Por conta do aumento da violência o cotidiano do novo ministro da Justiça será semelhante ao de um delegado

Nos últimos meses, não apenas as palavras “segurança” e “pública” foram incorporadas ao nome do Ministério da Justiça. Aconteceu de fato uma mudança no cotidiano do ocupante da cadeira. Hoje, seu trabalho se parece mais com a rotina de um delegado de polícia do que a de um ministro do Estado que conduz as políticas governamentais no vasto leque de assuntos da área da Justiça, entre elas: questão indígena, consumidor, imigração e anistia política.
O novo ministro, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), assume o cargo com restrições de mencionar qualquer comentário que seja entendido como contrário à Operação Lava Jato. Se falar mal, além de perder o cargo, ficará dando explicações para a mídia por muitos meses.
A Lava Jato não é o maior problema do ministro. É o crescimento da violência nas cidades brasileiras, inclusive nas pequenas, o que pode ser creditado à ação das facções criminosas. Nos últimos anos, essas organizações atingiram um grau de eficiência jamais visto. As duas maiores, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, consolidaram suas posições nas fronteiras brasileiras com Paraguai, Bolívia, Peru e Colômbia.
Como se fosse empresas, o PCC e o CV estão verticalizando suas atividades, tentando acrescentar o controle das fontes da produção de cocaína e maconha. Disputando os mesmos mercados e territórios, era inevitável que entrassem em conflito. Os últimos confrontos entre as duas, no início do ano, empilharam mais de 90 corpos, muitos deles decapitados, nos presídios de Manaus (AM) e Boa Vista (RR).
No norte do Brasil, o CV é aliado com Família do Norte (FDN). O PCC tem como sócios várias quadrilhas na fronteira do Paraguai. Aliás, de norte a sul do Brasil, nascem e se consolidam novas facções criminosas, com um alto grau de eficiência na administração dos seus negócios. Entre estas, estão a dos Manos e a dos Bala na Cara, ambas de Porto Alegre (RS).
Enquanto as facções crescem e se alastram pelas fronteiras, em vários Estados, inclusive no Rio Grande do Sul, aumenta o caos no sistema penitenciário, hoje o maior fornecedor de soldados para as organizações criminosas. Soma-se a isso a grande insatisfação existente nas policiais militares de todo o país. Recentemente aconteceu a greve dos PMs capixabas, em Vitória, no Espírito Santo. Atualmente, os PMs de Pernambuco estão ameaçando parar.
Este é o contexto. Totalmente diferente do que era o do Ministério da Justiça até bem pouco tempo atrás. Essa confusão é o cotidiano das delegacias de polícia – seja federais ou estaduais. Ali as coisas acontecem com uma incrível velocidade. Seria bom o novo ministro ter uma longa conversa com um delegado, principalmente com um que trabalha nas fronteiras do Brasil, para pegar algumas “dicas” de como administrar o caos. Fica a sugestão. Como um velho repórter estradeiro conheço bem a realidade das delegacias..

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