No caso do ataque do coronavírus é opinião geral que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido, RJ) está apostando contra o país que jurou defender quando foi eleito. A parte mais visível da sua aposta é a tentativa diária de sabotar o trabalho do seu ministro da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta. O ministro segue o manual da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda o isolamento social, o Fica em Casa, para frear a expansão do vírus. Bolsonaro prega a flexibilização dessa regra. Para entendermos a aposta do presidente é preciso olhar quem são as pessoas que fazem parte do seu círculo pessoal e de trabalho. Esse grupo de pessoas, incluindo o presidente, só sobrevive se houver confronto, como disse no post de 26 de março “Bolsonaro foi à guerra contra o coronavírus pelas manchetes dos jornais”.
Para facilitar a nossa conversa sobre as pessoas que cercam o presidente vamos usar o linguajar dos colegas repórteres que fazem cobertura do turfe: Bolsonaro era um “azarão” nas eleições presidenciais de 2018, que acabou ganhando. E as pessoas que apostaram nele agora vão sacrificá-lo se necessário para tirar o que investiram. Para quem não entende de corrida de cavalo, um esporte muito popular no Rio Grande do Sul, “azarão” é o cavalo que sempre chega em último nas carreiras. Um dia, por um somatório de fatores, ele ganha. Começamos pelos maiores apostadores: os três filhos do presidente que são parlamentares. Eduardo, 35 anos, deputado federal por São Paulo, Carlos, 37, vereador na cidade do Rio de Janeiro, e Flávio, 38, senador do Rio. Até a eleição do pai, eles eram conhecidos apenas dos seus eleitores tradicionais. Trabalharam, principalmente Carlos, muito pela vitória nas eleições. Em 29 de novembro de 2018 publiquei o post “Ser filho do Bolsonaro virou cargo de ministro no governo?”. Na montagem do governo, eles já demonstravam que seriam os olhos, os ouvidos e a mente do presidente eleito.
Para manter o monopólio sobre o pai, os filhos precisam de ministros submissos. Não é por outro motivo que ministérios importantes são ocupados por titulares exóticos, como Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, Abraham Weintraub, da Educação, Ricardo Sales, do Meio Ambiente, e Damares Alves, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Eles e outros que ocupam cargos de segundo escalão fazem tudo o que os filhos do presidente pedem para continuarem ministros. Há uma curiosidade aqui. Por que os deputados federais gaúchos Onyx Lorenzoni (DEM), atual ministro da Cidadania, e Osmar Terra (MDB), resolveram enterrar as suas carreiras políticas se submetendo ao comando dos filhos do presidente? Eles não são ingênuos. Portanto, devem estar vendo alguma coisa no fim do arco-íris que nós repórteres ainda não descobrimos.
Hoje há três ministros no governo sobre os quais os filhos do Bolsonaro não têm influência. Mas não deixam de atirar pedras no telhado deles: Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, Paulo Guedes, da Economia, e Mandetta, da Saúde. São os três que mantêm o governo funcionando. O rompimento de Bolsonaro com Mandetta vai lhe custar o apoio e o dinheiro do agronegócio. Aliás, o silêncio da ministra da Agricultura e Abastecimento, Tereza Cristina, no caso do seu colega da Saúde é um fato que nós repórteres estamos deixando passar batido. Ela é do mesmo estado do seu colega, Mato Grosso do Sul. É produtora rural e sabe o que representa o rompimento de Bolsonaro com o governador de Goiás, o médico Ronaldo Caiado, que foi quem indicou Mandetta para o cargo. Caiado é ex-dirigente da União Democrática Ruralista (UDR). Tem uma liderança muito forte no agronegócio.
No fim de semana existia uma conversa muito forte nas redes sociais da América do Sul sobre os generais que fazem parte do governo Bolsonaro. Falam que eles foram chamados pela cúpula das Forças Armadas para uma conversa sobre o atoleiro político no qual o atual governo se meteu. Aqui há uma questão que precisamos ficar atentos. Os generais de Bolsonaro e os parlamentares que estão ao seu lado têm uma visão política do presidente da República. Os filhos dele e os que os seguem têm outra visão: Bolsonaro é uma marca, como se fosse um produto. Como é o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E para sobreviver uma marca tem que estar sempre em alta. Não importa o custo. É simples assim.