Três mulheres são procuradas vivas ou mortas no Rio Grande do Sul, uma delas na terra do governador Eduardo Leite

O desaparecimento de Cláudia, a professora da UFPel, Sirlene, a comerciante e Luana, adolescente grávida de sete meses: para a polícia são mais três casos não resolvidos e para suas famílias um tormente que se repete todos os dias.

Dois, dos três casos, de desaparecimento de mulheres no Estado fazem aniversários nos próximos dias: em 11 de junho  de 2005, um sábado, a comerciante Sirlene de Freitas Moraes, 42 anos, e o seu filho Gabriel,  de 7, em Porto Alegre, foram ao encontro de um médico homeopata com teve uma relação extraconjugal e que é apontado como o pai do menino. Mãe e filho nunca mais foram vistos. Em 13 de junho de 2011, uma segunda-feira, a adolescente Cíntia Luana Ribeiro Moraes, 14 anos, grávida de sete meses saiu de casa e foi se encontrar? com o pai da criança, um jovem agricultor em uma das ruas de Três Passos, cidade agrícola no norte do Rio Grande do Sul. Ela desapareceu. Em 9 de abril  de 2015, uma segunda-feira, a professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Cláudia Pinho Hartleten, 47 anos, sumiu depois de visitar uma amiga. A investigação policial apontou como suspeitos pelo sumiço o seu ex-marido e um filho do casal.

Esses são os casos. Tenho 68 anos, 30 e poucos trabalhei em redação, estive envolvido na feitura de reportagens dos três casos. E sempre estou atento a qualquer motivo para voltar a falar no assunto. Nas palestras que faço para estudantes de jornalismo e nas redações dos jornais do interior do Brasil, eu sempre lembro que a cabeça de repórter funciona de uma maneira simples: a história que relatamos aos nossos leitores tem um começo, um meio e um fim. Sempre que foge  desse roteiro, ela fica nos perturbando. Como são os casos das mulheres e da criança desaparecidas. Não estou mencionando o nome dos suspeitos porque a investigação policial não conseguiu colocá-los na cadeia. Sem encontrar o desaparecido vivo ou morto, dificilmente o caso é concluído. Há um extenso material sobre os suspeitos disponível  na internet.

Os escassos casos de desaparecidos que são resolvidos pelo Polícia Civil gaúcha e em que os suspeitos são presos, geralmente, acontecem pelo surgimento de uma pequena e nova informação que acaba sendo a chave de todo o mistério. Ou por um golpe de sorte. O caso da professora Cláudia. O atual governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB – RS), era prefeito de Pelotas na época em que ela desapareceu. Portanto, conheço o caso e as pessoas envolvidas. E, como governador, ele tem toda a estrutura da Polícia Civil e da Brigada Militar (BM) a sua disposição para ajudar esclarecer o caso. Aqui é importante lembrar o seguinte: não existe como envolver por muito tempo uma delegacia com um caso desses porque elas operam no  limite da sua capacidade. Mas o governador pode designar reforços com a finalidade especifica de esmiuçar o caso. Ele fará isso?

Se não fizer, as famílias envolvidas – que somam mais de uma dezena – vão ter que esperar pelo “golpe de sorte”, tipo o que aconteceu no caso da contadora Sandra Mara Trentin, 48 anos,  em janeiro de 2018, em Palmeira das Missões, cidade agrícola no norte do Estado. Ela desapareceu , e o seu marido Paulo  Landfeldt, vereador pelo PSDB em Boa Vista das Missões, pequena cidade a 30 quilômetros de Palmeira, onde o casal morava com os filhos, foi  apontado como sendo a pessoa que contratou Ismael Bonetto para matá-la. Em janeiro de 2019, ao acaso, um agricultor encontrou o corpo de Sandra Mara, em uma cova rasa à beira da BR 158, a uns 50 quilômetros do local do desaparecimento. O marido e o mandante foram indiciados pela polícia, denunciados pelo  Ministério Público Estadual e viraram réus. Eles aguardam o julgamento presos.

Aprendi com o tempo que nada é mais torturante para uma família do que não saber o destino da pessoa desaparecida. Como repórter, é nossa tarefa apontar o dedo em direção às autoridades para que resolvam o caso. Certa vez, ouvi de um delegado a seguinte frase: “não existe caso sem solução, existe caso mal investigado”. Geralmente, o motivo do caso não resolvido é a falta de pessoal. A designação de um delegado e dois, ou três agentes, para trabalharem exclusivamente com esse tipo de caso seria uma mensagem para as famílias do interesse do governo e um recado para os responsáveis pelos desaparecimentos que a polícia não esqueceu deles. E sempre que os noticiários cobram das autoridades uma solução, eles estão sendo relevantes aos seus leitores. É simples.

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