Acompanhei pelos noticiários dos Estados Unidos a disputa eleitoral entre o republicano Donald Trump a democrata Hillary Clinton. Também tive algumas conversas com colegas americanos que conheci nos anos 80, fazendo cobertura dos conflitos agrários no interior do Brasil. As ligações de Trump com a direita fundamentalista, representando Ku Klux Klan, conhecida como KKK, não mereceram a devida atenção da mídia. A KKK representa três movimentos: Supremacia Branca (1860), Nacionalismo Branco (1915) e Anti-imigração (1950). São movimentos racistas com capilaridade nas áreas rurais e urbanas dos Estados que fizeram a diferença na eleição de Trump. Graças à administração de Trump, os racistas estão em alta nos Estados Unidos, e os parceiros comerciais e políticos históricos do país no mundo, em pânico com a política externa americana.
Na campanha para presidente no Brasil, o mais parecido que temos com Trump é o deputado carioca Jair Bolsonaro (PSL). Capitão da reserva do Exército, ele fez a sua carreira política dizendo desaforos para aos seus adversários políticos e para as minorias – mulheres, negros e homossexuais. Esses xingamentos, que já renderam processos contra o deputado, são jogo de cena dele ou ele está falando por um grupo que luta contra os avanços constitucionais conseguidos pelas minorias? Pelo que tenho acompanhado nos noticiários, não sabemos se existe ligação entre o parlamentar e esses grupos, cuja maioria deles se abriga na Opus Dei. Bolsonaro também é defensor ardente dos militares que deram o golpe de Estado em 1964 e implantaram uma ditadura no país que durou até 1985 e deixou como herança a hiperinflação. O que o deputado fala são palavras ao vento? Aqui é o seguinte. Há pela América do Sul vários grupos de militares que atuaram nas ditaduras que infestaram o Cone Sul nos anos 60 e 70 e que não se reúnem só para bebericar vinhos e falar mal da esquerda. Os grupos que conheço são compostos por pessoas bem informadas sobre o contexto econômico, social e político dos países da região. E, com frequência, são consultados por parlamentares e empresários sobre o rumo que as coisas estão tomando. Bolsonaro tem alguma ligação com esse pessoal?
Há outra conversa que vem rolando há um bom tempo nas redações que é preciso ser tirada a limpo. Ela diz respeito às ligações do parlamentar com os movimentos grevistas acontecidos entre policiais militares do Nordeste – no Rio Grande do Norte, em janeiro. É preciso saber que tipo de ligação existe entre Bolsonaro e as lideranças grevistas. Aqui é o seguinte. Montar um perfil das ligações do deputado e de quem o apoia não significa que exista, por parte do repórter, o interesse de fazer a cabeça do eleitor dele. Trata-se de explicar como ele chegou lá. Até pouco tempo, ele era considerado um “boca suja” – pessoa que diz palavrões – da política e agora ocupa o segundo lugar nas pesquisas de intenção do voto para presidente da República.
Seja lá qual for o destino da candidatura do Bolsonaro cabe a nós, repórteres, fazer um perfil dos apoiadores do deputado. É apenas isso.
One thought on “A imprensa brasileira erra em relação a Bolsonaro, repetindo o que fez a mídia americana na campanha de Trump?”