Ao se refugiar no Paraguai, o doleiro Dario Messer, 49 anos, representa uma ameaça maior à segurança pública brasileira do que os mais sanguinários bandidos brasileiros que vivem lá, como os líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e os do Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. O PCC e o CV vivem lá porque pagam pedágio para as autoridades policiais que protegem as suas operações nas terras paraguaias. Dependendo da pressão do Brasil e dos Estados Unidos, vez ou outra, um dos líderes é preso e extraditado. As ligações de Messer com as autoridades paraguaias são em nível diferente. Ele financia os políticos, como o atual presidente da República, Horácio Carpes. Homens como Carpes usam a política no Paraguai para legalizar as suas atividades ilegais, no caso dele a fabricação de cigarros que são contrabandeados para o Brasil, dando um prejuízo bilionário ao fisco nacional e causando um enorme estrago na saúde dos brasileiros, devido à presença de produtos químicos no processo de fabricação. O contrabando de cigarros para o Brasil movimenta mais dinheiro do que o tráfico de drogas. No grupo político do atual presidente do Paraguai, existem parlamentares ligados ao contrabando de soja, peças de veículos e remédios falsificados e outros crimes.
Aqui é o seguinte. Vamos deixar de lado os grandes líderes da atualidade do CV e do PCC que têm suas atividades no Paraguai, como Marcelo Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, Jarvis Gimenes Pavão e Murillo Rodrigues Nogueira, todos eles presos. Mas que comandam os seus negócios de dentro da cadeia. Vamos voltar no tempo. Nos anos 90, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, 51 anos, foragido da Justiça do Rio de Janeiro, instalava-se em Capitán Bado, uma pequena cidade paraguaia separada por uma rua do município de Coronel Sapucaia, no Oeste do Mato Grosso do Sul. Beira-Mar foi viver lá convidado por João Morel, brasileiro que vivia com sua família no Paraguai, enviando maconha e cocaína para o Brasil. Todos sabiam das atividades do Morel, eu estive lá várias vezes fazendo reportagem. Mas ninguém metia a mão com ele, porque era protegido por policiais corrompidos da região. Beira-Mar foi pioneiro na região. Ele montou a primeira base no Paraguai de uma facção brasileira, no caso o CV. Fez uma aliança com os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com quem trocava remédios e munições por cocaína. Mandou matar toda a família Morel e ficou de dono do campinho. Foi ferido e preso na Colômbia e hoje cumpre uma pena de 150 anos em um presídio federal, em Rondônia.
Messer é foragido da Operação Cambio, Desligo, que é ramo da Lava Jato, no Rio de Janeiro. Ele também é um pioneiro no Paraguai. Só que ele não precisou corromper o guarda da esquina para encobrir as suas atividades. Teve sorte de conhecer Carpes quando ele era um simples dono de uma fabrica de cigarros falsificados na fronteira com o Brasil. Com o apoio da família de Messer, Carpes expandiu as sua atividades, hoje é um grande fabricante de cigarros e chegou à presidência do país. Aqui é o seguinte. Os doleiros no Paraguai sempre foram um esteio das atividades ilegais no pais, principalmente em Ciudad Del Este, na Tríplice Fronteira com o Brasil (Foz do Iguaçu, PR) e a Argentina (Puerto Iguazú). Mas. por conta do ataque terrorista às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, em 2001, os doleiros foram praticamente varridos do Paraguai pelos agentes da Central Intelligence Agency, a famosa CIA. Os americanos acusaram os doleiros de facilitar o envio de dinheiro da região para terroristas ao redor do mundo. Eu estive lá, fiz várias matérias sobre o assunto. Até então, o Paraguai era uma terra de grandes lucros para os doleiros. Para sobreviver à pressão americana, eles diversificaram suas atividades. É dentro dessa lógica que se entende o investimento que fizeram nas tabacaleiras, como são conhecidas as fábricas de cigarros no Paraguai. Aqui cabe uma reflexão que gostaria de fazer com os meus colegas repórteres calejados e com os novatos. Muito embora Beira-Mar e os atuais líderes do CV e do PCC tenham sido presos no Paraguai, as organizações criminosas que montaram seguem funcionando a todo vapor. Inclusive expandindo os seus negócios para a Colômbia, a Bolívia e o Peru. Uma boa parcela da população paraguaia é hoje refém do PCC e do CV. A pergunta que se faz é a seguinte: o sistema de financiamento montado pelo doleiro Messer para os políticos paraguaios seguirá funcionando após a sua prisão? Há interesse do governo do Brasil em pressionar o do Paraguai pela captura de Messer, descrito pelo seu colega Alberto Youssef, como “o doleiro dos doleiros”? Youssef cumpre prisão domiciliar, depois de tornar-se delator na Lava Jato. Se Messer for preso e for para a delação premiada, restará tijolo sobre tijolo no governo do Brasil?