Comandantes militares sabem do risco da corrupção e de serem acusados de genocidas

Senador Aziz não generalizou no caso da corrupção entre os militares. Ele foi preciso. Foto: Reprodução

O que mudou na vida dos brasileiros com a nota de repúdio assinada pelos comandantes do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, da Marinha, Almir Garnier Santos, da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, e do ministro da Defesa, Braga Neto, contra o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), que disse existir uma “banda podre” nas Forças Armadas? Resposta para a pergunta: nada. Os brasileiros continuam exigindo do senador e dos seus colegas da CPI da Covid que apontem os responsáveis pela política de combate à pandemia que já causou a morte de 530 mil pessoas no país. A obrigação dos senadores é apontar os responsáveis pela lambança. O resto é blefe ou bravata. Foi-se o tempo que as reuniões dos comandantes militares viravam manchete dos jornais porque o que decidiam influenciava a vida de todos. Aliás, isso acabou em 1985, quando terminou a ditadura militar instaurada com um golpe de Estado em 1964. A democracia brasileira é jovem. Mas é forte e quem desobedecer a Constituição vai para a cadeia. O resto é caso de polícia. Colegas, o que escrevi não é opinião. São fatos que publicamos e a realidade. Vamos à nossa conversa.

A história da “banda pobre” citada pelo senador Aziz ocorreu durante a sessão da CPI da Covid de quarta-feira (08/07), quando foi ouvido Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, que é suspeito de ter cobrado propina de um dólar por vacina do cabo Luiz Paulo Dominguetti Pereira, da PM de Minas Gerais, que tentava vender 400 milhões de doses do imunizante AstraZaneca para o governo. Uma história completamente maluca – está na internet. Dias foi preso pela CPI por ter mentido durante o seu depoimento. Pagou fiança e foi liberado. Os militares da ativa, reserva e reformados que estiverem envolvidos em corrupção é um caso para a Justiça resolver. Mas há outro crime: genocídio. Lembro que no final do primeiro semestre de 2020, logo que começou a virar conversa séria a possibilidade do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), efetivar como ministro da Saúde o general-da-ativa do Exército Eduardo Pazuello, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), advertiu: “As Forças Armadas (…) podem se envolver com genocídio”. O alerta do ministro aconteceu porque já na época o negacionismo do presidente da República do poder de contágio e letalidade da Covid-19 era descrito por cientistas e líderes mundiais como “política genocida” em relação à pandemia causada pelo vírus. Em julho de 2020 fiz o post: “Que parte da fala de Gilmar Mendes sobre genocídio que Mourão não entendeu?” Lembro que na época da nomeação de Pazuello as vozes dos generais e outros oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica que se fizeram ouvir contra ter um oficial da ativa na Saúde foram caladas por demissões feitas por Bolsonaro, que é o comandante supremo das Forças Armadas.

Se no final da CPI da Covid o relatório concluir que a política de governo de Bolsonaro montada e executada por Pazuello foi a responsável pelos absurdos que aconteceram nesse país, como a falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e interior do Pará para pacientes da Covid que morreram asfixiados, os tribunais de Justiça internacionais irão se interessar pelo assunto. E no centro da confusão toda está um oficial da ativa do Exército, o general Pazuello. Já é do conhecimento geral que o presidente Bolsonaro colocou mais de 6 mil militares da ativa, reserva e reformados a trabalhar no governo federal como uma maneira de passar para a população o recado de que ele é apoiado pelas Forças Armadas. E por muito tempo surfou no prestígio do Exército, da Marinha e da Aeronáutica perante a opinião. Na realidade a história é diferente. Os militares que estão no governo não estão lá por ideologia ou qualquer outro sentimento que não seja o de reforçar os seus salários. O ministro da Defesa, Braga Neto, general da reserva, graças à portaria “fura teto” assinada pelo presidente da República, hoje ganha R$ 62 mil (soma dos seus soldos e mais salário do cargo que ocupa). Arrematando a nossa conversa. Chamo a atenção dos colegas repórteres que trabalham nas redações pelo interior do Brasil. Lembro que no ano passado, em junho, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), acompanhado de uma comitiva, mandou dissolver uma manifestação que era feita em protesto ao assassinato do negro George Floyd, para ir à igreja St. John, que fica nas proximidades da Casa Branca, tirar uma foto com a Bíblia na mão. Na comitiva estava o chefe do estado-maior das forças armadas dos Estados Unidos, Mark Milley, vestido uniforme de combate. Depois do evento, Milley se desculpou com o povo americano por entender que estava no lugar errado. Trump estava em plena campanha de reeleição na disputa com Joe Biden (democrata). O que atitude de Milley tem a ensinar aos militares brasileiros? Que assunto de civil é assunto de civil. Assunto de militar é assunto de militar. As duas coisas não se misturam. Quando se misturam dá confusão. No caso brasileiro, o ministro Braga Netto poderia ter impedido essa confusão?

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