De maneira muito discreta, o grupo político do presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP) tem adotado o estilo do seu colega dos Estados Unidos, Donald Trump, no seu relacionamento com a imprensa. Trump só fala com os jornalistas que trabalham nas empresas que são simpáticas ao seu governo, dá suas opiniões usando o Twitter e montou uma fábrica de fake news (notícias falsas).
Temer assumiu de fato a maneira Trump de tratara imprensa no momento em que o núcleo do seu grupo politico conseguiu dominar os deputados federais, distribuindo emendas parlamentares – dinheiro para ser usado nas bases eleitorais – e fazendo manobras regimentais – substituindo aqueles que são contra o governo. A vitória na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara Federal, foi uma demonstração de sucesso dessa estratégia – foi rejeitada a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que acusa Temer de corrupção. A resposta definitiva será dada pelo plenário da Câmara.
Encaminhada a solução dos seus problemas com os deputados, agora Temer se concentra na opinião pública, que pode pressionar os parlamentares e rever o seu alinhamento com o governo. No mês passado, o presidente foi encurralado pelas denúncias feitas pelo empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS e delator da Lava Jato – vídeos e notícias estão disponíveis na internet. A partir dessa denúncia, Temer começou a falar com o país por meio de pronunciamentos nas redes sociais. E, nas escassas vezes em que conversou com jornalistas, foi muito sucinto.
O enfrentamento com a imprensa está sendo feito pela tropa de choque de Temer. Um dos expoentes desse enfrentamento é o deputado gaúcho, Darcísio Perondi (PMDB – RS). Perondi tem um discurso objetivo e agressivo em favor do governo e cita nomes de empresas de comunicação nas ocasiões em que dá entrevistas ao vivo. Conversei com pessoas que trabalham na periferia do núcleo duro do grupo político do presidente. Um deles falou que estão fazendo uma grande varredura nas gavetas do governo federal em busca “coisas que possam constranger” a mídia. O sonho de consumo do grupo do Temer é fazer sentarem-se as grandes empresas de comunicação no banco dos réus da Lava Jato.
Para nós, repórteres, a tropa de choque de Temer espalhou armadilhas – fake news. Eles sabem que somos acossados pela concorrência e que isso reduz a minutos o tempo que temos de verificar se uma informação é verdadeira e, se for, qual é a sua ligação com o contexto. E depois que as informações forem para o ar – sites, noticiários (rádios e TVs) e blogues – elas viram verdades. Para complicar mais a nossa situação, ainda temos a realidade de que as redações foram esvaziadas por cortes de pessoal. Portanto, a retaguarda para ajudar o repórter que está em campo é muito pequena. E, na maioria das vezes, ela não existe. Na semana passada, uma fonte minha me ligou de Brasília para contar “uma novidade que ainda não tinha saído nos noticiários”. E me pediu que contasse “a nova” aos meus amigos repórteres. Não questionei a fonte – não é uma boa prática o repórter bater boca com o informante. Mas fiz umas ligações e descobri que era fake news e coloquei a informação no lugar adequado: a lata de lixo.
Há uma realidade que nós, repórteres, temos que lembrar todos os dias: o grupo político de Temer é um dos mais eficientes na arte da sobrevivência que já apareceu em Brasília. E a motivação de luta deles é muito mais do que ficar no poder. Mas a certeza de que, se sair, perde o foro privilegiado – ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – e irá responder pelos seus crimes na 1ª Vara da Justiça Federal, que é mais ágil. Temer luta pelo seu pescoço.