Não sabemos quem irá ocupar os cargos vagos nos ministérios da Saúde e da Educação. E muito menos quanto tempo os futuros ocupantes irão durar no posto. Mas uma coisa podemos afirmar aos nossos leitores. Seja lá quem for, o certo é que não poderão ser competentes na função a ponto de ganhar popularidade. E muito menos pensar diferente do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Terão que ser “engolidores de sapos”, uma expressão popular que se usa para descrever quando coisas desagradáveis precisam ser toleradas por uma pessoa para poder seguir em frente com a sua vida, seja profissional ou pessoal. A história do governo Bolsonaro até agora mostra que apenas os “engolidores de sapo” sobrevivem nos seus cargos, seja de ministro ou de um simples coordenador de setor de um ministério.
Não era para ser assim. Lembremos que, na montagem do seu governo, o presidente gritou aos quatro ventos que os seus ministros seriam escolhidos pelo critério técnico, e não político. E teriam liberdade de organizar a sua equipe de trabalho. Dois deles teriam carta branca para tocar os seus ministérios: Sergio Moro, ex- juiz da 13ª Vara Federal, em Curitiba (PR), que ganhou fama na Operação Lava Jato e que abandonou 22 anos de magistratura para ser ministro da Justiça e Segurança Pública, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, um economista até então sem o brilho dos seus colegas de academia, mas afamado por saber ganhar dinheiro. Aqui tem duas coisas a se comentar. A primeira é que a ideia de ministros técnicos sempre foi simpática às redações dos jornais, principalmente entre os colegas da área econômica.
A história nos ensina que a conversa de ministros técnicos e não políticos nunca funcionou em nenhum regime político, mesmo na extinta União Soviética, que tinha uma economia planejada. Mais ainda: carta branca para ministro, ou a ocupante de cargo semelhante, nunca deu uma boa coisa ao redor do mundo. Então por que daria certo no governo Bolsonaro, que é formado por uma aliança de grupos políticos que reúnem simpatizantes do nazista Adolf Hitler, terraplanista, ocultistas, neoliberalistas, fundamentalistas religiosos e 3 mil militares da reserva, a maioria saudosista do Golpe Militar de 1964.
Adicione a esse quadro o fato do presidente não ter base parlamentar no Senado e na Câmara dos Deputados. Não é preciso ser especialista para perceber que a soma de todos esses fatores fez da arquitetura do ministério de Bolsonaro uma tragédia anunciada, como se diz nas redações a respeito de situações com grande potencial para não darem certo.Tanto que dos 17 ministros do governo, 12 já deixaram o cargo, entre eles Moro – há matérias abundantes na internet sobre o assunto. E ao fato do Brasil ser um dos raros países do mundo que durante a crise sanitária provocada pelo coronavírus tem um interino no Ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello — há várias reportagens disponíveis na internet. Aqui quero chamar a atenção dos colegas antigos.
O governo Bolsonaro implodiu. A máquina administrativa do governo federal trancou. Uma dos motivos: há 3 mil militares da reserva e da ativa das Forças Armadas e das policiais militares espalhados por vários postos do governo. Funcionários públicos federais vêm sendo afrontados por eles. Há relatos disponíveis sobre o assunto nos órgãos que representam os interesses dos funcionários federais. Colegas, nós temos que investir em investigação para saber o que acontece entre as quatro paredes da administração federal. O nosso leitor já sabe no que isso tudo resulta: nada funciona.
Não é cientifico. Mas ouvi nas delegacias de polícia dos agentes que o “engolidor de sapo” entra na jogada pelo dinheiro. Ouvi entre os historiadores e sociólogos que ao redor de uma pessoa autoritária, como é o caso do presidente Bolsonaro, brotam oportunistas. Nós repórteres temos que começar a conversar com o nosso leitor sobre como o seu cotidiano vem sendo influenciado pelo que vem acontecendo na máquina administrativa federal. Mais uma coisa: o rolo no governo é tão grande que nós esquecemos o Paulo Guedes. Compramos a ideia de que ele sabe o que faz e viramos as costas e focamos a nossa atenção nos rolos visíveis do governo. A questão não é se ele sabe o que faz, mas o que está fazendo. Tudo é possível no governo Bolsonaro. Até alguém estar fazendo a coisa certa.