O PSDB está na maior saia justa. Enfurecido pela derrota na eleição presidencial de 2014, entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a cassação, por abuso do poder econômico, entre outros crimes eleitorais, da chapa reeleita: Dilma Rousseff (PT – RS) e o seu vice de então, Michel Temer (PMDB – SP).
A ação do PSDB no TSE foi apelidada pelo grupo politico que apoiava Dilma como “Terceiro Turno”. Argumentava que o então candidato tucano derrotado, o senador Aécio Neves, havia perdido as eleições nas urnas e, agora, queria ganhar no tapetão – na Justiça. Além da ação, os tucanos também pediram uma auditoria na votação, sob alegação de desconfiança no processo eletrônico. No final, concluíram que não houve fraude.
Uma sucessão de fatos políticos fez a ação contra a chapa ficar fora dos holofotes da mídia. A administração da então presidente Dilma começava a naufragar em problemas econômicos. E o grupo político do seu então vice-presidente, Temer, iniciava uma conspiração para derrubar a presidente. Os problemas econômicos do governo foram turbinados pelas “pautas bomba” do então presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB- SP), hoje cassado e cumprindo prisão preventiva em Curitiba (PR), por ser suspeito de estar envolvido em crimes de corrupção que foram apurados pela força-tarefa da Operação Lava Jato. Antes de ser cassado, Cunha instaurou o processo de impeachment de Dilma.
O PSDB participava de maneira discreta do processo de conspiração do grupo político de Temer. Em parte, porque existia um forte debate interno no partido, onde líderes históricos da legenda se posicionavam contra o processo de impeachment. Foram vencidos, e o partido entrou de cabeça na articulação política que resultou na cassação da presidente e na subida ao poder de Temer. Hoje, o partido é da base política do governo e também ocupa cargos na administração.
Enquanto tudo isso acontecia, o processo do PSDB contra a chapa Dilma – Temer continuava tramitando no TSE. A tese de defesa de Temer é que ele não participou da montagem da sustentação econômica da campanha. Nas suas alegações finais no processo, o PSDB fortaleceu a tese do atual presidente. O fato é que, na próxima semana, o TSE vai começar a decidir o destino da chapa Dilma – Temer. Pelo cenário que está se esboçando, a tendência é que o processo seja empurrado com a barriga até o final do mandato em 2018.
Independentemente do resultado do processo, o PSDB criou um constrangimento para o governo do qual faz parte. Imagine a imensa dificuldade que um analista político estrangeiro tem para entender essa história. Agora, nós, repórteres, temos a obrigação de esmiuçar todo o episódio e explicá-lo aos nossos leitores. Lembro, principalmente aos jovens repórteres, que as disputas pelo poder entre os grupos políticos – que podem pertencer ao mesmo partido ou não – são travadas como se fossem batalhas. Para entender o que aconteceu, eu conversei demoradamente com fundadores do PSDB, do PT e do PMDB. E o que aconteceu é bem definido por um provérbio que há muitos anos circula pelo mundo, entre parlamentares e diplomatas, e serve como uma espécie de bússola para fazer as alianças políticas. Ele diz o seguinte: “O inimigo do meu inimigo é meu amigo”.
Esta é a situação. Aécio Neves e seus apoiadores no PSDB são inimigos mortais do grupo político do PT ao qual pertence o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, mentor e criador da candidatura de Dilma. O grupo político de Temer no PMDB sempre travou uma luta acirrada contra o PT por prestígio e cargos no governo. Assim que o governo do PT começou a agonizar, o grupo de Temer buscou uma aliança com o PSDB. O sucesso da aliança tornou Temer o presidente do Brasil. E, aos tucanos, trouxe a incumbência de explicar para a história o processo que tramita no TSE.