Salta aos olhos dos nossos leitores. A grandiosidade política do atual momento na história do Brasil e a falta de capacidade das redações de entenderem o que está acontecendo. O resultado dessa situação é que a distribuição de conteúdos para os assinantes (jornais, sites e TVs) é incompleta. E as informações que as empresas jornalísticas disponibilizam de maneira gratuita para a população (rádios, TVs abertas e matérias nos sites) são de péssima qualidade. Uma avaliação do que estamos publicando mostra que embarcamos na nau dos especuladores do mercado financeiro que consolidaram a ideia na opinião pública de que o país está dividido ao meio, de um lado a extrema direita raivosa e do outro a esquerda incendiária. Graças a essa visão, produzimos conteúdos jornalísticos que enchem os cofres dos jogadores dos mercados de capitais. Das empresas de segurança privada, que nunca ganharam tanto dinheiro quanto nos dias atuais, vendendo proteção aos grandes conglomerados industriais e bancários. E das empresas de análise de conflitos, que vendem suas avaliações sobre o futuro do país aos investidores nacionais e internacionais.
Esse é um lado da moeda. O outro lado da moeda é a realidade. Em primeiro lugar, ser de direita, esquerda, comunista, socialista, anarquista ou seja qual for a linha política não é crime. Muito pelo contrário, é direito garantido pela Constituição. E há leis no país que determinam os limites onde cada um pode ir. Hoje existem três candidatos com chances de vencer a eleição presidencial: o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL – RJ), capitão reformado do Exército que defende o modo de vida da direita – liberalismo econômico, Ciro Gomes (PDT – CE) e Fernando Haddad (PT – SP), que são considerados pessoas de esquerda – defendem a intervenção forte do Estado na economia. Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto, não pode ser considerado um extremista por ser de direita. Ele é considerado uma pessoa de extremos porque defende os ideais do golpe militar de 1964, quando as Forças Armadas, apoiada por civis e pelo governo dos Estados Unidos, derrubaram o então presidente da República eleito, João Goulart, o Jango (do antigo PTB gaúcho). Ele também defende os personagens mais sinistros do período militar, que terminou em 1985: os torturadores.
Ciro e Haddad podem ser chamados de tudo. Menos de extremistas. Os dois já foram executivos (ocuparam cargos de prefeito e governador) e ministros. Os dois têm um discurso forte. Ciro é conhecido por ser um desaforado, o que não crime. Haddad, por ter uma língua afiada nos debates políticos, o que também não é crime. Ainda há outro fator de que não estamos falando. Pela Constituição brasileira, os poderes do presidente da República são limitados pelos deputados da Câmara Federal e pelo Senado. É aqui que está o xis da questão e que deveríamos estar dando uma informação de melhor qualidade ao nosso leitor, principalmente aos que não são assinantes. Nenhum dos três partidos tem como fazer maioria. Vão ter que fazer alianças. E aqui está o calcanhar de Aquiles de Bolsonaro. O partido dele, PSL, é pequeno e não tem tradição. A história mostra o perigo dessa situação. Em 1989, foi eleito presidente da República Fernando Collor de Mello pelo PRN de Alagoas, um pequeno partido montado às pressas. O governo Collor foi uma sucessão de erros que encheu os bolsos dos especuladores do mercado financeiro. Ele renunciou em 1992, deixando o cargo para o seu vice, Itamar Franco (falecido 2011), um experiente político mineiro que tinha trânsito com os grandes líderes da política nacional na época, inclusive Luiz Inácio Lula da Silva (PT – SP).
O governo Collor deixou uma grande lição para os jornalistas: ficar de olho no vice da chapa que concorre a presidente da República. Quem é o vice do Bolsonaro? O general da reserva do Exército Hamilton Mourão, uma pessoa sem tradição política, descrito no jargão dos repórteres como “um elefante em uma loja de cristais”. Os vices de Ciro e Haddad são pessoas experimentadas na política. De Ciro, é a senadora Kátia Abreu, política experiente e conhecida por “ser faca na bota”, expressão usada no interior gaúcho para designar pessoas que não levam desaforos para casa. De Haddad, é a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PC do B), uma parlamentar com trânsito em todos os partidos.
Todas essas informações estão perdidas nos noticiários. Vez ou outra, são mencionadas pelos analistas e comentaristas políticos em programas exclusivos para assinantes das redes de TV e sites. Usando a linguagem do momento. Em minha opinião, os donos das grandes empresas de comunicação estão deixando passar uma oportunidade de ouro de fortalecer as suas marcas, oferecendo uma informação de qualidade para os seus leitores, especialmente os não assinantes, que são a grande maioria. A história costuma ser cruel com quem deixa o cavalo passar encilhado, como se fala nos rincões gaúchos.
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