Duas situações para serem comparadas. A primeira foi em 2017, no auge da operação Lava Jato. A conversa que circulava entre os repórteres do Brasil era como tinham circulado bilhões de reais em propina no país e nenhum órgão de fiscalização, tipo Receita Federal ou Controle de Atividades Financeiras (Coaf), tinha percebido. Na época, surgiu uma brincadeira entre nós, que era sugerir para o colega: “erra um número no teu imposto de renda para ver o rolo que dá”. O símbolo dessa época: o vídeo da Polícia Federal (PF) de Rodrigo da Rocha Loures recebendo uma mala de R$ 500 mil de propina. Loures era assessor do então presidente da República Michel Temer (MDB – SP). Ficou conhecido como homem da mala e foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF).
A segunda situação está acontecendo agora. Nas últimas sete semanas, o site The Intercept Brasil vem publicando denúncias de irregularidades acontecidas no exercício de suas funções de servidores públicos federais – agentes da PF, procuradores da República e técnicos da Receita Federal – da força-tarefa da Lava Jato. Incluindo o então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR). As irregularidades são diálogos que houve entre eles usando o aplicativo Telegram e que agora estão sendo publicados a conta-gotas pelo site. Na primeira situação, nós batemos na porta da Lava Jato para saber o que acontecia – há um farto material na internet sobre a estratégia de comunicação da operação. Na segunda situação, em que porta vamos bater?
A porta em que vamos bater é das corregedorias. Os agentes da PF têm um corregedor, os da Receita Federal têm outro, e assim por diante, incluindo o então juiz Moro. Aqui chamo a atenção do jovem repórter que está dentro de uma redação fazendo três e até quatro pautas por dia. Portanto, não tem tempo para investir em apuração. Nos meus 40 anos de repórter, mais de 30 trabalhando em redação, aprendi que ter uma fonte em uma corregedoria é fundamental. Por quê? Eles são treinados para fiscalizar o trabalho dos funcionários da sua área. É mais produtivo ter fonte entre os investigadores da corregedoria. Geralmente, a direção só fala de maneira oficial. Há um cuidado que o repórter precisa ter nesse tipo de matéria. Não ser usado como “balão de ensaio”. Como é isso? A pessoa investigada está com escuta telefônica – grampeado. O investigador vaza uma informação para a imprensa e fica escutando o suspeito para saber qual é a sua reação.
O pessoal que trabalha em corregedoria é solitário. Lembro que, certa vez, eu estava conversando com um agente da PF e entrou pela porta da sala um homem de meia idade. Nós estávamos conversando bobagem. Mas imediatamente, o agente mudou o rumo do papo. Depois que o senhor saiu da sala, eu perguntei o tinha acontecido, ele respondeu: “o cara é da corregedoria e sabe o que anda fazendo por aqui”. Mais ainda: raramente, o trabalho das corregedorias ganha publicidade nas páginas dos jornais ou em qualquer outro meio de comunicação. Uma conversa com o pessoal da corregedoria, geralmente, rende uma boa matéria. Eles sempre sabem o que está acontecendo. A grande pergunta que temos responder ao nosso leitor: a força-tarefa da Lava Jato e os que foram presos por corrupção são os lados da mesma moeda? É simples assim.