O Rio de Janeiro é o Vietnã das Forças Armadas Brasileiras. Colocadas nas ruas, nas avenidas e nas vielas cariocas em janeiro, com decretação da intervenção federal como receita do presidente da República, Michel Temer (MDB – SP), para solucionar o problema da violência, as tropas não conseguiram diminuir os índices de criminalidade, entre eles os de homicídios, assaltos, roubo e furto de veículos, roubos de cargas e os confrontos entre as gangues de traficantes por territórios. E o pior: no dia 15 de fevereiro, a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o seu motorista, Anderson Pedro Gomes, foram executados. Mulher negra, favelada, a vereadora foi eleita com 42 mil votos pelo seu trabalho de defesa dos direitos humanos dos pobres. O crime virou notícia ao redor do mundo, e várias organizações pressionam o governo brasileiro pela solução do caso. E, a cada dia que passa, as tropas que fazem parte da ocupação do Rio de Janeiro correm o risco de serem contaminadas pela corrupção e por outros crimes que acontecem por lá. Uma situação muito semelhante à que aconteceu no Vietnã com as tropas americanas. Essa situação foi descrita pelos roteiristas de Hollywood em filmes épicos como Apocalypse Now (1979), Platoon (1986) e Nascido em 4 de julho (1989).
Antes de seguir contando a história, vale esclarecer o seguinte: o conteúdo desses filmes tem um enorme lastro de verdade sobre o que aconteceu no Vietnã, um pequeno país na Península da Indochina, na Ásia, onde o governo dos Estados Unidos, empunhando a bandeira contra o avanço do comunismo no mundo –, na época, havia a Guerra Fria entre americanos e a extinta União Soviética –, resolveu enviar tropas e toneladas de equipamentos de última geração. No final do conflito (1955 a 1975), haviam morrido 3,8 milhões de vietnamitas. E, do lado dos americanos, 58 mil soldados mortos, 300 mil feridos e 1.626 desaparecidos. As tropas americanas foram derrotadas e criou-se nos Estados Unidos a Síndrome do Vietnã – repúdio da opinião pública de envolver as tropas em conflitos externos de longa duração. Uma lembrança: no próximo dia 30 de abril, completam-se 43 anos da derrota americana no Vietnã, uma data que será lembrada.
O que aconteceu com as tropas americanas nessa guerra cunhou nas redações do mundo inteiro o a expressão “esse é o teu Vietnã”, como sinônimo de uma situação em que não se tem como ganhar. É o caso da violência no Rio de Janeiro. Podem encher ruas, avenidas e vielas de tanques, soldados e ninhos de metralhadoras, não irá resolver o problema da violência, porque as raízes que alimentam o crime são antigas, fortes e organizadas, como bem descreve em seu livro Cidade Partida o velho repórter Zuenir Ventura. O presidente Temer tentou surfar na onda da violência – apontada por pesquisas como uma das principais preocupações do brasileiro, o que significa votos nas próximas eleições – e lançou as Forças Armadas nessa aventura de ocupar o Rio de Janeiro. O problema das Forças Armadas no Rio não é o crime organizado. Mas a pior violência, que assusta até bandido de facão, quadrilhas formadas por jovens, violentos e drogado,s que assaltam trabalhador em parada de ônibus com fuzil AR-15. A única maneira de encurralar esse tipo de criminoso é com policia ostensiva nas ruas e retirando do mercado paralelo fuzis e munições que são alugados para eles por grupo que os contrabandeiam do Paraguai, dos Estados Unidos e do Uruguai.
Esse é o quadro. As Forças Armadas não têm como deter a violência no Rio de Janeiro, porque não estão lutando contra um inimigo que tenha visibilidade. Lutam contra um bando de drogados, jovens e violentos e armados até os dentes que espalham o pavor na população Aqui entra o nosso papel como repórteres. Temos que explicar ao nosso leitor o que está acontecendo. O caminho para resolver a violência do Rio de Janeiro não tem a ver com ocupação militar. Mas com trabalho de base, do tipo que foi feito na implantação das Unidades de Policia Pacificadoras (UPPs). Claro que esse tipo de coisa não rende votos de imediato. Mas a longo prazo. E tempo é tudo que o grupo político do Temer não tem. Se eles perderem o foro privilegiado – ter os crimes julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) –, é provável que sejam presos no mês seguinte. Essa é a situação.