Há uma cena que se repete dezenas de vezes nos dias úteis da semana, na Região Metropolitana de Porto Alegre e em várias outras cidades do Brasil, com alto grau de perigo para a população e que pode ser descrita como tragédia anunciada. São as equipes de vigilantes fortemente armados dos carros-fortes, abastecendo de dinheiro os caixas eletrônicos ou recolhendo valores do comércio em locais densamente frequentados por centenas de pessoas. Em várias ocasiões, os frequentadores ficaram presos no fogo cruzado entre os seguranças e os bandidos. Lembro duas vezes, na Região Metropolitana de Porto Alegre: uma delas aconteceu na hora em que o carro-forte recolhia dinheiro em um supermercado de Novo Hamburgo, eu estava de plantão na redação do jornal. E de outra na Avenida Assis Brasil, Zona Norte da Capital, quando uma jovem foi atingida por um tiro mortal na cabeça, durante uma tentativa de assalto a um carro-forte que abastecia de dinheiro os caixas eletrônicos. Em menor volume, essa situação acontece nas estradas. Eu lembro que de ter feito uma reportagem sobre um ataque da quadrilha do Seco, José Carlos dos Santos ,em uma estrada entre Santa Cruz do Sul e Candelária, a um carro-forte, que virou um queijo suíço, de tanto tiro que levou. Na ocasião, vários motoristas que passavam pelo local ficaram no meio do fogo cruzado dos quadrilheiros e dos seguranças. Uma mulher que estava parada no acostamento teve o carro roubado pelos bandidos para ser usado na fuga. O Seco foi o maior assaltante de carro-forte do Brasil e hoje cumpre uma pena de 125 anos de cadeia na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueada (PASC), na Região Metropolitana de Porto Alegre.
O que descrevi é o problema. Ele começa na década de 90, quando os caixas eletrônicos se popularizam no Brasil. Eles trazem grandes lucros para as empresas de transporte de valores, que, até então, usavam as suas frotas de carros-fortes para o transporte de valores entre as agências bancárias. No início, os caixas eletrônicos se localizavam apenas nas agências dos bancos. Logo começaram a ser instalados, seguindo uma estratégia comercial, em locais de grande fluxo de pessoas. E, com isso, começou a se popularizar a seguinte cena: o carro-forte estacionado, um vigilante fica na direção com o motor ligado, outros quatro armados até os dentes com armas de grosso calibre caminham em direção ao caixa a ser abastecido. E ali, enquanto famílias, muitas com seus filhos, circulam fazendo suas compras, um dos vigilantes abastece o caixa, enquanto os outros ficam em posições estratégicas com as armas, em posição de tiro, e os olhos, atentos a tudo que se mexe ao seu redor. Essa situação é como entrar em um paiol de pólvora e acender um pau de fósforo. Aqui quero refletir com os meus colegas repórteres velhos e com os novatos. Vasculhei as reportagens que publicamos nos últimos 10 anos sobre o assunto. Aqui e ali, encontrei algum parlamentar tentando regularizar o assunto. Inclusive a Prefeitura de São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, tentou estabelecer o horário de circulação dos carros-fortes.
Qual é o nosso papel de repórter nessa situação? Esperar que algum deputado (estadual ou federal), senador, vereador ou prefeito tome a iniciativa e coloque as empresas de valores nos eixos? Se for esse, é melhor esperarmos deitados para não cansarmos – usando o jargão das redações, referindo-se a uma situação que nunca irá acontecer. Esse tipo de situação é das muitas em que, se as redações não começarem a gritar, não irá acontecer nada, até que ocorra uma grande tragédia. Já vi isso acontecer. O incêndio e a morte de 242 jovens na Boate Kiss, em 2013, em Santa Maria (RS), está aí para nos lembrar. Todos nós, inclusive os jornalistas, sabíamos que as casas noturnas eram verdadeiras ratoeiras, devido à precária fiscalização das prefeituras e a uma legislação de segurança cheia de furos e “jeitinhos”. Lembro o seguinte: os vigilantes que estão protegendo o abastecimento dos caixas eletrônicos ou o recolhimento de valores são homens treinados para defender o dinheiro. Não a população que está ao seu redor. Em um eventual tiroteio com bandidos, os vigilantes não têm como ser cirúrgicos nos seus disparos. Nessa hora, os frequentadores desses locais são escudos humanos, tanto para os bandidos quanto para os vigilantes. Esse assunto é uma boa pauta para os repórteres novatos que estão em busca de um lugar ao sol.
Por coincidência, hoje fui no banco e estava um desses blindados estacionado em frente ao banco com os guardas armados em torno e na entrada do banco. Ao sair fiquei esperando a minha esposa e porque não tinha onde estacionar ela deu uma longa volta até retornar ao banco. Nesses , ns 7 minutos, fiquei olhando a rua para ver se ela chegava e os guardas olhando para mim. Fiquei pensando se ocorresse alguma assalto naquele momento o que eles pensariam que eu estava fazendo ali ao lado e com o celular enviando mensagens ? Foi exatamente essa situação que poderia ocorrer e eu poderia ser um alvo pelo fato de simplesmente estar na hora errada no lugar errado… eu ou eles ? e todos que ali transitavam na calçada bem movimentada por sinal.
Tu tem razão. Qualquer rolo atiram primeiro para perguntar depois. A missão deles é proteger o dinheiro. O que acontece nos caixas eletrônicos dentro dos supermercados é um absurdo.
Barbaridade! Que cenário tenebroso!
E é bem possível de acontecer a qualquer um de nós.
Meu amigo professor Meira a situação é muito perigosa