Deixou uma pergunta no ar para as redações dos grandes jornais do Brasil a greve de fome do frei franciscano Sérgio Görgen e das agricultoras Josi Costa e Leila Denise, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Em Brasília, eles protestaram contra a Reforma da Previdência, do dia 5 até a última sexta-feira. A pergunta deixada para respondermos é saber os motivos que levaram os grandes noticiários a ignorar o movimento. Dos meus 40 anos como repórter, 37 vividos dentro das redações, sendo que em parte deles estive envolvido em coberturas de movimentos sociais, eu acredito ter uma das respostas a essa pergunta: ranço político. Um sentimento que se fortaleceu dentro dos jornais durante a democratização do país em reação à barulheira que movimentos sociais começaram a fazer nas ruas nas suas lutas por terra, moradia, saúde, ensino e liberdades individuais. Na época, as direções das redações imediatamente classificaram essas organizações de comunistas e baderneiras.
O ranço político contra os movimentos sociais é uma dessas coisas que existem dentro da redação, e ninguém se dá conta. Simplesmente existe. Agora, em tempos em que os grandes jornais travam uma luta diária para manter seus assinantes e anunciantes, o ranço político é um inimigo na trincheira. Se a greve do frei Sérgio tivesse acontecido há uns cinco ou seis anos e os jornais não tivessem noticiado, como fizeram agora, pouca gente saberia. Mas hoje, com as redes sociais – basta ver o volume da cobertura que foi dada para o fato –, todos sabem o que está acontecendo. Agora, imagine o seguinte. O assinante do jornal (papel e site) e da TV a cabo não recebeu essa noticia porque algum gênio dentro da redação decidiu que ele não precisa saber. Aqui, eu quero refletir com os velhos repórteres e os novatos na reportagem. Não cabe a nós, repórteres, decidir o que o nosso leitor pode ou não pode ler. A nossa tarefa é colocar à disposição dele o maior número de informações possíveis, de maneira simples e direta, sobre o que está rolando no mundo e que pode influenciar no seu dia a dia.
Todos os movimentos, contra ou a favor da reforma da Previdência Social, são do interesse do nosso leitor, ponto. É dentro desse contexto que vamos examinar a greve de fome. Vou enfileirar os argumentos para demonstrar a relevância da greve de fome. Primeiro, o frei é um frade franciscano, da mesma ordem do Papa Francisco. Aqui, vou fazer um relato pessoal. Na semana passada, recebi uma ligação de um jornalista italiano, que conheci nos anos 80 nas coberturas dos conflitos agrários em Cruz Alta, cidade agroindustrial. Na época, ele trabalhava para o jornal Corriere della Sera, Ele me perguntou o que estava acontecendo com o frei Sérgio e reclamou da escassez de informações sobre o assunto na imprensa nacional. Fiz um resumo da situação para o colega. Voltando à história. Conheci o frei em 1979, quando trabalhava de repórter no jornal Interior, em Carazinho. Na época, o país era governado por uma ditadura militar (1964 a 1985), e o frei já era conhecido como subversivo pelo seu envolvimento com os movimentos sociais, que começavam a florescer com a decadência do regime. Nos 28 anos seguintes, eu assisti o frei atuar no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Lembro que, em 1989, ele participou da ocupação da Fazenda Santa Elmira, em Salto do Jacuí, pequena cidade agrícola. Tropas da Brigada Militar (BM), auxiliadas pela União Democrática Ruralista (UDR), cercaram e atacaram os colonos, usando até aviões para lançar bombas de gás lacrimogêneo. No confronto, o frei teve o rosto deformado por uma coronhada de um fuzil. Eu estava lá e vi. Por imposição dos movimentos sociais agrários, em 2003 ele foi eleito deputado estadual pelo PT. Aqui, é importante o seguinte. Na época, existia nos movimentos sociais rurais uma discussão muito forte se valia a pena apoiar a via legislativa ou outras formas de luta. Foi decidido que seriam indicados candidatos por apenas um mandato. O frei não concorreu à reeleição. Na internet, há uma abundância de informações sofre o frei.
Em qualquer lugar civilizado do mundo, o envolvimento em protestos de uma pessoa com o currículo do frei é notícia. Agora, vamos às duas agricultoras que entraram em greve de fome com o frei, Josi e Leila. Elas são do MPA. Ao lado de outras organizações de pequenos agricultores, o MPA representa a agricultura familiar, que é um poderoso braço econômico do Brasil. Graças a esse tipo de atividade econômica que as agroindústrias – fabricação de derivados de leite, carnes e grãos – se estabeleceram pelo interior do país. Atrás delas, vieram as indústrias de insumos (adubos) e de metalmecânica (fabricação de máquinas) e a instalação e a ampliação das universidades particulares pelas cidades do interior. Só no Rio Grande do Sul, a agricultura familiar envolve 500 mil famílias. Olha, o trabalho em uma propriedade familiar é intenso e envolve todo mundo. Se tem colono saindo da roça para ir protestar em Brasília, nós, repórteres, ao mínimo, temos a obrigação de saber o que está acontecendo.
Agora, vem o ranço político. A maioria dessas organizações está ligada à esquerda, em especial ao PT. Tenho lembrado, nas minhas palestras por redações dos jornais do interior do Brasil, faculdades e movimentos sociais, que muita gente morreu, foi torturada e perdeu o seu emprego na luta pela democratização do Brasil para garantir os nossos atuais direitos constitucionais. Portanto, não cabe a nós, repórteres, não informar ao nosso leitor o significado da participação de uma organização em um protesto por acharmos que ele não irá se interessar devido aos vínculos políticos. Nós, repórteres, não achamos. Nós informamos. Mais ainda. Nas grandes lutas reivindicatórias dos movimentos sociais, como as por moradia, reforma agrária, saúde e educação, há gente de todas as tendências políticas envolvidas. Foi graças a essas lutas que políticas como a de construção de moradias foram implantadas no país e geraram milhares de empregos na construção civil. Nos dias finais da greve de fome, várias outros movimentos sociais se envolveram. Insisto. Cabe ao nosso leitor tomar as suas decisões e a nós colocarmos as informações corretas e de maneira simples para ele.
É mesmo estranho ver um Frei numa greve política.
Não têm a menor responsabilidade com as contas públicas, com a sustentabilidade da Previdencia, com a retomada da economia.
Não o vi fazendo greve quando a Dona Doidona demolida a economia brasileira à custa de pedaladas fiscais…
Não fez greve de fome. Mas encheu os assessores da Dilma de desaforos
Era proeza interessante se tivesse morrido, pois era menos um petralha a sacanear o Brasil.
É um ponto de vista interessante o teu
“O frei é da ordem franciscana, mesma ordem do PapaFrancisco”. Quá, quá, quá…
É o diz o papel