A novidade perdeu as eleições para presidente dos Estados Unidos. Kamala Harris (democrata), 60 anos, foi derrotada pelo ex-presidente Donald Trump (republicano), 76, nas eleições que aconteceram na terça-feira (5) – a confirmação não oficial ocorreu na madrugada de quarta-feira (6). Contrariando toda a expectativa da imprensa mundial, a apuração não demorou semanas. A rápida contagem dos votos feita pelos estados facilitou a Associated Press, uma agência de notícias independente fundada em 1846, a fazer as contas e projetar o vencedor. Os resultados oficiais devem demorar mais alguns dias. Trump toma posse em janeiro. O que acontecerá agora? Vida que segue. Vamos falar sobre isso.
Antes vamos contextualizar a nossa conversa. O primeiro mandato de Trump na presidência dos Estados Unidos foi conquistado em 2016, quando derrotou Hillary Clinton (democrata), 76 anos. Tentou a reeleição em 2020, sendo derrotado por Joe Biden (democrata), 81 anos. Biden assumiu com a sua vice, Kamala Harris, prometendo que não iria concorrer à reeleição. Quebrou a promessa e foi confirmado como candidato democrata. Mas no primeiro debate contra Trump, em julho, na CNN, em Atlanta, sofreu um apagão mental e a partir de então foi pressionado pelas lideranças do seu partido a desistir da candidatura. Depois de resistir por semanas, Biden finalmente saiu da disputa e indicou a sua vice. Kamala entrou na campanha e conseguiu empatar nas pesquisas de intenção de votos com Trump, que até então liderava. Elegante, com um discurso enxuto e preciso, ela tornou-se uma candidata muito simpática. Tratei do assunto no post de terça-feira (5) Por ser a novidade, Kamala tem mais chance de ganhar as eleições que Trump. Acabou derrotada. O novo presidente ganhou prometendo tornar os Estados Unidos grande novamente, revertendo a globalização da economia que retirou as indústrias da América do Norte e da Europa e as levou para a Ásia. Como fará isso? Ele já tinha feito tal promessa no seu primeiro mandato. Esse e outros assuntos sobre as promessas do eleito vêm sendo esmiuçados com grande competência pela cobertura diária. Vou focar em uma das promessas, que tem a ver com o Brasil. Durante a campanha, Trump prometeu que, caso fosse eleito, iria libertar os 500 presos durante a invasão do Capitólio (Congresso), em 6 de janeiro de 2021. A invasão foi incentivada por Trump para impedir que o Congresso ratificasse a vitória de Biden. Terminou com sete mortes, dezenas de feridos e uma confusão enorme.
O trabalho de Trump na questão dos presos pode ser facilitado porque ele tem maioria projetada no Congresso e, de concreto, a maioria dos juízes conservadores da Suprema Corte. Ele também será pressionado pela extrema direita a cumprir essa promessa. A extrema direita americana vai ter muito poder no governo Trump porque é uma das mais importantes sustentações políticas do presidente eleito. Adicione-se a essa importância a estrela máxima atualmente dos extremistas, o bilionário Elon Musk, 53 anos, dono do X, ex-Twitter, a quem Trump prometeu um cargo. Não interessa como ele vai resolver essa questão. O simples fato do presidente dos Estados Unidos pretender libertar os que invadiram o Capitólio deverá repercutir muito no Brasil, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 69 anos, e seus seguidores na Câmara e no Senado estão tentando enfiar garganta abaixo dos brasileiros o Projeto de Lei 2858/22, o chamado PL da Anistia, que tem a intenção de anistiar as 1,2 mil pessoas que, em 8 de janeiro de 2023, invadiram e quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Congresso Nacional, na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF). Essas pessoas, seus apoiadores financeiros e os responsáveis intelectuais pela organização da tentativa de golpe tinham como objetivo espalhar o caos e, com isso, forçar o governo federal a baixar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A GLO seria cumprida pelas Forças Armadas, onde estavam alojados os militares bolsonaristas que trariam de volta ao cargo o ex-presidente Bolsonaro, que havia perdido a reeleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos. O PL da Anistia está repousando em uma gaveta da comissão criada para estudar o caso pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), 55 anos. Assim que Trump mexer na história dos condenados de 6 de janeiro de 2021, o caso dos golpistas do 8 de janeiro de 2023 pula para as manchetes dos jornais no Brasil.
Há outra bronca. A extrema direita brasileira tentará conseguir o apoio de Trump para derrubar a sentença do Superior Tribunal Eleitoral (STE) que declarou Bolsonaro inelegível até 2030. Não vejo como o governo americano se envolverá nessa história. Porém, Musk pode se interessar, porque já esteve envolvido em uma discussão com o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que proibiu o funcionamento do X no Brasil até que as leis que regulamentam a atuação de empresas estrangeiras no Brasil fossem cumpridas. Musk tentou resistir. No fim, acabou cumprindo a lei. Agora, aqui tem uma coisa. Se Trump colocar Musk em um cargo, ele perde a sua autonomia de xingar quem lhe interessar e de dizer as asneiras que costuma falar. Por quê? Simples. Tendo um cargo no governo, ele fala pelos Estados Unidos. E tem mais um fato a pesar na balança. Entre os bolsonaristas existe uma competição acirrada entre os possíveis candidatos para ocupar o lugar de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2026, entre eles o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), 49 anos. Apesar de toda a festa da extrema direita brasileira com a eleição de Trump, na América do Sul os únicos interesses do novo governo americano são os imigrantes ilegais e os traficantes.