Precisamos remexer nos escombros do Polo Naval de Rio Grande na busca de informações para explicar aos nossos leitores se o milionário investimento tinha possibilidades técnicas de dar certo ou se foi apenas uma operação para acobertar o desvio de dinheiro público.
A explicação oficial do desmonte deixa muito a desejar. Ela diz que foi efeito colateral das investigações da força-tarefa da Operação Lava Jato, que apura o desvio bilionário de dinheiro do principal cliente do Polo Naval, a Petrobras. Se fosse só isso, depois de resolvido o problema do desvio de dinheiro as empresas navais voltariam a operar. Mas isso não vai acontecer. Por quê? Por dois motivos básicos: as empresas têm um histórico de entregas de equipamentos com atraso para a Petrobras, o que causou prejuízos de milhões. E também porque as operações de saída e atracagem de cascos de plataformas, devido a vários problemas, são as mais caras do mundo. Esses dois problemas, fundamentais para a continuação das operações do Polo Naval, já existiam antes de acontecer a Operação Lava Jato. Há uma vasta documentação disponível nos noticiários sobre o assunto. Aqui chamo a atenção dos meus colegas repórteres, especialmente aos novatos na profissão. Por ser uma estatal e ter ações na bolsa de valores, a Petrobras é fiscalizada por empresas de auditória externa, internamente por auditores e pelos órgãos de fiscalização do seu maior acionista, que é o governo federal. Como todos esses auditores e fiscais deixaram a empresa investir em Rio Grande? Arrastando para lá 20 mil trabalhadores de vários cantos do país. E fazendo com que pequenos investidores locais colocassem suas economias na ampliação da rede de prestação de serviços. A consequência é que Rio Grande e cidades dos arredores estão povoadas por centenas de desempregados, e há portas fechadas de casas comerciais por todos os cantos.
Até agora, o foco das investigações da força-tarefa da Lava Jato é seguir o dinheiro que foi desviado. De tudo o que já veio a público das investigações da operação, os fiscais e auditores, que deveriam ter fiscalizado o que acontecia, ficaram de fora. Nas dezenas de horas que escutei, vi e li das delações premiadas, dos ex-funcionários de empreiteiras, não lembro de algum deles ter mencionado ter tido problemas com auditores e fiscais. É como se eles não existissem. A história do Polo Naval de Rio Grande poderia ser outra, se as empresas de auditória e os auditores internos da Petrobras tivessem feito o seu trabalho.