Já se somam cinco anos e alguns meses desde o desaparecimento da professora Cláudia Hartleben, do curso de Biotecnologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Tempo suficiente para baixar a poeira e o investigador poder olhar, examinar e pensar com tranquilidade sobre os vestígios deixados pelo assassino na cena do crime. Como dizem os repórteres que fazem a cobertura policial: “É a hora da onça beber água”. As técnicas de investigação policial e jornalística evoluem todos os dias. Por exemplo, até o final do ano está prevista a inauguração, em Porto Alegre, de um moderno prédio que abrigará de maneira correta – climatização controlada, ambiente esterilizado e outras tecnologias – as provas de crimes. Será chamado de Centro Regional de Excelência em Perícias Criminais (CREPEC). Na edição do jornal Zero Hora de ontem (02/10) há uma reportagem com o título “Caixa-forte para vestígios de crimes”, da repórter Adriana Irion, anunciando e detalhando como será o CREPEC.
O caso da professora Cláudia é um tapa na cara da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. E um incentivo à violência contra as mulheres. Houve dois indiciados pelo inquérito policial e denunciados pelo Ministério Público como suspeitos pelo sumiço da professora. Mas a Justiça não aceitou a denúncia por falta de provas e o caso foi arquivado. Oficialmente, a professora está desaparecida. Mas a possibilidade de que esteja morta cresce todos os dias. O que vou escrever a seguir não é opinião. São fatos que vou relatar. O último minuto conhecido de Cláudia antes dela sumir é muito rico em vestígios que podem indicar um caminho seguro para o investigador descobrir o que aconteceu. Ninguém some no ar. Ainda mais nos dias de hoje, em que existem câmeras espalhadas por todos os cantos, celulares que podem ter o seu roteiro traçado mesmo desligados, rastreadores nos automóveis e outras parafernálias eletrônicas. Conversei demoradamente com um perito que conheci quando trabalhei em redação (1979 a 2014). Ele me fez uma pergunta para a qual não encontrei resposta em tudo que se publicou sobre o assunto.
Ele me perguntou se houve rastreamento do fluxo de dinheiro entre as pessoas do círculo pessoal e profissional de Cláudia. Respondi que não sabia e não tinha como saber. Perguntei o motivo dessa investigação, já que não houve pedido de resgate ou coisa parecida. Ele me respondeu que não era esse o motivo. Mas para verificar se alguém comprou ou pagou por algum serviço fora da sua rotina, como, por exemplo, um produto químico que acelere a decomposição de cadáveres ou o aluguel de algum veículo. Lembrei-me que quando trabalhei no caso da Boate Kiss – o incêndio criminoso que, em 2013, em Santa Maria, matou 242 pessoas e feriu 680 – os investigadores fizeram uma varredura no comércio local para descobrir que tipo de material os proprietários da boate tinham comprado para forrar as paredes e que exalou a fumaça mortal. O perito com quem falei me chamou a atenção para o seguinte: “Agora que a poeira baixou e já se passou um tempo é bom descobrir quem perdeu e quem ganhou com o desaparecimento da professora”.
Por todas as informações até agora existentes sobre o caso, os policiais e os peritos criminais com quem falei acreditam que a solução da “bronca” (caso) está no cotidiano da professora. Duvidam que tenha sido coisa de criminoso profissional. Um velho delegado observou o seguinte: “Quando é coisa de profissional ele segue um roteiro para praticar o crime. Os amadores geralmente fazem um plano e na hora improvisam. Se tudo der certo, eles praticam um crime difícil de resolver”. Pelo que vi até hoje na minha lida de repórter esse tipo de crime só se resolve por um golpe de sorte, tipo alguém, de maneira acidental, encontrar o corpo. Já trabalhei em vários casos. No Rio Grande do Sul, a professora Cláudia não é a única desaparecida por quem os parentes sofrem por não saber o destino. Em 2011, Cintia Luana Ribeiro, 14 anos, grávida de sete meses, sumiu em Três Passos. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, em 2005, a comerciante Sirlene de Freitas Moraes, 42 anos, e seu filho Gabriel, sete anos, desapareceram. Os três casos, Luana, Sirlene e Cláudia, têm em comum o fato de que a polícia acredita saber quem é o culpado. Mas não tem os corpos para provar. Dentro desse contexto, a inauguração do CREPEC é importante, porque preservará provas.
Em Pelotas, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher em situação de violência (CRAM) foi batizado com o nome da professora Cláudia. Uma importante lembrança que o crime não será esquecido. É preciso que nós repórteres continuemos batendo na porta da Polícia Civil lembrando que o crime ainda não foi esclarecido. O Rio Grande do Sul ostenta uma estatística gorda de violência contra mulheres. Crimes como os de Luana, Sirlene e Cláudia são um incentivo aos criminosos. Isso é um fato, colegas.
Com certeza foi feminicidio e com certeza não foi o ex ….
Estou organizando um livro sobre o caso da professora Cláudia. Ela faz parte de um contingente de mulheres que foram mortas e a polícia identificou o suspeito e não consegue prendê-los por falta de provas. Principalmente o fato de não existir um corpo. Não existe crime perfeito. Sempre existe uma ponta solta que leva ao culpado. Muito pela leitura. Meu celular particular: 51.999.69.07.46
É um dos suspeitos. Mas não é o único
Ele é um dos suspeitos. Mas não é o único
+As últimas investigações apontam em outra direção