Há uma história rolando nos noticiários sobre a qual nós jornalistas precisamos refletir. De que a polarização nas eleições de 2022 entre o atual presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) faz mal para o Brasil. E que a solução é o surgimento de um terceiro candidato representando as forças políticas de centro. É sobre isso que vamos conversar, principalmente com os jovens repórteres que estão engalfinhados na cobertura do dia a dia das redações fazendo diversas pautas por dia e ganhando um dos salários mais miseráveis já pagos pelo trabalho de um jornalista. O que vou escrever não é opinião. São fatos que temos publicado nos noticiários. Vamos à história.
Em nenhum outro momento da história recente do Brasil se escreveu tantas vezes a palavra “constituição” nos noticiários. Isso tem acontecido porque no minuto seguinte ao que assumiu o seu mandato de presidente da República, em 2019, Bolsonaro começou a forçar a barra, tentando reinstalar uma ditadura militar no Brasil como a que existiu de 1964 até 1985. No início, nós jornalistas ficamos perplexos com o que estava acontecendo. Lembro-me das manifestações dele e dos seus seguidores no ano passado em Brasília (DF), pedindo a volta dos militares ao poder – há dezenas de matérias publicadas. Um fato em especial marcou o ano de 2020. Os generais do Bolsonaro, como ficaram conhecidos os oficiais da ativa, reserva e reformados do Exército que assumiram ministérios, pregavam que as Forças Armadas eram o poder moderador do Brasil e que poderiam ser acionadas pelo seu chefe, no caso o presidente da República, para restabelecer a “lei e a ordem”. Juristas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) esclareceram que as Forças Armadas não são o poder moderador. Elas são uma instituição de Estado. Portanto, acioná-las sem obedecer o que está na Constituição é golpe – há matéria sobre o assunto na internet. Desde a redemocratização do Brasil, em 1985, os jornalistas não tinham debatido tanto como os dias atuais a liberdade de imprensa. Principalmente quando a pandemia causada pela Covid-19 colocou o mundo de joelhos e, no Brasil, a imprensa tornou-se a principal fonte de informações seguras para a população sobre o poder de contágio e letalidade do vírus. Lembro que o presidente da República é negacionista em relação à Covid e que está sendo investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19 do Senado, a CPI da Covid.
Diante dos fato que relatei, o que nós jornalistas aprendemos? Simples. A nossa tarefa é manter o leitor informado corretamente do que está acontecendo, porque isso reforça a musculatura das instituições, como o STF, o Congresso e a Constituição. Seja lá quem for o próximo presidente da República, se ele desrespeitar a lei terá problemas. Voltando ao início da nossa conversa. A polarização entre os candidatos no Brasil sempre existiu. Como existe nos Estados Unidos, entre democratas e republicanos. Nos dias atuais, essa polarização é insuflada pelas redes sociais. Lembro o episódio da invasão dos seguidores do ex-presidente americano Donald Trump (republicano) ao Capitólio americano (Congresso), em janeiro deste ano, contestando a derrota nas urnas do seu candidato. Houve feridos, mortos e vários dos invasores foram presos e o atual presidente americano Joe Biden (democrata) foi empossado. No Brasil, em 2020, seguidores de Bolsonaro fizeram um bombardeio de fogos de artifício sobre o prédio do STF. Foram presos. Agora, em 2021, o deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) ameaçou ministros do STF. Foi preso e teve o mandato suspenso por meio ano. O último a ser preso por ameaçar ministros do STF foi Roberto Jafferson, ex-deputado e presidente do PTB. Mais ainda: há em andamento investigações da Polícia Federal (PF) que estão desmontando a máquina de fake news que atenta contra a democracia e prega o negacionismo em relação à Covid-19. Recentemente, o presidente Bolsonaro tentou intimidar os parlamentares que votavam a “volta do voto impresso” com um desfile de tanques e transporte de tropas em Brasília (DF). Os deputados votaram contra a “volta do impresso” e o presidente da República acabou sendo ridicularizado.
Arrematando a nossa conversa. Fazendo o velho e bom jornalismo, mantemos os leitores informados dos fatos e com isso reforçamos a musculatura das instituições, que se encarregam de manter na linha quem senta na cadeira de presidente do Brasil. Lembro que toda vez que as redações tentaram enfiar garganta abaixo dos eleitores um candidato, a história acabou mal. Um bom exemplo disso foram as eleições presidenciais de 1989, que tiveram no segundo turno a disputa entre Lula e Fernando Collor de Mello (PRN-AL). Collor foi o candidato da grande imprensa. Eleito, acabou sofrendo uma ação de impeachment por corrupção, entre outros crimes, em 1992 – há matéria na internet. É do jogo os comentaristas políticos venderam o peixe deles. Como também os donos das empresas de comunicação defenderem os seus interesses. O repórter que faz a cobertura do dia a dia dos noticiários tem que ficar atento, porque aquilo que o comentarista político escreve é meramente a opinião dele. Não pode ir para o noticiário como se fosse um fato. Mais ainda: o editorial do jornal traz a opinião do dono da empresa. Nos tempos que havia abundância de repórteres nas redações, os jovens tinham tempo de amadurecer na profissão e aprender como montar a sua matéria caminhando em uma estrada cheia de cascas de banana. Hoje, devido a sobrecarga de trabalho, o repórter não tem tempo de aprender a caminhar entre as cascas de banana. Portanto, nunca é demais ajudar os jovens a desviarem das cascas de banana. Sempre digo nas minhas palestras que o jornalista é formado pela faculdade. O repórter é esculpido na lida diária da profissão.