Sempre que a imprensa comete um erro de avaliação quem paga o pato é o povo. E a maioria dos erros que nós cometemos acontece porque não prestamos atenção ao que diz a maior professora do repórter: a história. Nos conteúdos que publicamos, estamos tratando como exóticos os ministros da Educação, Abraham Weintraub, do Meio Ambiente, Ricardo Salles, da Mulher e Família, Damares Alves, e os presidentes das fundações Palmares, Sérgio Nascimento, e da Funarte, Dante Mantovani. Eles não são exóticos. São pessoas perigosas, porque estão desconstruindo o modo de vida dos brasileiros. Um patrimônio social, cultural e artístico que construímos nos últimos dois séculos, resultado do enfrentamento em revoluções, descobertas científicas e do trabalho de escritores, músicos e pintores que ganharam fama ao redor do mundo com seus trabalhos. Não é pouca coisa. Muita gente pagou com a vida pelo que temos hoje.
Antes de seguir contando a história, vamos trabalhar no seguinte cenário. Avançamos no tempo e vamos examinar o legado deixado pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Aqui vamos admitir duas hipóteses: na primeira, o governo foi um sucesso, as reformas deram certo, houve abundância de empregos e o presidente se reelegeu. Na segunda hipótese deu tudo errado. A economia não decolou. As reformas ficaram pelo meio do caminho e os empregos não apareceram. Nos dois casos, Bolsonaro será lembrado como o presidente que nomeou como ministro da Educação Weintraub, um homem que além de não entender do assunto é um péssimo administrador; o ministro do Ambiente, Salles, que fez o absurdo de responsabilizar a organização não governamental Greenpeace pelo óleo que apareceu nas praias do Brasil e por ter apontado o dedo na direção dos ecologistas, responsabilizando-os pelos incêndios na Floresta Amazônica; e a ministra Damares, pela longa lista de asneiras que tem dito – há abundância de material na internet. Mais ainda: por ter nomeado Camargo para a Fundação Palmares, que afirmou que não existe racismo no Brasil, e Mantovani para a Funarte, o homem que disse que rock é coisa de Santanás.
Voltando à história. Uma das características de Bolsonaro é usar uma retórica agressiva que ultrapassa a linha divisória da lei. Porém, na hora de colocar as coisas do papel, ele é cuidadoso. Ou seja: uma coisa é o que ele fala, outra é o que ele faz. Fica o dito pelo não dito e segue o baile. Os nomes que mencionei levam a sério tudo o que o presidente diz. E assim vão desconstruindo o patrimônio cultural e social dos brasileiros. Através de portarias absurdas e outras medidas administrativas autoritárias. O ministro da Educação tem fama dirigir o ministério pisando em reputações de funcionários de carreira. Aqui chegamos ao xis da história. Não podemos esperar que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a Procuradoria-Geral da República ou qualquer outro órgão atirem a Constituição na cabeça deles para lembrá-los que racismo é crime e outras coisas mais.
A tarefa de alertar a população e as autoridades do Poder Judiciário é nossa. Lembro que faz parte da cultura das redações dar manchete para declarações esdrúxulas como as que saem da boca dessas autoridades. Aliás, foi assim que Bolsonaro conseguiu a nossa atenção. Sempre que não se tinha manchete, era só dar uma passada no gabinete do então deputado federal pelo Rio de Janeiro que se saía de lá com “uma pérola” para destacar na primeira página do jornal.
Lembro os meus colegas que as bobagens que esses ministros e presidentes de fundações dizem, na maioria das vezes, são contra a lei. Temos que começar a bater forte nessa tecla. Está em jogo o nosso modo de vida. As liberdades que hoje temos custaram a vida de muita gente. Não é crime ser de direita ou esquerda. É crime atentar contra a Constituição, como eles fazem cada vez que abrem a boca.
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