No meio da enxurrada de informações divulgadas diariamente nos noticiários e nas redes sociais sobre a Operação Lava Jato, há dois comentários que passaram batidos e que merecem ser melhor explicados para os nossos leitores. Os comentários foram feitos pelos irmãos Joesley Batista e Wesley Batista, empresários e delatores da Lava Jato e donos da JBS. Ao ser preso, Joesley disse que estava pagando por ter denunciado pessoas poderosas. Wesley falou que o seu único erro tinha sido ter feito delação premiada.
Eles não falaram a verdade e devemos esclarecer os fatos. Tendo em conta que tudo que acontece na Lava Jato vai ser incorporado à história política do Brasil. Portanto. é papel do repórter não deixar nada sem dar as devidas explicações ao seu leitor. Lembramos que foi graças à delação premiada dos irmãos e dos seus executivos que o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez uma denúncia contra o presidente do Brasil, Michel Temer (PMDB – SP) e pediu a investigação de outros 102 parlamentares e ministros do governo federal. Temer só não foi afastado por 180 dias do governo porque conseguiu manobrar os deputados federais, que barraram a denúncia contra ele. Antes de sair do cargo, na semana passada, Janot fez uma nova denúncia contra Temer. Em troca da delação, os irmãos conseguiram benefícios fantásticos, como o perdão para todos os crimes que tinham praticado e a autorização para morar nos Estados Unidos.
A verdade é que os irmãos não foram presos por terem denunciado o grupo político do Temer. Eles foram presos porque mentiram para a Lava Jato. Janot pediu a prisão de Joesley (e conseguiu), porque ele mentiu e ocultou e ocultau provas de crimes na delação feita à Lava Jato. Tudo foi documentado em um áudio gravado, que foi parar nas mãos dos procuradores da República – disponível na internet. E Wesley foi preso porque, dois dias antes da delação premiada, ele especulou na Bolsa de Valores com as ações da JBS. E também comprou um volume considerável de dólares. A delação fez disparar o preço do dólar e baixou o preço das ações da JBS. Ele cometeu crime financeiro.
Aqui, eu quero refletir com os meus colegas repórteres velhos e fazer um alerta para os novatos na reportagem. Por que é importante que se contextualize esse tipo de notícia que passa batido? O motivo é que os acontecimentos do momento estão reescrevendo a história política do país. E os livros que serão escritos vão se abastecer, além de documentos, dos conteúdos dos noticiários e dos comentários das redes sociais. Como autor de livros-reportagem, tipo “Brasiguaios: Homens sem Pátria”, sei que a gente procura nos documentos a voz oficial sobre o que aconteceu e, nos conteúdos dos noticiários, como foi visto pela população o acontecimento. Na maneira como os dois empresários comentaram as suas prisões, eles não estavam falando para a geração presente, que recebe uma enxurrada de informações sobre o dia a dia da Lava Jato. Eles estavam falando para as gerações futuras, porque esse tipo de comentário tem que ser considerado pelo pesquisador.
Mais uma coisa. Os irmãos Batista cometeram um erro estratégico mortal na negociação com Janot. Há mais de duas décadas, eles tratam com parlamentares e técnicos do governo federal corruptos – pessoas que usavam os seus cargos para defender os interesses da JBS. Eles trataram Janot como se fosse mais corruptos. E um ingênuo no exercício do cargo de ex-procurador-geral da República. Como se diz no jargão das redações: os irmãos morreram pelas próprias mãos.