Por onde andará a contadora Sandra Mara Lovis Trentin, 48 anos, que sumiu em 30 de janeiro deste ano? Moradora da pequena cidade agrícola Boa Vista das Missões, naquela manhã ela viajou 30 quilômetros até Palmeira das Missões para uma reunião de negócios. Em Palmeira, estacionou o carro em uma rua e nunca mais foi vista. Ela é mãe de quatro filhos, sendo três com o seu atual marido, o presidente da Câmara dos Vereadores de Boa Vista, Paulo Ivan Batista Landefeldt (PSDB).A investigação do desaparecimento é feita pela Polícia Civil de Palmeira. Os investigadores não falam sobre os detalhes do andamento do caso. Por se tratar de uma contadora, uma profissional que lida com segredos contábeis de empresas e pessoas físicas, o desaparecimento repercutiu em todos os cantos do Rio Grande do Sul.
É dever da polícia proteger a sua investigação, não revelando detalhes . É nosso dever como repórteres manter os nossos leitores informados do que está acontecendo. Não é apenas um caso de desaparecimento. É o desaparecimento de uma contadora. Investigar desaparecimento já é complicado. As coisas se complicam quando a desaparecida tem uma profissão que lida com segredos de outros, como é o caso da contadora. Dentro desse contexto, qualquer movimento precipitado do investigador pode atirar o caso na vala dos crimes insolúveis. Conversei longamente sobre esse caso com ex-professores da Academia da Polícia Civil (ACADEPOL), em Porto Alegre. Misturei as informações que resultaram dessa conversa com o profundo conhecimento que tenho do modo de vida das pessoas e das empresas da região. Conhecimento que consegui fazendo várias reportagens investigativas por lá durante os 31 anos em que trabalhei em redação de jornal. Conheço as quadrilhas que atuam na região e os criminosos de colarinho branco.
A minha contribuição para os meus colegas, principalmente os novatos, é de como podemos tornar nossas reportagens interessantes sem detonar o trabalho da polícia. Acredito que, se explicarmos ao nosso leitor como é feita uma investigação nesse tipo de caso, nós vamos estar fazendo a nossa parte. Cada investigação tem o seu roteiro, que é seguido pelo investigador. Nesse caso, a primeira hipótese a ser examinada é a de crime passional. É passado um pente fino em todas as relações pessoais conhecidas e desconhecidas da desaparecida. Isso inclui a sua vida antes de se formar contadora, em 1990, na cidade de Cruz Alta. Aqui é o seguinte: a polícia procura em cada uma das pessoas das relações conhecidas e desconhecidas da desaparecida para saber se existe um motivo para cometer um crime. A fase seguinte da investigação é saber se o desaparecimento dela tem alguma ligação com o exercício profissional. Os investigadores procuram duas coisas: a primeira é saber se ela pode ter descoberto alguma coisa que não deveria saber. A segunda é se, voluntariamente ou forçada, acabou participando de alguma situação relacionada a problemas com a lei. Essa é a parte mais simples da investigação, porque o trabalho é todo registrado em lançamentos contábeis.
Outra investigação é saber se ela não foi vítima de um assalto seguido de sequestro. O fato de não terem pedido resgate não significa que ela não tenha sido vítima. Já vi acontecer. Assaltos que acabaram virando sequestros, e a situação saiu do controle dos bandidos e acabou em tragédia. Para trabalhar nessa linha de investigação, a Polícia Civil de Palmeira tem uma enorme dificuldade porque são escassas as câmeras de segurança espalhadas pela cidade. Mas, nos dias atuais, ninguém some no ar. Se possível, rastrear e localizar o celular da desaparecida, existe tecnologia disponível para isso. Já vi acontecer. Há dois passos importantes que os investigadores deverão dar. O primeiro é conversar com os médicos da desaparecida para traçar um perfil da saúde dela. Há algum tempo, fiz uma reportagem sobre um senhor que tomava uma medicação e teve um efeito colateral: uma amnésia temporária. E o segundo é vasculhar as passagens de ônibus que foram vendidas na estação rodoviária, um dia antes, no dia e um depois da data do desaparecimento da contadora. Seguindo essa linha de construção de nossas matérias, nós vamos facilitar ao nosso leitor o entendimento do que está acontecendo sem detonar a investigação policial. E mostrar para as autoridades que estamos atentos.
Já que estás acompanhando o caso:
http://www.tribunadaproducao.com.br/noticias/geral/marido-de-contadora-desaparecida-e-preso/15544#.WpGwnG0wjwA.facebook:
O marido da contadora Sandra Mara Lovis Trentin foi preso pela polícia na noite desta sexta-feira (23). Paulo Ivan Landefeldt, presidente da Câmara de Vereadores de Boa Vista das Missões, foi detido após o cumprimento do mandado de prisão e encaminhado ao Presídio Estadual de Palmeira das Missões, conforme informou a equipe da casa prisional.
A Polícia Civil segue investigando o caso que está sendo mantido sob sigilo. Os policiais também não detalharam o motivo pelo qual o homem foi detido.
Sandra está desaparecida desde o dia 30 de janeiro, quando foi vista pela última vez no Centro de Palmeira das Missões. O caso vem ganhando repercussão e mobilizando a comunidade de Boa Vista das Missões, município onde ela residia.
Estou acompanhando e te agradeço muito a lembrança
Te agradeço muito. Se tiver alguma notícia do caso e só me avisa, o meu celular particular é 51.999.69.07.46
Olá Wagner, hoje completados um mês e 20 dias do desaparecimento da contadora Sandra Mara Lovis Trentin e nada de nenhuma informação. Fazes muita falta na tua lide investigativa. Imprensa calou. Estou ajudando a alertar a midia e os grupos de discussão da região a não esquecer o fato. Faço isto daqui de Porto Alegre por pura teimosia, para que não sejamos, aqui no RS, testemunhas de um novo caso “Elisa Samúdio”. Um abraço.
Primeiro quero me desculpar por demorar para responder ao teu comentário. Sou de opinião que atitudes como a tua de ficar cutucando a polícia para resolver o assunto é importante. Recentemente o marido e um rapaz foram indiciados como autores da morte da contadora. Mesmo que o indiciamento vire processo na Justiça o caso é frágil e não tem o mesmo volume de provas circunstâncias que levaram os matadores da Elisa Samúdio para a cadeia.
Muito bom seu relato. Conheci você em 1994, quando veio a Santa Cruz, investigar o sequestro de um filho de empresário, onde o Carlos Ivan Fischer, vulgo teco participou do mesmo. você veio na Casa da Colonia da Beti, que fica ao lado da RBS TV em Sta. Cruz. Portanto, permita-me cumprimenta-lo pelo seu belo trabalho investigativo.
Muito obrigado. Tudo bem contigo?
Muito obrigado pela lembrança Um outro caso que trabalhei em Santa Cruz, minha terra natal, foi do sequestro e morte de uma menina que era filha de um leiteiro, se não me falha a memória. Grande abraço
Eu não entendi, juro, pq a polícia indiciou os dois pela MORTE dela se nem se sabe se ela tá morta…na época tive um ‘sonho’ de que ela se jogava, pra morrer, de uma ponte numa água muito funda e suja…
Desculpa pela demora de responder ao teu comentário. É o seguinte: baseados em provas circunstâncias – coisa do tipo briga de casal – a polícia chegou a conclusão que ela foi assassinada. É uma acusação frágil pela falta de uma prova forte, tipo o corpo da vítima.