General Pazuello reza para ser preso e virar mártir da causa dos bolsonaristas

O general Pazuello acredita que pode se eleger para um cargo executivo pelos bolsonarista. Foto: Reprodução

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, 58 anos, general-de-divisão da ativa do Exército, foi mordido pela mosca azul, uma expressão usada pelos comentaristas políticos para dizer que uma pessoa quer fazer carreira política. Foi convencido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que tem uma chance real de ser eleito para um cargo executivo, como governador de estado. As pistas do que estou escrevendo estão nas entrelinhas dos conteúdos jornalísticos que temos publicado. Ele assumiu a Saúde em abril de 2020. No dia seguinte começou a enfiar os pés pelas mãos na administração do ministério e imediatamente nós o elegemos o exemplo da incompetência da administração Bolsonaro no combate à pandemia causada pela Covid-19. Pazuello tornou o negacionismo do presidente da República em relação ao poder de contágio e letalidade do vírus em política de governo. Em consequência disso, o Brasil não comprou vacinas na hora que foram oferecidas. O governo federal cometeu erros que agravaram a crise de oxigênio hospitalar em Manaus (AM) e no interior do Pará, o que causou a morte de dezenas de pacientes por asfixia. Bolsonaro usou Pazuello como boi de piranha nessa situação e o demitiu no último mês de março. Assumiu no seu lugar o cardiologista Marcelo Queiroga.

Aqui é o seguinte: quem chamou Pazuello de incompetente foram as pessoas que acreditam na ciência para combater o vírus e não os que defendem as teorias de Bolsonaro para eliminar a Covid, como a imunidade de rebanho e o tratamento preventivo com drogas tipo cloroquina. Para os bolsonaristas, o general é um herói, por ter defendido com galhardia as teorias do presidente ao depor na CPI da Covid-19, do Senado. No seu depoimento, o ex-ministro isentou Bolsonaro de qualquer culpa sobre as já 440 mil mortes de brasileiros causadas pelo vírus. “Matou a bronca no peito”, como falam os meus colegas repórteres da cobertura policial. Mentiu para os senadores mais de duas dezenas de vezes. E não foi preso por estar protegido por um habeas corpus (HC) do Superior Tribunal Federal (STF). A defesa que fez do presidente da República foi aplaudida pelos bolsonaristas. Agora, a joia da coroa: no último domingo (23/05), o general subiu no palanque eleitoral ao lado do presidente da República durante uma manifestação no Rio de Janeiro. O regulamento militar proíbe que militares da ativa faça isso. Subiu com autorização de Bolsonaro. E na sua defesa perante o Exército, alegou que não se tratava de um comício político. Muito embora a possibilidade seja muito remota, ele pode ser preso por isso.

Se o Exército vai punir ou não o ex-ministro saberemos nos próximos dias, que não serão fáceis para o general porque os senadores da CPI da Covid o convocaram para um novo depoimento. Ainda não se sabe se o atual habeas continua protegendo-o de ser preso ou se ele pedirá outro. Pela irritação dos senadores, Pazuello tem a chance real de ser preso caso continue mentindo e não esteja protegido pelo HC. O que aconteceria caso os senadores dessem voz de prisão para Pazuello? Primeiro, seria uma coisa inédita na história recente do Brasil: um general da ativa do Exército sair algemado do Senado direto para a cadeia. A notícia derrubaria das manchetes a busca pelos responsáveis pela lambança que se tornou o combate à pandemia pelo governo federal. E para os bolsonaristas que defendem o fechamento do Senado, da Câmara dos Deputados e do STF, a prisão seria um fato concreto para ser usado na pregação da volta dos militares ao poder – claro, com o presidente Bolsonaro no comando. Aqui gostaria de refletir com os meus colegas repórteres, principalmente os jovens que estão na correria da cobertura do dia a dia das redações. Daquilo que aprendemos sobre o comportamento do presidente Bolsonaro, cito quatro coisas: a primeira é que ele não tem um plano para lidar com as situações que surgem no dia a dia do exercício do seu mandato. Segundo, os problemas que acontecem são resolvidos com as soluções disponíveis na hora. Em terceiro lugar, ele sempre tem alguém para fazer o serviço sujo. E, por último, o foco da administração do presidente é manter o bem-estar da sua família. O caso do general Pazuello: ele foi usado como boi de piranha pelo presidente no Ministério da Saúde. Depois de cumprir com êxito a sua missão de implantar o negacionismo em relação ao vírus como política de governo, Bolsonaro o demitiu para acalmar a opinião pública. Agora o presidente o convenceu de que ele tem chance de se tornar governador. Basta seguir as instruções e causar uma confusão entre o Exército, o Senado e o STF.

E a melhor maneira do general causar essa confusão é ser preso por mentir na CPI da Covid. De preferência fardado. O presidente, quando era tenente do Exército, foi preso por indisciplina e por ser o mentor de um plano mirabolante de fazer um ataque com bombas a locais estratégicos no Rio de Janeiro. Acabou sendo inocentado e foi para a reserva como capitão. E hoje é presidente da República. Por que Pazuello não pode virar governador? Por tudo que li e pela minha experiência de 40 anos como repórter, não acredito em um golpe militar. O que me apavora é que a cada minuto gasto pelo governo federal na execução dos seus planos mirabolantes de poder dezenas de brasileiros são contaminados pela Covid e muitos acabam morrendo. Para entender as manobras políticas que brotam na cabeça do presidente, eu recomendo a leitura de dois livros: O Cadete e o Capitão – A vida de Jair Bolsonaro no quartel, do jornalista Luiz Maklouf Carvalho; e A mente de Adolf Hilter, que é um relatório secreto que investigou a psique do líder da Alemanha nazista, escrito pelo psicanalista americano Walter C. Langer. Durante a Segunda Guerra, Langer foi contratado pelo governo dos Estados Unidos para fazer um perfil de Hitler. O objetivo do governo americano era conhecer o inimigo. Colegas, há muitas cascas de banana espalhadas pelo chão esperando o pé de um repórter desavisado. Quanto mais contextualizados estivermos da situação, menor é a chance de pisarmos em uma delas.

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