
Na tremenda confusão criada nos mercados financeiros pelo tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, surgiram muitas perguntas que ficaram sem resposta. Uma delas merece destaque. Foi a gritaria de um grupo de meia dúzia de bilionários que investiram dinheiro e prestígio na campanha presidencial de Trump. Estavam indignados por estarem perdendo milhões de dólares a cada minuto. Em especial no caso da China, que revidou o tarifaço e taxou as importações americanas em 84%. Trump aumentou a aposta e elevou as tarifas dos produtos chineses para 125%. No final da manhã de quarta-feira (09/04), o presidente americano acalmou os mercados, prorrogando por 90 dias a data para o tarifaço entrar em vigor. O Brasil está no grupo de países que foram tributados com a menor taxa, de 10%. Ficou pendente o caso da China, cujas tarifas não foram adiadas. É opinião dos especialistas que os chineses têm “bala na agulha” para enfrentar Trump. Vamos conversar sobre a pergunta que ficou sem resposta, envolvendo os bilionários.
Não vou citar nomes e muito menos o tamanho das fortunas dos bilionários que apostaram em Trump, estão disponíveis na internet. Vou falar apenas de um deles, o que mais se destacou: Elon Musk, 53 anos, dono da Tesla, da SpaceX e do X. Ele é conselheiro de Trump e encarregado do Departamento de Eficiência Governamental (Doge), que tem a missão de enxugar a máquina administrativa federal americana. Musk chamou de imbecil Peter Navarro, 75 anos, conselheiro sênior para comércio e manufatura de Trump. Navarro é o executor do tarifaço. Ele segue à risca as ordens do presidente: “comprar produtos americanos e contratar americanos”. No primeiro governo Trump (2017 a 2021), Navarro foi o responsável pela taxação da China. Respondeu ao desaforo disparado por Musk dizendo que o bilionário era apenas um montador de carros com peças feitas na China. Aqui é o seguinte. Os magnatas que apostaram em Trump acreditaram que ele não faria o tarifaço? Que era só conversa de palanque eleitoral? Esqueceram-se que tentou fazê-lo já no seu primeiro governo e falhou? E falhou porque foi boicotado pelo seu partido e pelos funcionários de carreira do governo. Daí a sua decisão de, no atual mandato, só colocar no governo secretários (ministros) e colaboradores que fossem 100% fieis a suas ideias. Musk convenceu Trump que acreditava nas suas ideias e ganhou como recompensa a coordenação do Doge. Portanto, faz parte do time. Então, ele e os seus colegas bilionários estão reclamando do quê?
Sempre disse que o melhor professor do repórter é a história. Lembro aos meus colegas que na década de 1930, na Alemanha, os bilionários da época apostaram em Adolf Hitler, acreditando que conseguiriam controlá-lo. Quebraram a cara e deu no que deu. Hitler consolidou o nazismo e arrastou o mundo para a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), que deixou 70 milhões de mortos e horrores que nunca serão esquecidos, como o holocausto que levou à morte 6 milhões de judeus e outras minorias nos campos de concentração. Um exemplo recente brasileiro. Em 2018, vários empresários e oficiais de alta patente das Forças Armadas apostaram e elegeram para presidente do Brasil Jair Bolsonaro (PL), 70 anos, um capitão reformado do Exército defensor dos militares que deram o golpe de estado em 1964 e governaram o país até 1985. Eles se envolveram em torturas, assassinatos e deixaram como herança uma bagunça na economia do país, como a hiperinflação. Antes de ser eleito e durante o seu mandato, Bolsonaro pregava um golpe para continuar no poder, que tentou pôr em prática em 2022, após ser derrotado na sua tentativa de reeleição pelo atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos. A história toda está contada nas 884 páginas do relatório da investigação feita pela Polícia Federal (PF) que indiciou o ex-presidente e outras 32 pessoas por formação de organização criminosa para dar um golpe de estado. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou o caso para o Supremo Tribunal Federal (STF), que transformou o ex-presidente e os demais acusados em réus.
Também não é novidade a opinião da maioria dos entendidos em assuntos econômicos que a tentativa de Trump de usar a taxação das importações para retirar os Estados Unidos da globalização semeia o caos ao redor do mundo. Citam vários argumentos contra a imposição de tarifas comerciais. Vou falar de dois, que considero mais importantes. O primeiro é que hoje existe uma integração perfeita na troca de bens, serviços e capital entre os países. Para os fabricantes, uma das vantagens mais significativas é possibilidade de produzir onde a mão de obra é mais barata. Trump aposta no retorno para os Estados Unidos das fábricas que saíram de lá com a globalização. Mesmo que voltem, elas não vão gerar o número de empregos que ofereciam quando foram embora porque a tecnologia diminui muito a necessidade de mão de obra humana nas linhas de montagem. O segundo motivo é que o custo da mão de obra nos Estados Unidos é um dos maiores do mundo. Não é por outro motivo que para lá são atraídos tantos imigrantes ilegais em busca de dólares. Conheci pessoas com curso universitário no Brasil que foram trabalhar como faxineiros nas cidades americanas para fazer um “pé de meia”, juntar um dinheiro. Para fechar a nossa conversa. A questão é o seguinte. Estamos todos no meio do fogo cruzado entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias e potências militares do planeta. Na manhã de quinta-feira (11/04), os dirigentes chineses avisaram que vão diminuir o número de filmes americanos exibidos no país. A China é o segundo maior mercado das produções de Hollywood. Ao mexer com a indústria do entretenimento, os chineses criaram um baita abacaxi para Trump. Eles são mais barulhentos que os mercados financeiros.