Pelas suas manifestações públicas, o presidente da República eleito, Jair Bolsonaro (PSL – RJ), não está preocupado com a ferrenha oposição que terá que enfrentar dos partidos de esquerda, principalmente do PT, porque sabe que ela é ideológica. A preocupação dele é com os parlamentares que o apoiam. Com mais de duas décadas de parlamentar na Câmara Federal, ele sabe que o apoio tem um preço. Ele não é por patriotismo, é por dinheiro e cargos. Desde os governos militares (1964 a 1985) e até o atual, tem sido assim. Aliás, isso não é exclusividade do Brasil.
Mas diferentemente de todos os outros presidentes da República brasileiros, Bolsonaro tem uma carta na manga para negociar: o juiz Sérgio Moro, o homem que consolidou a Operação Lava Jato, que se tornou um símbolo do combate à corrupção ao redor do mundo. Por mais relevantes que sejam os serviços prestados pelo juiz como ministro da Justiça e da Segurança Pública, nada se compara com a força que o seu currículo tem para ser usado pelo presidente eleito para manter os parlamentares “razoáveis” durante as negociações. Aliás, ele já deu um recado: “O Moro pescava de varinha, agora vai pescar com rede de arrastão de 500 metros”.
Aqui entra o nosso trabalho de repórter, que é o de ler nas entrelinhas do que vem sendo escrito e publicado. Referente ao juiz Moro, a grande preocupação das redações do Brasil é focar nas matérias o que ele irá fazer no ministério. E qual será a sua reação se acontecer algum caso de corrupção com um colega da equipe do governo. Esse é o lado visível da equação. Vamos para o lado invisível. As chances de o governo dar certo aumentam sensivelmente se tiver o apoio da Câmara Federal e do Senado para aprovar projetos estratégicos, como a reforma da Previdência Social e a venda de empresas estatais. Moro conhece essa realidade, porque ela está nas páginas dos processos da Lava Jato que passaram pela sua mesa, quando exercia o cargo de juiz federal, em Curitiba (PR). A pergunta que temos de fazer ao juiz é a qual é a sua opinião de ver o seu nome e o seu currículo sendo usados nesse tipo de negociação?
A inclusão de Sérgio Moro na equipe foi uma estratégia genial de quem a pensou. Até agora, o que soubemos é que o emissário do convite foi o economista Paulo Guedes, que é o mentor econômico do presidente eleito. Mas não sabemos de quem é a ideia. Isso vai aparecer com o tempo. No momento, o que é certo é que, até o governo de Bolsonaro se consolidar no poder, a figura de Sérgio Moro é o grande trunfo do grupo político do presidente eleito, composto por militares da reserva e civis. Seja um sucesso ou um fracasso o governo Bolsonaro, o certo é que o juiz vai depender de conseguir manter intacto o seu currículo para continuar sendo referencial no combate à corrupção no Brasil. Se conseguir isso, ele tem bala na agulha para permanecer na vida pública. Seja lá qual o cargo que pretender exercer. Nos próximos seis meses, no máximo em um ano, os novos grupos políticos que entraram na disputa pelo poder nas últimas eleições deverão estar mais visíveis para que possamos entender quem é quem e os interesses que defendem. O que já sabemos desses novos grupos políticos é pouco e impreciso. Até porque há entre eles muita gente que se reinventou e voltou para a política. Usando um linguajar novo e defendendo novas ideias. Como repórteres, nós temos que alertar aos nossos leitores que tudo que está acontecendo não é definitivo. As coisas vão se organizar durante o ano. Até lá vai ser um festival de bravatas. Bolsonaro é um mestre da bravata.