Nós temos escrito e dito nos conteúdos publicados nos jornais (papel e site), rádios e TVs que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) leva para o seu governo o Centrão com a missão de protegê-lo caso venha a sofrer uma ação de impeachment ou um pedido de licença por parte da Procuradoria Geral da República (PGR) para ser processado. Também é isso. Mas não é só isso. Como? Antes de responder à pergunta, vamos a alguns fatos. Observando a maneira de operar do grupo político de sustentação do presidente, nós repórteres aprendemos que, ao contrário de outros, como o PT e o PSDB, o grupo de Bolsonaro não tem um plano de poder de médio ou longo prazo. Não é assim que funciona. O que acontece hoje determina o amanhã, no máximo. Tanto que ele se elegeu pregando contra a corrupção e não pensou duas vezes em se unir aos parlamentares dos partidos do Congresso que chamamos de Centrão devido aos escândalos de corrupção em que se envolveram. O presidente está se lixando para as nossas cobranças de coerência. O governo é como se fosse uma montanha-russa: o embalo da descida do trenzinho assegura a força para a próxima subida.
Vamos responder à pergunta. Usando o linguajar militar. O Centrão tem duas missões a serem cumpridas de imediato. A primeira já está em andamento. Ele é a lâmina afiada de uma adaga no pescoço do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). Maia ganhou muito espaço na mídia por ter sido o responsável pela aprovação do projeto da Nova Previdência, no ano passado. E atualmente é considerado uma voz da moderação durante os ataques de nervos do presidente. Se o sistema de governo do Brasil fosse parlamentarismo, ele seria o primeiro-ministro. O acordo de Bolsonaro com o Centrão lembra para Maia que o sistema de governo é o presidencialismo e quem manda é o presidente. Ele é apenas o presidente da Câmara e agora está com um problema, porque os parlamentares do Centrão representam metade dos 513 votos da Casa. Uma avaliação dos últimos pronunciamentos de Maia mostra uma moderação em relação ao “nervosismo do presidente”. E também não fala mais sobre os 40 pedidos de impeachment do Bolsonaro que engavetou.
A segunda missão do Centrão ainda não começou a ser executada. Um dos esteios da sustentação política do presidente é a máquina de distorcer a verdade montada pelo seu círculo de pessoas íntimas, que inclui seus filhos Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal de São Paulo. Apelidada de Gabinete do Ódio, essa máquina de distorcer a verdade usa as redes sociais para distribuir fake news que mantêm a base do governo mobilizada. A pedido do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal (PF) trabalha em um inquérito que investiga o uso de fake news contra os ministros da corte. Na semana passada (29/05), a PF cumpriu 29 mandados de busca e apreensão em casas de empresários, parlamentares e blogueiros que fazem parte da máquina de distorcer a verdade do Gabinete do Ódio. Os policiais querem saber quem financia, quem comanda a distribuição de fake news e como tudo funciona. Para saber quem financia, a PF vai seguir o rastro do dinheiro. Sobre o comando da operação de fake news existe um farto material já apurado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News (CPMI) no Senado. Bolsonaro já disse, em alto e bom som, que não existe o tal Gabinete do Ódio, e que a história das fake news nada mais é do que uma tentativa de destruir a rede de informações que ele tem para se comunicar diretamente com os seus eleitores. Pelo que temos noticiado, o Centrão vai se ser chamado para ajudar a manter a máquina funcionando. Qual é a missão? É uma pergunta que vamos ter a resposta no andar dos acontecimentos.
Mas um fato nós repórteres aprendemos sobre o governo Bolsonaro. Todo mundo é dispensável depois que cumpriu a sua missão. O exemplo mais recente é o de Sergio Moro, que ganhou fama como juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) na Operação Lava Jato. Ele desistiu da carreira de juiz para ser ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro. A sua missão era mostrar que o governo falava sério em combater a corrupção. Cumpriu a sua missão e foi forçado a demitir-se. Se os parlamentares do Centrão não cumprirem suas missões, eles vão servir de boi de piranha – expressão nascida entre os vaqueiros do Pantanal, que usavam um animal para atrair os peixes enquanto o restante da boiada atravessava o rio em segurança. Tenho dito nas minhas palestras para estudantes de jornalismo e nas redações pelo interior do Brasil. Antes de se escrever a primeira linha de uma matéria sobre o governo Bolsonaro é preciso pensar. Porque nem tudo que reluz é ouro. É um dia de cada vez.