Como a agonia do governo Temer influencia o dia a dia do brasileiro?

Como o brasileiro sobrevive aos erros do governo Temer? Foto EBN/Divulgação

Ao seu modo, o brasileiro organiza o seu dia para resolver os problemas criados pelo galope frenético da deterioração do governo  do presidente da República, Michel Temer (MDB – SP). Descobrir e registrar a maneira como o brasileiro está conseguindo tocar a sua vida é um desafio para nós, repórteres. Não existe uma pesquisa especifica sobre o assunto para facilitar a nossa vida. Temos que ir a campo conversar com as pessoas. A sobrevivência profissional do repórter depende de ele ver o futuro.

E o futuro que vem por aí está sendo construído pela maneira como os brasileiros estão conseguindo tocar suas vidas em um ambiente em que as soluções dos problemas se tornam mais uma problema no dia seguinte, como é o caso do acordo do governo federal que colocou fim à greve dos caminhoneiros. O acordo corre o risco real de ruir por problemas com a tabela dos fretes, considerada fora da realidade pelos donos das cargas e pelos cartéis dos postos de combustíveis, que estão impedindo que o desconto no litro do óleo diesel, acertado entre o governo e os caminhoneiros, chegue na bomba do varejista. O grande impacto que a greve causou na vida dos brasileiros foi a falta de gasolina e gás de cozinha. Todos os dias, levo a minha filha de 11 anos à escola. E, uma vez por semana, paro em um mercadinho para comprar erva-mate e jogar conversa fora com o dono do comércio. Ele sempre tem uma reclamação contra os jornalistas. Nesta semana, ele me disse: “tu viu o que os teus colegas de cachaça (referindo-se aos repórteres) estão dizendo sobre o trato feito entre o Temer e os carreteiros?” Respondi que isso já era esperado, pela maneira como o acordo tinha sido feito.   Ele perguntou se eu já tinha enchido o tanque do carro. Respondi que não, porque os postos estavam trabalhando normalmente. Ele comentou:  “Da outra vez fiquei sem gasolina, agora eles não me pegam mais, não deixo o tanque baixar do meio”.

Por curiosidade, falei sobre o assunto com os meus vizinhos, os conhecidos do supermercado e os pais da escola da minha filha. Descobri que muitos deles tinham adotado a mesma prática do dono do mercadinho para evitar serem surpreendidos novamente. Daí comparei o que tinha ouvido das pessoas com o conteúdo que estamos publicando sobre o assunto. O conteúdo das nossas noticias é sobre as discussões entre caminhoneiros, governo e donos das cargas e dos postos de combustíveis. Vasculhei os sites da imprensa alternativa sobre o assunto, e o tom das notícias é semelhante ao da grande imprensa. Esse episódio me lembrou um outro o tratamento que demos aos aplicativos. Logo que começou o enfrentamento entre a Uber e os proprietários de táxis, o tom das nossas reportagens era o mesmo dos nossos colegas europeus e americanos. Na época, 2009, eu trabalhava na redação e lembro  que tratamos o assunto como uma desregulamentação do mercado pelo uso das novas tecnologias. Com os anos, eu fui descobrindo que, para o brasileiro, o aplicativo era muito mais que uma nova tecnologia: foi uma tábua de salvação da crise econômica que inundou as ruas do país com 14 milhões de desempregados. Os aplicativos e as redes sociais são ferramentas valiosas nas mãos dos desempregados na luta por sua sobrevivência. Se não fossem essas novas tecnologias, a crise seria bem maior.

Citei dois casos concretos de como o brasileiro está fazendo para sobreviver à crise. Mas há uma fileira enorme que pode ser encontrada no meio da população. Aqui quero refletir com os meus colegas repórteres velhos e os novatos. O Brasil que está emergindo dessa crise é totalmente diferente de tudo que conhecemos. Daí a importância de nós, repórteres, estarmos atentos ao que acontece no meio da população. Se não acompanharmos o nascimento deste novo Brasil, não vamos mais sermos lidos, porque vamos estar falando de coisas que não existem mais. A história da humanidade mostra que a espécie que não se adapta às mudanças desaparece. É simples assim.

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