroeu o seu capital político conseguido na disputa do segundo turno com Fernando Haddad (PT-SP), quando fez 55,13% dos votos válidos.
Usando o linguajar dos meus colegas repórteres do esporte: “Bolsonaro chutou para fora com o gol vazio”. Não foi a oposição, nem os movimentos populares ou os “comunistas” que desgastaram o prestígio do presidente. Foi ele mesmo – há dezenas de matérias falando sobre o assunto na internet. Um amigo e colega repórter dos Estados Unidos me perguntou como estavam indo as coisas no governo Bolsonaro. Respondi que o país estava sendo governado de fato por quatro pessoas. O superministro da Fazenda Paulo Guedes, que está usando todo seu vigor na tentativa de aprovar a Nova Previdência Social, deixando de lado outros assuntos da sua área; o ex-juiz federal Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, que ganhou fama com a Lava Jato e cuida dos assuntos da sua pasta como seus os únicos crimes que existissem no país fossem o crime organizado e a corrupção; Rodrigo Maia (DEM-RJ), que preside a Câmara dos Deputados e ocupa o vazio na articulação política deixado por Bolsonaro; e o general Mourão, que para muitos é de fato o presidente da República.
Ao ouvir meu relato, o colega americano fez um comentário curto: “Que encrenca”. Eu pergunto aos meus colegas: “Como vai acabar essa encrenca?”: Ninguém sabe. O fato é que o estilo de governar do presidente o transformou em uma “Rainha da Inglaterra”. A exemplo da soberana inglesa, Bolsonaro tem comparecido a todos os eventos das Forças Armadas, por mais corriqueiros que sejam. Durante o regime militar (1964 a 1985) era comum qualquer solenidade nas Forças Armadas virar notícia dos jornais. Com a redemocratização do país isso desapareceu dos noticiários. Agora foi ressuscitado pelo presidente, que é capitão da reserva do Exército.
Aqui, eu gostaria de refletir com meus colegas repórteres. No ano que vem tem eleição municipal no Brasil. A história mostra que essas disputas eleitorais sempre foram muito intensas, principalmente nas cidades do interior. Qual será o papel de Bolsonaro nessa disputa? Uma coisa é certa: se a popularidade dele continuar caindo, ele virará vidraça. Ao contrário da eleição presidencial, quando ele era a pedra. Se isso acontecer, o seu governo vai ter sérios problemas. Tem mais ainda. Serão realizadas as eleições presidenciais nos Estados Unidos governados por Donald Trump, ídolo de Bolsonaro. Vai ser um ano de extremos para o presidente. Tudo pode dar certou, tudo pode dar errado. É o famoso 50% de tudo ou nada, como se diz no jargão das redações.