A vereadora carioca pode ter sido executada por contrariar os interesses imobiliários das milícias

A cautela na coleta de provas é a marca da investigação da morte da vereadora carioca. Foto: Polícia Civil/Divulgação

Está nas entrelinhas das entrevistas dos investigadores da execução  da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Pedro Gomes a pista mais forte que a polícia descobriu sobre o motivo dos crimes, quem encomendou a execução e os pistoleiros que fizeram os disparos: os investigadores acreditam que o envolvimento das milícias – grupos criminosos formados por policiais militares – com a construção civil é o caminho para esclarecer o crime, que teve repercussão internacional e colocou o governo do presidente da República, Michel Temer (MDB – SP), na obrigação de resolver o caso, porque o Rio de Janeiro está sob intervenção federal. A morte aconteceu na noite do dia 15 de março, e a notícia circulou o mundo em poucos minutos. A vereadora era favelada e defendia os direitos dos pobres do Rio. A maneira como foi feita a execução, de imediato, levantou a suspeita que era um crime com a marca das milícias. Mas faltava a prova que  ligasse a execução e as milícias. E os investigadores estão sendo prudentes na busca da prova. A prudência tem uma razão de ser: a investigação desse crime é acompanhada ao redor do mundo.

Antes de seguir a história, eu quero refletir com os meus colegas repórteres velhos e os novatos. A investigação desse crime tem a sua disposição recursos técnicos, econômicos e de pessoal imensos, devido à intervenção federal no Rio de Janeiro. Portanto, era de se esperar rapidez na solução. Mas isso não aconteceu. Muito pelo contrário. A Polícia Civil carioca ficou muda. Mesmo as fontes tradicionais dos repórteres de polícia se calaram. Por quê? Por dois motivos: o primeiro é que os serviços de inteligência da Polícia Federal (PF) e das Forças Armadas estão envolvidos na apuração. E conseguiram montar um grupo de investigação – envolvendo agentes de várias polícias – muito unido. E o segundo motivo é que foi gasto um tempo precioso apostando na linha de investigação que o crime tinha a ver com denúncias da vereadora contra grupos de policiais que desrespeitavam os direitos humanos dos favelados.   Mesmo antes de ser vereadora, Marielle já denunciava violência policial contra os favelados. E também a ação dos milicianos nas favelas. Dentro dessa linha de pensamento, é de se perguntar. Por que agora, justamente quando o Rio está sob intervenção militar, teriam resolvido acertar as contas com a vereadora?

Na sua origem, os milicianos expulsavam os traficantes das favelas e assumiam o controle da segurança dos moradores e da venda de bens e serviços – gás, transporte, TV a cabo pirata e outras atividades comerciais. Na semana passada, os serviços de Inteligência descobriram que os milicianos estão envolvidos com a construção de prédios – uma espécie de Minha Casa Minha Vida pirata. Isso significa que os milicianos estão investindo dinheiro grosso na construção civil. E o dinheiro que estão investindo é deles ou pegaram emprestado com os atacadistas de drogas e armas instalados na fronteira do Paraguai? Aqui é o seguinte: uma coisa é a vereadora denunciar arbitrariedade policial e das milícias contra os favelados. Outra coisa é ela contrariar os interesses dos investidores bandidos. É exatamente isso que torna essa linha de investigação a mais forte até agora garimpada pelos investigadores.

Resumindo e usando uma linguagem dos homens de negócio: os investidores financiaram um projeto dos milicianos, que não conseguiram atingir os seus objetivos devido à ação da vereadora.  Em busca de provas que ajudem a consolidar essa linha de investigação, os investigadores estão examinando as gravações das falas da vítima nas sessões da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. E tendo longas conversas com os colegas vereadores da vítima.  Em uma frase da vereadora dita na tribuna e gravada,  ou em um fato observado por um dos seus colegas pode estar a pista definitiva que irá resolver o caso. Mais ainda: a polícia não está deixando vazar informações sobre detalhes do caso na mídia por estar desatenta com o segredo da investigação. Não é nada disso. É um balão de ensaio, uma antiga e produtiva tática de investigação. Eles vazam informações para a imprensa e esperam a reação dos suspeitos que estão com os seus telefones grampeados – com ordem da Justiça.   Para o repórter, é fundamental estar atento às entrelinhas das informações vazadas pelos investigadores.  Pode surgir uma outra pista do caso. Até que o caso seja resolvido cada palavra dita pelos investigadores é importante.  É fundamental que o nosso leitor seja corretamente informado.

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