Rotina do avião de Teori é o caminho para o repórter fugir das especulações

No jargão dos repórteres que trabalham com investigação é classificado como “pesadelo” o caso da morte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), relator da Operação Lava-Jato, Teori Zavascki. Vejamos: a fila de suspeitos dá a volta em um quarteirão, todos engravatados, em um ambiente contaminado pela paixão política, onde impressiona o volume de informações duvidosas circulando nas redes sociais e nos noticiários. Soma-se a isso o enlouquecimento dos editores das redações trazido pela pressão dos concorrentes. O famoso bafo na nuca.
Este é o quadro. Nos 40 anos que faço matéria investigativa trabalhei diversas vezes em situações consideradas “pesadelo”. Aprendi alguns caminhos que vou compartilhar com os colegas. O primeiro mandamento: aumente grau de desconfiança com as informações vindas das “fontes confiáveis”, afinal elas também estão contaminadas pelo elevado volume de dados circulando.
Normalmente, o repórter começa a trabalhar apostando em mais de uma linha de investigação. Mas, neste tipo de caso o “bafo da nuca”, não pode se permitir a tal luxo. O caminho escolhido pelo repórter tem de garantir duas coisas: uma produção de novidades de curto prazo e um bom grau de confiabilidade da notícia que está publicando.
Dentro deste contexto, um dos caminhos é focar em aspectos já definidos na investigação, que ao seu entendimento seja fundamental na apuração dos fatos. No caso do ministro, um dos atores da cena do desastre é o avião – Prefixo: PR- SOM, modelo Hawker Beechft King Air C90. A linha de investigação aqui não é o resultado da perícia, que não pode ser esquecido, mas deve demorar. E sim a rotina da aeronave. Temos que tratar como se fosse uma pessoa. O que aconteceu com ela nos últimos 30 dias. Saber por onde e com quem a bordo andou. Quem são os mecânicos responsáveis pela sua manutenção e o pessoal da limpeza. Onde ela fica estacionada quando está fora de trabalho. Saber se o lugar tem segurança ou não. Dar uma olhada no histórico dos últimos abastecimentos de combustível – ficar atento a quebra de rotina.
Se o avião foi sabotado ou não, uma investigação na rotina da aeronave tem grandes chances de esclarecer o caso. A morte do ministro, e de mais quatro pessoas que estavam na aeronave, me lembrou um filme chamado Dossiê Pelicano, que trata do assassinato de juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos e dos candidatos que iriam substituí-los.
Segue o link para quem tiver o interesse de assisti-lo: https://www.youtube.com/watch?v=BrqugcBLttw.

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