Rasteira define o que Trump fez com Bolsonaro taxando o aço e o alumínio

Bolsonaro não entendeu que a maneira dele fazer política empurra o Brasil para o isolamento na comunidade internacional. Foto: Agência Brasil

Por conta da decisão comunicada pelo Twitter do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar o aço e o alumínio brasileiros, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desembarca enfraquecido na reunião dos países do Mercosul, que acontece nesta semana em Bento Gonçalves, na Serra gaúcha. Bolsonaro não chega ao encontro como amigo de Trump. Mas como o presidente que levou uma rasteira de quem julgava ser amigo. A rasteira é um golpe dado com as pernas que derruba o adversário de modo humilhante, porque ele cai de bunda no chão. Faz parte da capoeira, uma arte marcial brasileira nascida entre os escravos e muito popular na Bahia.

Trump também taxou o aço e o alumínio da Argentina alegando que os governos brasileiro e argentino manipularam a desvalorização de suas moedas para prejudicar os produtores rurais americanos. Os dois países afirmam que não houve manipulação. Seja qual for o resultado desse episódio, o que nós repórteres temos que fazer é desvendar os bastidores que o envolvem. Vamos começar explicando que o relacionamento do presidente argentino Mauricio Macri com seu colega americano é protocolar. Ao contrário de Bolsonaro, que no dia seguinte a sua eleição elegeu Trump como ídolo. E fez uma coisa que jamais se pensava que faria, ainda mais por ser capitão da reserva do Exército: alinhou os interesses brasileiros aos americanos. Até as pedras dos calçamentos das ruas no Brasil sabem que as Forças Armadas sempre tiveram um pé atrás na história do alinhamento com os americanos. Bolsonaro foi mais adiante. Passou a tratar Trump como um amigo. Inclusive pediu a sua ajuda quando teve a intenção de nomear seu filho e deputado federal por São Paulo Eduardo (PSL) para embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Na época, conversei sobre a paixão de Bolsonaro por Trump com um colega, repórter italiano que conheci na década de 90 fazendo cobertura de conflitos agrários no interior do Mato Grosso do Sul. Ele me disse: “Vai quebrar a cara”.

Os motivos que levaram Bolsonaro tomar a rasteira são muitos. O principal é: não existe relação entre dois presidentes que não sejam as protocolares. Claro, Trump não um presidente qualquer, ele é um dos mais polêmicos que já ocupou a Casa Branca. E Bolsonaro também não se enquadra no perfil dos que já ocuparam o Palácio da Alvorada. A respeito de Trump, lembro o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que disse que dirigir um país é muito diferente de ser animador de um reality show – o atual presidente americano produziu e apresentou um programa de TV (O Aprendiz) no canal NBC. Somando o que disse Obama com a dezena de documentários que assisti sobre a vida de Trump, acredito que ele se deixou fotografar ao lado de Bolsonaro enquanto era negócio para sua imagem dizer que um sul-americano o imitava. Deixou de ser interessante quando o presidente brasileiro começou a se envolver em polêmicas como as queimadas na Floresta Amazônica e as ofensas que fez ao presidente da França Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte, à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e a outras autoridades e personalidades mundiais, a última delas o ator Leonardo DiCaprio, acusado de ter financiado incêndios na Amazônia.

Somando-se todas as façanhas de Bolsonaro é difícil encontrar algum dirigente no mundo que se deixe fotografar ao lado dele. Mesmo Trump, que é considerado pelos colegas americanos uma pessoa grosseira e de boca suja. Mas ele é um homem do show business e sabe que a imagem é tudo. Aliás, o presidente do Brasil vai ter problemas quando assumir a presidência da Argentina Alberto Fernández, que foi atacado durante a campanha por Bolsonaro. Então é isso. Os erros cometidos pelo governo Bolsonaro, misturando assuntos pessoais com os oficiais na relação com outros países, aliado à sua maneira de governar, em que o homem mais importante do seu governo, o ministro da Fazenda Paulo Guedes, defende a volta do AI-5, instrumento jurídico que permitiu a prisão e a tortura de presos políticos durante a Ditadura Militar (1964 a 1985), se traduzem em poucas palavras: isolamento do Brasil perante a comunidade internacional. É simples.

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