Denunciado por corrupção, grupo político de Temer carece de credibilidade para conduzir o bilionário processo de privatização de estatais

Quem garante que o grupo político do presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), está conduzindo com honestidade o processo de privatização de estatais?

– Ninguém.

E quem tiver dúvidas sobre a resposta, eu aconselho a ler, ver e ouvir o farto material disponível na internet a respeito das delações premiadas feitas por empresários, ex-ministros, marqueteiros políticos e ex-parlamentares à Operação Lava Jato. Entre este material, há um vídeo que circulou o mundo. Feito pela Polícia Federal (PF), mostra um ex-assessor de Temer, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), correndo pelas ruas de São Paulo arrastando uma mala contendo R$ 500 mil de propina paga pelo empresário delator da Lava Jato Joesley Batista, um dos donos do JBS. Há também o fato de que, enquanto Petrobras, BNDES e outras estatais estavam sendo saqueados, nenhum órgão de controle da União detectou o crime. E olha que esses órgãos têm gente amplamente capacitada e bem remunerada.

É dentro desse cenário que a Eletrobras, uma das maiores produtoras e distribuidoras de energia do mundo, vai ser privatizada. Além de aeroportos, estradas e outras estatais. Nos últimos 15 dias, eu comecei a ler, ouvir e ver todas as notícias e o que os comentaristas publicaram a respeito do assunto.

A minha reflexão é que estamos esmiuçando para a população a questão das privatizações pelos lados político (quem é contra e a favor), econômico (os benefícios e os prejuízos) e estratégico (aumento ou redução da oferta de energia). E deixando de lado o fato de que o grupo político de Temer soma mais de 25 inquéritos policiais em andamento. E de que Temer é o primeiro presidente da República denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), embora a Câmara dos Deputados não tenha autorizado a instalação do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) – mas uma nova denúncia do MPF vem por aí.

Há mais um fato que merece ser considerado: o número de inquéritos policiais e investigações em andamento entre deputados federais e senadores da base aliada do Temer somam mais de 40.  Aqui, vou falar com base na minha experiência de 40 anos como repórter investigativo. No governo de Carlos Menem (1989 a 1999), na presidência da Argentina, considerado um dos mais corruptos da história do país, aconteceram privatizações de setores estratégicos: petróleo, eletricidade e bancos. Eu estive em Buenos Aires várias semanas trabalhando em busca de informações sobre os atentados de 1992 (contra a Embaixada de Israel) e 1994 (na Associação Mutual Israelita), e na ocasião conversei muito sobre as questões econômicas do país. A maneira como o grupo político de Menem conduziu as privatizações atiraram a Argentina na idade da pedra.  Aqui no Brasil, existe o risco real de interesses ocultos do grupo de Temer causarem um grande prejuízo para o futuro do país.

Aqui, eu quero chamar atenção dos meus colegas repórteres. Olhem a questão das privatizações com o olhar do repórter que faz cobertura de assuntos policiais. Se o grupo político de Temer fosse um bando de criminosos comuns, poderia se afirmar que estão praticando um assalto que irá garantir a aposentadoria deles. Já vi e documentei isso acontecer com várias quadrilhas. Claro que não é o caso da turma de Temer. Mas temos que alertar o nosso leitor sobre a possibilidade de que “coisas não republicanas” possam estar acontecendo nas privatizações. E, na minha opinião, os jovens repórteres, que estão lutando por um lugar ao sol na profissão, têm aqui uma grande oportunidade de dar uma visão nova para a questão das privatizações no Brasil. Explicando ao leitor a ficha policial de quem está conduzindo o processo de privatização.

O fato do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não ter sido citado nas delações premiadas da Lava Jato, não é garantia de nada. Ele não tem poder absoluto no governo. A caneta está na mão de Temer. Que credibilidade tem ele para tomar decisões que irão afetar o futuro de nossos filhos? É uma pergunta que nós, repórteres, precisamos fazer até a exaustão.

Deixe uma resposta