A política de reajuste dos combustíveis de Pedro Parente pode ser o tiro de misericórdia no governo do presidente Temer?

O alastramento sem precedentes da greve dos caminhoneiros vai chegar a outros setores da economia? Foto PRF/Divulgação

 

Independentemente do que irá acontecer com a greve dos caminhoneiros. O fato é que ela se alastrou com uma rapidez jamais vista, o que surpreendeu até os organizadores da greve.  Essa rapidez é um indicativo que vincula a política da Petrobras de reajuste dos combustíveis às oscilações dos mercados internacionais pode ser o tiro de misericórdia no já moribundo governo do presidente da República, Michel Temer (MDB – SP). Ao vincular os preços internos aos internacionais, o atual presidente da empresa estatal, Pedro Parente, atravessou uma avenida sem olhar para os dois lados. Olhou apenas para o lado dos acionistas da empresa.  Esqueceu-se do outro lado: o político. Através dos tempos, os governos mantiveram os preços dos combustíveis desatrelados das oscilações dos mercados internacionais como uma ferramenta para manter a população feliz e o reajuste dos fretes enjaulados, uma coisa importante em um país em que mais de 90% da produção é transportada por caminhões. O prejuízo sempre ficava por conta da Petrobras. Ao inverter essa lógica, Parente realizou o sonho de muitos ex-presidentes da empresa. Lembro que, durante os governos militares (1964 a 1985), os dirigentes da estatal já reclamavam. Continuou sendo assim nos governos seguintes –  Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Acabou no governo Temer. Por quê?

A resposta para a pergunta é encontrada na história não escrita do Brasil. O grupo político de Temer é um dos mais competentes do país. Basta ver que articularam a conspiração que resultou no impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT – RS), em 2016, que foi substituída pelo seu vice, Temer. Na época, os escândalos desvendados pela  Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), sucediam-se a uma velocidade espantosa, envolvendo parlamentares, ministros e grandes empresários. No centro dos escândalos, estava a Petrobras, uma empresa considerada um símbolo nacional, que tinha sido devastada pela corrupção de funcionários de alto escalão – há um vasto material sobre o assunto disponível na internet. O grupo político de Temer viu nessa confusão uma oportunidade de se consolidar no poder, colocando a economia nos trilhos. Foi dentro dessa lógica que Pedro Parente foi escolhido para ocupar o cargo na Petrobras. Em uma leitura atenta aos noticiários da época, nota-se que Parente foi colocado no cargo e foi esquecido por Temer. que acabou se envolvendo em uma feroz luta por sua sobrevivência política, quando foi engolfado pelos escândalos da Lava Jato, no caso da JBS – há várias reportagens disponíveis na internet.

Uma coisa a respeito de Pedro Parente que o grupo político do Temer não sabia, ou se sabia não deu importância: ele não é um burocrata qualquer. Ele também pertence a um grupo político formado por pessoas com grandes conexões internacionais, tipo o economista e empresário Armínio Fraga. Esse grupo é especialista em aproveitar oportunidades para ganhar dinheiro e poder. O presidente da Petrobras aproveitou que o foco da atenção nacional estava todo voltado para a Lava Jato e a baixa inflação para vincular o preço dos combustíveis aos mercados internacionais. De cara, ele derrubou o mito que os reajustes dos combustíveis fariam a inflação disparar. Não disparou. E Pedro Parente aproveitou para surfar na onda do saneamento das contas da Petrobras, graças a medidas administrativas, adotadas de grande austeridade, entre elas os reajustes dos combustíveis.  Mas foi como eu disse no início dessa história. Ele atravessou a rua sem olhar para aos dois lados. Só viu o interesse dos acionistas. Não viu o lado outro lado, o político. Vejamos. Aproveitando-se dos preços defasados dos  combustíveis, o governo federal e os governos estaduais ganharam dinheiro colocando impostos – 30 % são taxas tributárias. Com os reajustes constantes, esses impostos começaram a mostrar as unhas. Mais ainda: o preço defasado facilitou a consolidação dos cartéis entre os postos de combustíveis. A primeira lei dessas organizações sempre foi, continua sendo e vai ser sempre: o preço dos combustíveis só sobe. Nunca desce. No planejamento de Pedro Parente, ele deveria oscilar, como acontece nos mercados internacionais. Como se diz na gíria popular: ele se esqueceu de combinar com os russos. Os cartéis dos postos nunca ganharam tanto dinheiro quanto estão ganhando hoje por conta da “tal de oscilação da Petrobras”.

 Falei sobre o assunto em 27 de novembro de 2017 no post http://carloswagner.jor.br/blog/a-petrobras-dolarizou-o-preco-dos-combustiveis-e-o-consumidor-recebe-em-real-desvalorizado-para-beneficiar-as-exportacoes-pode/ Então chegamos à seguinte situação. A Lava Jato acabou com os sonhos de reeleição de Temer. E os cartéis dos postos de combustíveis, com a ambição de Pedro Parente de ele ser o pai da tão sonhada política de reajuste dos combustíveis ligada às oscilações dos mercados internacionais. Por conta do ano eleitoral, os inimigos políticos do Temer vão transformar  Pedro Parente na bala que será usada para dar o tiro de misericórdia no presidente.  Assim é a luta pelo poder.

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