A divulgação pelo site The Intercept Brasil de diálogos pelo aplicativo Telegram do então juiz federal Sérgio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol tem a marca do bom jornalismo. É a primeira luz que ilumina o que aconteceu e acontece entre as quatro paredes da Operação Lava Jato, que tornou-se um ícone de uma nova maneira da fazer política e negócios com o governo federal. Nascida em 17 de março de 2014, a Lava Jato tem como sede a 13ª Vara Criminal da Justiça Federal , em Curitiba (PR), onde Moro foi juiz até o início deste ano, quando abandonou a carreira para ser ministro da Justiça e Segurança Pública do governo do presidente da República Jair Bolsonaro. Até agora, muito embora se falasse pelos cantos das redações dos jornais, sobre a troca de informações e orientações entre Moro e Dallagnol, ainda não se tinha publicado nada. Apenas se deixava a entender nas entrelinhas dos conteúdos dos noticiários.
Antes de seguir conversando sobre o fato. A Constituição assegura ao site o direito de proteger a sua fonte. E a veracidade dos conteúdos publicados tem o carimbo do jornalista americano Glenn Greenwalt, um profissional que dispensa apresentações – há um vasto material na internet sobre a história dele. Seguindo a conversa sobre o fato. O conteúdo que foi divulgado mostra a existência do fluxo de informações entre Moro e Dallganol que não deveria existir, por comprometer a imparcialidade do processo penal. Ainda há muito mais material – texto, vídeos e fotos – para serem publicados. Há dois episódios que tenho curiosidade de saber. O primeiro deles se refere à ida de Moro para o governo Bolsonaro. Pelas informações que temos, ele foi convidado pelo ministro da Fazenda, Paulo Guedes. Moro condenou Lula a 9 anos de prisão por corrupção e outros crimes, em julho de 2017. Em abril de 2018, o Tribunal Regional Federal da 4º Região (TRF4) confirmou a sentença de Moro e ampliou a pena para 12 anos. Lula foi preso. Mas continuava à frente de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto. A primeira pergunta: em 2018, houve algum contato entre o grupo político do atual presidente da República com o então juiz Moro?
Outra curiosidade que tenho é saber que tipo de conversa circulou na Lava Jato na época da negociação da delação premiada do ex-ministro do governo Lula e um dos fundadores do PT, o médico Antonio Palocci. A delação trouxe poucas novidades para o caso do ex-presidente, mas suficientes para “requentar“ as notícias e manter o assunto nas manchetes dos jornais, dificultando com isso o trâmite dos hábeas pedidos pela defesa de Lula. Outro assunto. Pelo que chamamos de ironia da história, uma estratégia que foi fundamental para a Lava Jato se firmar na opinião pública nacional como sinônimo de luta contra a corrupção foi o vazamento de informações para à imprensa. E justamente um “vazamento de informações” colocou contra a parede dois dos seus símbolos: o ex-juiz Moro e o procurador da República Dallagnol.
Nós, repórteres, temos que ter o cuidado com o seguinte. As informações divulgadas pelo site e as que vêm por aí não colocam em risco o combate à corrupção no Brasil. Muito pelo contrário. Dão transparência a como isso está sendo feito. A Constituição garante um julgamento justo aos acusados. No caso do ex-presidente Lula. O que vem por aí não é uma discussão se é culpado ou não pelas acusações dos crimes de que foi acusado e condenado. Mas o fato é que ele não teve um julgamento justo, como é garantido pela Constituição. É isso que revelam as primeiras notícias do site. Mais ainda: foi vítima de uma conspiração para imobilizá-lo politicamente. Temos que alertar aos nossos leitores que fechar os olhos para isso é concordar com a existência de justiceiros. A democracia que temos hoje no Brasil não veio de graça. Foram quase três décadas de lutas em que muita gente foi presa, torturada, banida do país e ficou sem seus empregos. É isso que esta em jogo. A luta contra a corrupção no país é irreversível. Mas ela tem ser feita dentro da lei. “Ninguém está acima da lei”, como disse Moro em uma palestra. Eu acrescento: isso inclui ele o Dallagnol. É simples assim.
Sabiam que as acusações contra Lula eram inexistentes. Mas contavam com amigos no 4º Tribunal para serem mais rigorosos. Que nem leram o processo. 6 mil páginas em três dias? Não, eles já tinham o veredito pronto. Tem na internet o modo como esse grupo se juntou no 4º tribunal.
A minha maior curiosidade é saber o que grupo político do Bolsonaro se aproximou do Moro durante a campanha. É importante se ter tal informação.