Influência de Bolsonaro na Operação Placebo é real ou é mais uma bravata?

A Polícia Federal (PF) na porta do governador do Rio de Janeiro Witzel serviu para Bolsonaro mandar para os seus inimigos políticos um recado de que tem o controle do seu governo, mas será ? Foto: Reprodução

Na manhã de segunda-feira (26/05), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi o primeiro da fila para elogiar a Polícia Federal (PF) pela realização da Operação Placebo, que investiga corrupção na montagem da estrutura – hospitais, equipamentos e outros serviços – de combate ao coronavírus no Rio de Janeiro. Autorizados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e munidos de mandados de busca e apreensão, os agentes federais bateram na porta do Palácio das Laranjeiras, residencial oficial do governador do Estado, Wilson Witzel, 52 anos, e da sua esposa, a advogada Helena Alves Brandão. Os dois são suspeitos de serem os cabeças de uma organização criminosa que superfaturou serviços e compras de equipamentos – há dezenas de matérias disponíveis na internet. Vamos conversar sobre a alegria do presidente. É importante entender o que aconteceu para podermos explicar a situação com clareza e exatidão para o nosso leitor.

A alegria do presidente não é só porque Witzel é um ex-aliado político que hoje se perfila entre os opositores. Tanto que no vídeo da reunião com seus ministros, que foi tornado público pelo Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro chama o governador de estrume. A alegria de Bolsonaro é porque ele e as pessoas que fazem parte do seu círculo íntimo de apoiadores, conhecidos como Gabinete do Ódio, venderam a Placebo para a opinião pública como se fosse uma demonstração de que quem manda na PF é o presidente. Portanto, cuidem-se os seus inimigos. Essa é a mensagem. Tanto que 24 horas antes da operação a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), uma experiente ativista política de direita, deixou nas entrelinhas de uma entrevista dada à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre (RS), que aconteceria a Placebo. Ela faz parte do círculo pessoal do presidente. Mas também tem amigos na PF. Por conta do seu ativismo a favor da Operação Lava Jato, em março de 2017 ela foi uma das palestrantes do VII Congresso Nacional dos Delegados da Polícia Federal. No início da semsna (26/05), no dia da Operação Placebo, os sites dos grandes jornais do Brasil traziam como manchete o “vazamento da informação” pela deputada. No imaginário popular: se ela falou foi porque o presidente disse para ela. O resto não interessa.

No papel, como se dizia nas redações antigas dos tempos das máquinas de escrever, a PF é a polícia judiciária do governo federal e por conta disso os poderes do presidente na instituição são limitados. Aliás, esse é um dos motivos que levaram o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro a demitir-se. Moro ganhou fama quando, como juiz da 13ª Vara Federal, em Curitiba (PR), conduziu a Operação Lava Jato – há matérias disponíveis na internet. Se a disputa entre Moro e Bolsonaro virar processo no STF, o presidente vai precisar se explicar na PF. Mais uma coisa. Em 2015, quando conversava com senadores, o procurador-geral da República Rodrigo Janot se saiu com essa: “O pau que dá em Chico dá em Francisco”. Assim Janot, que ocupou o cargo de 2013 a 2017, definiu a imparcialidade da Procuradoria-Geral da República (PGR). Aqui cabe uma explicação, principalmente para os jovens repórteres das redações. Atual democracia brasileira é jovem. Nasceu em 1985, quando os militares que deram o golpe em 1964 saíram do poder. São apenas 35 anos. Mas tem amadurecido a cada ano. E sua solidez se pode ver pela independência dos seus três poderes: Executivo, Judiciário e Legislativo. E a busca permanente pela imparcialidade das suas instituições, como a PGR. Muita gente morreu, perdeu seu emprego, foi torturada e exilada para vivermos em uma democracia nos dias atuais.

Dentro das regras estabelecidas pela nossa Constituição, o presidente Bolsonaro não é dono da PF. Pode vender a ideia de que manda. Mas se forçar muito a barra ele vai entender a frase de Janot: “pau que dá em Chico dá em Francisco”. Nessa mesma lógica se enquadra o governador Witzel. Ele tem o seu direito garantido de contar a versão dele sobre os fatos. Aliás, o governador foi juiz federal durante 17 anos (até 2018), é mestre em Processo Cível, Direito Penal e Econômico. Conhecimento para se defender é o que não lhe falta. É importante nós repórteres entendermos uma coisa sobre o governo Bolsonaro: ele opera uma máquina de distorcer a verdade e vender uma mentira como se fosse realidade com uma grande competência. Portanto, é importante saber separar a realidade da ficção. É simples assim.

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