O grupo político de Temer usa a estratégia que derrubou Dilma para deter a Lava Jato

Ao indicar o ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes, 54 anos, para o Supremo Tribunal Federal (STF), o grupo político do presidente da República, Michel Temer (PMDB – SP), 76 anos, deu visibilidade à estratégia que está usando para enfrentar a Operação Lava Jato. Eles estão corroendo a operação por dentro. É o mesmo modo operacional usado com sucesso e que resultou na queda da companheira da chapa de Temer, a então presidente da República, Dilma Rousseff (PT – RS), 69 anos,
A estratégia é simples é eficiente. Mas requer um grupo muito coeso e bem informado sobre o contexto para executá-la. É o caso das 10 pessoas de confiança que cercam Temer. Eles descobrem as vulnerabilidades do alvo e atacam. No caso de Dilma, existia uma lista enorme de contradições nas alianças políticas de sustentação do governo e na execução da economia. Na Lava Jato, é mais simples. Ela é executada por funcionários públicos federais – juiz, procuradores da República, técnicos da Receita Federal e agentes da Polícia federal (PF). Muito embora sejam ligados a poderes diferentes da União, a administração entre os poderes é interligada e tem padrões burocráticos de funcionamento, semelhantes em qualquer outro país do mundo. Um exemplo da vulnerabilidade da Lava Jato perante a máquina administrativa: uma inocente mudança de norma na tramitação de um pedido pode acarretar atrasos na liberação, por exemplo de uma diária de um policial federal. O atraso tem imenso potencial de fazer danos a uma investigação – que é um processo em que os acontecimentos têm a sua velocidade própria. Nos meus 40 anos como repórter investigativo, já vi isso acontecer. E não tem como saber se o atraso da diária foi por negligência ou dolo.
O fundamental desta estratégia é que ela não bate de frente com o alvo, no caso, a Operação Lava Jato, que tem imenso respaldo popular, graças ao trabalho de uma força-tarefa (formada por procuradores da República, técnicos da Receita Federal e agentes da PF) e do juiz federal Sérgio Moro. Dentro desta lógica de luta do grupo de Temer é que aconteceu a indicação do Moraes para ocupar a vaga no STF deixada pelo ministro Teori Zavascki, 69 anos, relator da Lava Jato, que morreu na queda de um bimotor em Paraty, no Rio de Janeiro. A indicação de Moraes ocupou enormes espaços nos noticiários, não poderia ser diferente. Além de ministro da Justiça, ele era quadro do PSDB e, se a sua indicação for aprovada pelo Senado, ele será ministro do STF e revisor dos processos relacionados à Operação Lava Jato no plenário da Corte. O grupo político de Temer sabe que a indicação não é garantia de que Moraes irá agir a favor deles. Por exemplo: Joaquim Barbosa, indicado pelo então presidente, Lula (PT), durante o julgamento do Escândalo do Mensalão – procure no Google – mandou, sem cerimônia, para a cadeia várias pessoas ligadas ao então governo. Há outras dezenas de exemplos. Mesmo se Moraes resolvesse contrariar, o que tem sido uma regra entre os indicados para o STF, a lentidão no andamento dos processos na Corte acabaria beneficiado os envolvidos os envolvidos na Lava Jato.
A grande contribuição que a indicação de Moraes trouxe no presente para o grupo político do Temer foi a de a mídia acreditar e espalhar que estava dando um tiro no pé. Não é por aí. Logo a seguir, espalhou-se que o substituto de Moraes, no Ministério da Justiça, poderia causar danos à Operação Lava Jato. Sempre é possível. Mas, se for descoberto, ele não dura 24 horas no cargo. Começo, profundamente, o modo de operar de cinco, dos 10 que fazem parte do núcleo do grupo político do Temer. São homens com larga experiência de agir nas sombras. Eles já fizeram uma queima de arquivo, livraram-se do ex-presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB – RJ), figura fundamental da queda de Dilma. Cunha perdeu o mandato e hoje cumpre prisão preventiva em Curitiba (PR). A próxima queima de arquivo será a do ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB – AL), homem astuto e bem articulado que jogou nos dois lados na queda da Dilma. Portanto, ele é aliado de quem vence. O que significa que amanhã pode se tornar um inimigo poderoso, ouvi de uma pessoa bem próxima a um dos 10 políticos do grupo do Temer.
Esse é o cenário da luta. Um desafio para o repórter acompanhar, porque está sendo travada entre quadro paredes.

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