Faltou a agressividade do repórter de rádio na cobertura do vendaval em Porto Alegre

Merece ser esmiuçada a cobertura feitas pelas rádios das primeiras 24 horas do tornado de devastou parte de Porto Alegre, ela deixou o ouvinte na mão. Foto: Defesa Civil

Um dos grandes patrimônios da profissão de jornalista é a agressividade do repórter de rádio na cobertura dos grandes eventos. Pressionado pelo tempo, ele não espera: vai lá e resolve. Esse perfil contribuiu para que o rádio sobrevivesse à invenção da televisão, quando todos apostavam na sua extinção. Também o manteve vivo com chegada e a popularização da internet. Não só continuou vivo como surfou nas novas tecnologias e chegou a todos os cantos do mundo. O rádio sobreviveu porque se reinventou a cada desafio. Mas agora está diante de um novo, perigoso e ainda pouco conhecido desafio para continuar relevante: a integração das redações de jornais (papel e site), TVs e outras plataformas de comunicação. Essa integração está tirando a agressividade do repórter de rádio. Porque o novo mundo criado pelas redações integradas é, como se diz na gíria dos repórteres, “uma mala sem alça” muito grande para carregar. Vamos aos fatos.

O que aconteceu? Na quente tarde da quarta-feira (15/01), houve um corte na energia elétrica que durou uns 15 minutos na Zona Sul de Porto Alegre, onde eu moro. Ouvi no rádio que um dos motivos teria sido a sobrecarga do sistema, que causou um incêndio em uma das subestações de energia da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Foi mencionado que a sobrecarga poderia ter sido causada pela soma de dois fatores: o forte calor e o fato de ter sido extinto o horário de verão no Brasil. A notícia entrou em um ouvido e saiu pelo outro, como se descreve um fato sem importância nas redações. Passou um tempo e veio um temporal: chuva intensa acompanhada de vento muito forte que derrubou árvores, postes e um monte de coisa que encontrou pela frente. Resultado: mais de 1 milhão de pessoas sem energia elétrica, a maioria na Zona Sul. Esse tipo de rolo é comum nessa época no Rio Grande do Sul. No tempo que trabalhei em redação, de 1979 a 2014, várias vezes estive envolvido na cobertura desse tipo de desastre.

Sem luz, mas com a internet funcionando no celular, fiquei trocando mensagens pelo WhatsApp e navegando nos site dos jornais. Às 19h55min, recebi uma ligação de uma amiga que me fez um relato dos danos causados pelo temporal na casa dela. Durante a conversa, meu telefone fez um som estranho e a ligação caiu. Tentei retornar a ligação e não consegui. Pensei: “queimou alguma coisa no meu celular”. Por que pensei assim? As torres das operadoras de telefonia são equipadas com baterias ou geradores e a energia tinha sido interrompida havia pouco mais de duas horas.

Mas o rádio do celular estava funcionando e fiquei escutando o noticiário. E fique assustado. Não pelo que eu ouvi. Mas pelo que eu não ouvi. Escutei todas as emissoras. As pequenas e médias se limitavam a ler as mensagens enviadas pelos ouvintes e os comunicados oficiais da CEEE. Fui para as grandes emissoras. Elas seguiam com a programação normal. Pensei: “Opa, então a coisa não deve ser tão séria”. No meio da programação, eram lidas mensagens dos ouvintes e vez ou outra entrava no ar um repórter fazendo uma síntese da situação. Estava quase dormindo quando escutei um colega reclamar da falta de informações da CEEE e que a empresa faria um comunicado somente às 7h do dia seguinte, quinta-feira (18/01). Pensei: “Eu não estou ouvindo isso.” Ninguém foi lá chutar a porta do governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), ou do prefeito da cidade, Nelson Marchezan (PSDB)? Além de não ter luz e internet, também não consigo saber pelos meios de comunicação o que estão fazendo para resolver a situação? As pessoas podem sobreviver a tudo, menos à falta de informação.

Não é por outro motivo que a função do repórter é manter o ouvinte informado. Na manhã de quinta, saí de carro para ver os estragos do temporal. Logo encontrei uma equipe de conserto da CEEE formada por quatro pessoas, três jovens e um velho que segurava um sanduíche de mortadela e queijo na mão. Perguntei a ele qual era o tamanho do rolo. Ele respondeu: “O de sempre”. Fui até o supermercado e comecei a perguntar para as pessoas se o celular delas estava funcionando. E o aparelho de todos com quem falei não funcionava. Pensei: um problema a menos, o meu telefone não queimou. Voltei para o carro liguei o rádio e um representante da CEEE estavam sendo entrevistado. Desliguei o rádio.

Para arrematar a conversa. Eu não mencionei o nome das emissoras porque a unificação de redações nasceu na Europa como estratégia de sobrevivência econômica das empresas de comunicação, se popularizou nos Estados Unidos e se espalhou pela América do Sul. Particularmente, acredito que os empresários estão brincando de roleta-russa. A minha preocupação é com a continuidade da nossa profissão de repórter. E a nossa sobrevivência depende de sermos relevantes para os nossos leitores, ouvintes e telespectadores. É nossa tarefa explicar o que acontece. É simples assim.

2 thoughts on “Faltou a agressividade do repórter de rádio na cobertura do vendaval em Porto Alegre

  1. Eu estava ouvindo a radio Gaucha e constatei o mesmo…mas se fosse uma diarreia de um jogador da dupla..meu deus seria entrevista na hora

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