Ala ideológica usa táticas das milícias cariocas na luta por cargos no governo

Bolsonara (esquerda) usa a ala ideológica ( direita Carlos/Olavo) para se livrar de quem se torna um problema no governo. Foto: Reprodução

A luta sempre foi feroz pelos cargos na máquina administrativa e nas empresas estatais entre os apoiadores do presidente da República eleito. Não foi diferente com Jair Bolsonaro (sem partido). O grupo que nós jornalistas chamamos de ala ideológica não está empurrando os militares para fora do governo por questões ideológicas. É pelos cargos que eles ocupam e que pagam os melhores salários. Somados todos, existem espalhados pelo governo federal, em números redondos, 6 mil pessoas vindas das Forças Armadas e das polícias militares, sendo que 50% estão na ativa e o resto se divide entre reservistas e reformados (aqueles que não têm mais idade para serem convocados). O que tem de diferente na luta por cargos no atual do governo é a maneira como ela está acontecendo. É sobre isso que vamos conversar, porque precisamos explicar melhor ao nosso leitor como as coisas estão acontecendo.

Antes de seguir com a história vou fazer um alerta aos colegas, principalmente aos jovens que estão na correria da cobertura do dia a dia nas redações. Para o público externo, a ala ideológica vende a imagem de que, entre outras ideias, é defensora do neoliberalismo. E que os militares defendem um estado economicamente forte. Essa seria a principal divergência ideológica. Conversa fiada. O que está acontecendo? Em primeiro lugar, o mentor intelectual desse grupo é Olavo de Carvalho, 73 anos, jornalista, ensaísta e filósofo que vive nos Estados Unidos e ocupa o cargo de guru da família Bolsonaro. Ele está atolado em dívidas que somam mais de meio milhão de reais e ainda tem uma causa correndo contra ele na 50ª Vara Cível do Rio de Janeiro de R$ 2,8 milhões. Mais ainda: o país esta mergulhado em um dos maiores desempregos da sua história. Portanto, tem muita gente procurando uma colocação, em torno de 14 milhões de pessoas. O governo federal, além de pagar em dia, paga bem. Agora voltando à história. Por tudo que nós repórteres conhecemos a respeito de Bolsonaro, podemos ter a tranquilidade de afirmar que ele não precisa de ninguém que o lembre dos seus compromissos políticos. Ele sempre defendeu os torturadores do golpe militar de 1964. Sempre defendeu uma polícia que atira antes e pergunta depois. Também a sua simpatia pelas milícias do Rio de Janeiro é um fato público.

Ninguém diz a Bolsonaro o que ele tem que fazer. É ele quem diz o que deve ser feito. A ala ideológica, que tem como um dos seus esteios o seu filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro, é usada para lançar o que velhos repórteres, como eu, chamamos de balão de ensaio. Se colar, colou. Se der rolo, atira a bronca no colo dos ideólogos do governo, no caso a ala ideológica. O caso mais recente foi o esculacho de dois generais. O primeiro foi o ministro da Saúde, general da ativa do Exército Eduardo Pazuello, repreendido publicamente pelo presidente no caso das vacinas que estão sendo desenvolvidas no Brasil em parceria entre o Instituto Butantan, de São Paulo, e um laboratório da China. A vacina é contra a Covid-19, um vírus letal que nos últimos sete meses matou 150 mil brasileiros e mais de 1 milhão de pessoas ao redor do mundo. Outro foi o general da reserva Luiz Eduardo Ramos, secretário de Governo, chamado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, de “maria fofoca, conspirador e banana de pijama” – há material na internet. Salles acusa o general de ter trancado os recursos para pagar os funcionários que estão apagando o incêndio no Pantanal. Ele não foi repreendido pelo presidente. A atitude de Bolsonaro o tornou notícia nos principais meios de comunicação ao redor mundo por envolver a vacina contra a Covid-19 e o incêndio no Pantanal, que é um santuário ecológico. Nunca devemos esquecer, colegas, que ele é defensor da ideia: “Falem bem ou falem mal. Mas falem de mim”. Esse objetivo foi alcançado. Por que se espalhou na imprensa que esses dois generais foram ofendidos publicamente por pressão da ala ideológica no governo? Há uma coisa que nós jornalistas nunca podemos esquecer. Embora oficialmente as Forças Armadas não façam parte do governo, no imaginário popular são elas que estão no poder. Para o cidadão comum, ofender um general é como cuspir na bandeira nacional. A história da pressão da ala ideológica é uma explicação para esse público. É sabido que os militares que trabalham no governo estão ali pelo salário.

Não é por outro motivo que a ala ideológica quer os cargos deles. E a tática que estão usando é a mesma utilizada pelas milícias cariocas nos anos 90, quando esses grupos, formados por policiais militares e civis, começaram a se instalar em áreas que então eram dominadas por traficantes e outros bandidos. Primeiro convenceram as populações locais que eles levariam a lei e a ordem para a região. A ala ideológica defende a tese de que os militares afastam Bolsonaro dos seus compromissos políticos com os eleitores. Os milicianos, depois de expulsarem os traficantes, implantaram o terror entre os moradores, cobrando pela segurança, internet, gás e outros serviços. No caso do grupo ideológico, eles querem substituir os militares. Arrematando a conversa: a bronca da ala ideológica com os militares no governo não é por ideologia. É por empregos, uma coisa rara nos dias de hoje. É por aí, colegas.

2 thoughts on “Ala ideológica usa táticas das milícias cariocas na luta por cargos no governo

  1. Muita ‘consideração’ de sua parte chamar aquele ancião que tem um vocabulário mais sujo que as notas encontradas na cueca do senador de ‘filósofo, ensaísta e jornalista’. Pelo linguajar dele, me dá a impressão que ele escreve diálogos de filmes pornôs.

    1. Eu te entendo. Faço parte de um grupo de repórteres que está mergulhando e estudando os discursos da máquina que elegeu o Trump, Bolsonaro e a turma que anda ao redor deles. Eles sempre existiram, a agente é que não dava bola. É uma honra ter você como leitor.

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