Guerra ao coronavírus: quem são os médicos trabalhando no fundo da grota e na favela?

Qual a história que os médicos que trabalham com os favelados e os pobres das grotas do Brasil têm a contar? Foto: EBC

Ficou tudo registrado nas nossas matérias. Os sindicatos médicos, associações e outras entidades da categoria não pouparam munição contra a importação de seus colegas de Cuba e outros países em 2013, pelo programa Mais Médicos, da então presidente Dilma Rousseff (PT-MG). Hoje, março de 2020, há uma coisa bem clara entre nós repórteres: as entidades médicas não foram contra os cubanos, que somavam 11 mil entre os 15 mil que participavam do programa, só porque o governo era de esquerda. Seriam também contrários se o presidente da República fosse de centro ou de direita. Por quê? Eles defendem a reserva de mercado para a categoria. Alguns dirigentes sindicais empunham a bandeira de uma “carreira de Estado” – leia-se estabilidade no emprego – para os seus colegas que prestam serviços às prefeituras.

O Mais Médicos foi implodido quando o governo cubano mandou retirar seus médicos do país, logo depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido, RJ). Mas ficaram 2 mil cubanos espalhados pelo território nacional, ocupando outras funções. Bolsonaro lançou o programa Médicos Pelo Brasil. Nós escrevemos nas nossas matérias que as entidades médicas apoiavam o programa. Apoiavam da boca para fora, como se diz nas redações. Porque as vagas de médicos nas grotas e nas favelas não foram preenchidas. Por quê?  Em primeiro lugar, não foi por falta de médicos: existem no país 452 mil (dados de 2019) profissionais, e 305 faculdades de medicina formam anualmente 25 mil novos. A maioria se concentra nas grandes cidades ou em municípios de classe média do interior do Brasil, principalmente nas regiões do agronegócio, tipo Sinop (MT), e da agricultura familiar ligada à agroindústria, como Erechim (RS). Eles não ocupam as vagas nas grotas do Brasil, nas cidades pobres do interior e nas favelas miseráveis e violentas das regiões metropolitanas. Há vários motivos para essa situação, vou alinhar dois: o primeiro é que o curso de medicina em uma faculdade particular custa, em média, R$ 10 mil mensais. Se for trabalhar na grota ou na favela, o médico jamais conseguirá recuperar o que investiu no curso. O segundo motivo: o isolamento que acaba levando o profissional a ficar defasado nos seus conhecimentos técnicos.

Os médicos cubanos foram os únicos que trabalharam no fundo da grota e nas favelas. Não por sua opção. Mas porque foram contratados especificamente para esse fim. A situação hoje: a população que vive no interior pobre e nas favelas tem escassez de médicos. Enquanto isso, temos 2 mil médicos cubanos espalhados pelo Brasil e mais uns 70 alunos de medicina fazendo curso nos países vizinhos. As entidades médicas estigmatizaram os cubanos como ultrapassados e as faculdades dos países vizinhos como “caça-níquel”. Claro, eles podem exercer a profissão de médico no Brasil desde que sejam aprovados no Revalida do Ministério da Educação. Tive uma longa conversa com um colega repórter especializado no assunto, que pode ser resumida no seguinte: nos dias atuais a influência das entidades médicas no Ministério da Educação é enorme. Aqui é o seguinte, meus colegas repórteres. Nunca li, escutei ou vi alguma notícia publicada pela imprensa defendendo o afrouxamento das provas do Revalida. O que temos que informar ao nosso leitor é se estão usando esse programa para garantir a reserva de mercado para médicos. As entidades médicas têm o direito constitucional de defender os interesses profissionais da categoria. Cabe a nós repórteres garantir que essa defesa aconteça dentro da lei. Um bom caminho para isso é jogar os holofotes da cobertura do coronavírus sobre as populações que vivem no fundo da grota e nas favelas. Quem são os médicos que estão trabalhando lá? Eles são muito mais que médicos e enfermeiros. São confidentes de famílias que vivem abandonadas à própria sorte. Encontrei esses profissionais na Guerra Civil de Angola, nos fundões da Selva Amazônica, no árido interior dos estados do Nordeste e nas favelas violentas do Rio de Janeiro e da Região Metropolitana de Porto Alegre. A cobertura que estamos fazendo do coronavírus é uma das melhores da história do jornalismo no Brasil. Mas não estará completa até que se mergulhe no cotidiano dos profissionais da saúde que vivem e atendem as populações do fundo da grota e das favelas. Eles têm uma bela história para contar. E nós somos contadores de história. É simples assim.

2 thoughts on “Guerra ao coronavírus: quem são os médicos trabalhando no fundo da grota e na favela?

  1. Que matéria unilateral e tendenciosa.Desmerecendo os Médicos brasileiros. Inverdades. O Médico brasileiro é o primeiro a chegar nas ditas grotas. Muito antes de jornalista bunda de veludo. Muito antes até do poder público estatal. Os médicos brasileiros atendem todas as classes sociais indistintamente .A matéria é vulgar,superficial e sensacionalista. Foi feita para influenciar ignorantes sem senso crítico.Uma vergonha.

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