
Sobre o atual estágio da guerra entre Israel e o movimento terrorista Hamas, que governa a Faixa de Gaza, onde vivem 2,1 milhões de palestinos, lembrei-me que durante o envolvido dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã (1955 a 1975) popularizou-se nas redações dos jornais ao redor do mundo a seguinte frase: “Quando os caixões dos soldados mortos começarem a aparecer nos noticiários das TVs acaba o apoio popular ao governo”. Para contextualizar a nossa conversa. Os Estados Unidos, que desde o início do conflito vinham prestando ajuda militar ao exército sul-vietnamita, começaram a enviar tropas para o Vietnã a partir de 1965. Na época, as Forças Armadas americanas permitiam a presença da imprensa no campo de batalha. O que garantiu uma abundância de textos e imagens sobre os acontecimentos, que foram fundamentais para esclarecer a opinião pública sobre a realidade do que estava acontecendo na frente de batalha. Em consequência desta visibilidade, iniciaram-se nos Estados Unidos os movimentos sociais contra a guerra, que depois se espalharam por vários cantos do mundo. As imagens da guerra geraram uma imensa onda de pressão popular contra a participação americana no conflito. Em 1973, o governo dos Estados Unidos finalmente retirou as suas tropas do Vietnã, com um saldo de 58 mil militares mortos, 300 mil feridos e 1.626 desaparecidos.
A guerra durou mais dois anos, acabando em 1975 e deixando um rastro de 3,8 milhões de civis e militares vietnamitas mortos. Desde então, o governo americano acabou com a história de deixar a imprensa livre no campo de batalha e suspendeu a publicação de fotos de caixões de soldados mortos. Nos dias atuais, estas medidas se tornaram obsoletas. Com as novas tecnologias de comunicação, os repórteres não precisam estar na trincheira com os soldados para documentar os acontecimentos. É possível transmitir online uma guerra. E é exatamente isto que está acontecendo em Gaza, onde não faltam cenas fortes do confronto entre o Hamas e as Forças Armadas de Israel. A começar pelas imagens de 7 de outubro de 2023, quando o Hamas e outras organizações terroristas iniciaram a Operação Dilúvio de Al-Aqsa, que os israelenses chamam de Massacre de Simchat Torá. Na ocasião, os terroristas invadiram, com 6 mil militantes, o território de Israel e mataram mais de mil civis e 350 militares e policiais. E levaram como reféns cerca de 200 civis e militares, entre eles 30 crianças. O então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, 83 anos, relacionou o ataque do Hamas ao holocausto genocida contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945 ) na Alemanha nazista – matérias na internet. As imagens dos ataques do Hamas em 7 de outubro fortaleceram perante a opinião pública mundial o legítimo direito de Israel de se defender.
Na ocasião, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, 75 anos, comparou o ataque do Hamas ao 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, quando terroristas ligados à Al-Qaeda, de Osama Bin Laden (1957 – 2011), sequestraram quatro aviões e jogaram dois deles contra as Torres Gêmeas, em Nova York, e um contra o prédio do Pentágono, em Washington (DC), enquanto o quarto caiu devido a uma briga a bordo entre a tripulação, os passageiros e os terroristas. No total, foram mortas mais de 3 mil pessoas nos atentados. Sobre a comparação feita por Netanyahu, Biden lembrou ao primeiro-ministro israelense que evitasse cometer os mesmos erros que os americanos cometeram ao perseguir os responsáveis pelo 11 de setembro. O presidente dos Estados Unidos referiu-se à invasão do Iraque pelos americanos e seus aliados em 2003, em busca de armas de destruição em massa que estariam em poder do então ditador Saddam Hussein (1937 – 2006). E à construção de prisões clandestinas ao redor do mundo onde eram interrogados os suspeitos de terem ligações com a Al-Qaeda. No caso do Iraque não existiam as armas de destruição em massa. E nas prisões clandestinas foram permitidos a tortura e outros métodos não convencionais para arrancar informações dos presos, especialmente na mais famosa delas, a da base naval americana de Guantánamo, em Cuba. Este brutal tratamento uniu os presos e desta união nasceu um dos movimentos terroristas mais letais dos últimos anos: o Estado Islâmico – matérias na internet. Como se diz no interior do Rio Grande do Sul, o conselho de Biden entrou por um ouvido de Netanyahu e saiu pelo outro. A estratégia adotada pelo governo do primeiro-ministro não priorizou o resgate dos reféns. Mas a destruição do Hamas. Houve negociações e reféns foram libertados em troca de palestinos presos nas penitenciárias israelenses. Mas ainda restam 58 reféns vivos em poder do Hamas. Enquanto isso, toda a infraestrutura de Gaza foi destruída. A maioria da população civil vive em barracas. Estima-se que mais de 58 mil civis tenham sido mortos, sendo uma grande quantidade de crianças. O governo de Netanyahu sobrevive apoiado pela extrema direita de Israel, que defende a extinção dos palestinos. São completamente contra a existência do estado da Palestina, como foi determinado pelas Nações Unidas (ONU). A maioria da população de Israel não apoia a decisão do seu governo de manter a guerra, é o que dizem as manchetes dos jornais.
O governo de Israel sabe que a população de Gaza é refém do Hamas. E que nos ataques aéreos e de artilharia as principais vítimas são os civis, em especial mulheres e crianças. Mesmo assim, decidiu usar a fome como uma arma para tentar colocar o Hamas de joelhos, impedindo que caminhões com víveres, medicamentos e outros artigos de primeira necessidade tenham acesso a Gaza. Todos os dias, nos noticiários das TVs, há imagens de mulheres e crianças esqueléticas feridas pelas bombas jogadas por Israel. Estas imagens estão mobilizando a atenção do mundo para o confronto. Há um fato importante aqui que devo ressaltar. Em decorrência desta realidade, a imprensa mundial está separando o governo de Israel do povo judeu, que segue na luta pela volta dos sequestrados para casa. Importantes personalidades políticas mundiais estão advertindo Netanyahu que o legítimo direito de defesa de Israel não inclui a limpeza étnica nem a ocupação ilegal de assentamentos no território palestino por colonos israelenses, e que combater o Hamas não pode significar o extermínio da população civil de Gaza. Muito menos usando a fome como arma de guerra. Para fechar a nossa conversa. Lembro que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, é fiador da política da extrema direita de Israel e autor da intenção de transformar Gaza em uma Riviera do Oriente Médio. A maneira de Trump de administrar os Estados Unidos colocou na porta do seu gabinete na Casa Branca uma enorme fila de problemas. O uso da fome como arma por Israel é mais um deles, com potencial para se tornar o maior de todos.