É de pensar. Por qual motivo o presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP), assinou o aumento de impostos que elevarão os preços dos combustíveis em R$ 0,41, justamente agora quando é travada uma luta para salvar o seu pescoço? A lógica seria continuar a distribuir agrados aos parlamentares e investir na melhora da sua imagem perante a opinião pública, por quem é considerado um dos presidentes mais impopulares dos últimos tempos.
A resposta a essa pergunta precisa ser procurada nos bastidores que resultaram no aumento dos impostos. A resposta não está na explicação econômica – ajudar a fechar o déficit do orçamento – que está sendo vendida para os nossos leitores. A explicação se encontra nas regiões sombreadas da complicada equação política vivida pelo governo federal, que é formado por um competente grupo político de calejados conspiradores que demonstraram a sua competência na articulação do impeachment de Dilma Rousseff (PT – RS), que foi substituída pelo seu vice, Temer.
Vamos à equação política. Temer caminha no fio da navalha. Ele pode perder o cargo nos primeiros dias do mês, quando os parlamentares deverão votar, no plenário da Câmara Federal, se autorizam ou não a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o presidente de corrupção passiva e obstrução à Justiça. Se autorizarem, Temer é afastado por 180 dias do cargo (assume o presidente da Câmara Federal), e a denúncia será julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Há duas semanas, a denúncia foi rejeitada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara, graças aos agrados feito por Temer aos deputados (distribuição de emendas parlamentares) e às manobras regimentais (a colocação, na comissão, de deputados favoráveis ao presidente). O que irá decidir é o plenário. As acusações contra ele foram feitas pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS e delator da Operação Lava Jato.
Essa é a complicada conjuntura política do governo Temer. Aparentemente, ele aprofundou a crise ao assinar os aumentos dos impostos dos combustíveis. Aqui, chamo a atenção dos meus colegas repórteres, principalmente dos novatos. Na verdade, o grupo político de Temer fez uma manobra política altamente sofisticada. Vejamos: até acontecer o aumento dos combustíveis, a imagem do presidente na opinião pública era vinculada à do ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB – PR), seu assessor, correndo pelas ruas de São Paulo com uma mala, levando R$ 500 mil de propina paga pela JBS. E mais os áudios das gravações feitas da conversa do presidente com o empresário Joesley Batista nos noticiários e redes sociais.
O impacto do aumento dos combustíveis jogou para segundo plano, nos noticiários e nas redes sociais, a associação do Temer à delação de Joesley Batista. A imagem agora é de um presidente durão que segue as regras do mercado e, com isso, contribui para que a economia do país volte aos trilhos, o que irá beneficiar os 14 milhões de desempregados. Eu conheço o cotidiano das redações. Não tem como escapar de colocar o impacto do aumento dos combustíveis na primeira linha da notícia. E também não tem como não divulgar a versão dada por Temer ao ter assinado os aumentos. Aqui, um detalhe. O construtor dessa medida é o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Caso essa estratégia não dê certo, e ela se volte contra Temer, é bom lembrar que Meirelles é um dos que têm a pretensão de ocupar o cargo do presidente. E, caso o plenário da Câmara aceite a denúncia da Câmara e o STF decida contra Temer, irá acontecer uma eleição indireta para presidente da República. Meirelles é apontado com um dos fortes candidatos ao cargo. É do jogo.
É um golpe dentro do golpe?