Não precisa ser gênio na ciência econômica para saber que assim que passar a emergência sanitária imposta ao mundo pelo coronavírus os países vão apostar uma corrida atrás dos grandes investimentos. Claro o Brasil vai participar dessa corrida. Cabe a pergunta: se você fosse um investidor estrangeiro e tivesse assistindo ao vídeo da reunião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com os seus ministros colocaria o seu dinheiro no Brasil? Antes de responde à pergunta, uma observação. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem dito nas suas entrevistas que antes do coronavírus a situação econômica vinha dando sinais de estar engrenando para voltar a crescer. Esqueceu-se de dizer que os sinais eram muito tímidos. No primeiro ano de governo o número de desempregados continuava na faixa dos 12 milhões e a taxa de pessoas operando no mercado informal não parou de crescer. A conclusão que se chega depois do primeiro ano de Guedes no cargo é que ele é um bom vendedor, mas deixa muito a desejar na condução do Ministério da Economia. Vamos responder à pergunta.
Os investidores internacionais são muito conservadores, principalmente os ligados aos fundos de pensão. Eles não vão colocar o dinheiro deles no Brasil. O vídeo, que se tornou público depois de uma decisão do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostra um Bolsonaro transtornado gritando nos ouvidos de ministros com medo de serem demitidos – o vídeo e dezenas de reportagens sobre o assunto estão disponíveis na internet. No meio da confusão, Guedes, referindo-se ao Banco do Brasil (BB), afirma: “Tem que vender essa porra logo”. O banco é uma marca no mercado. E, como toda marca, é desvalorizada sempre que alguém levanta alguma dúvida sobre o seu desempenho. Portanto, o comentário da maior autoridade econômica do país desvalorizou em alguns milhões de dólares o BB. Claro, o ministro foi operador do mercado financeiro por muitos anos. Ele sabe os danos que seu comentário causou à marca do Banco do Brasil. Por que ele fez isso? É uma pergunta que temos que responder aos nossos leitores e a resposta surgirá quando baixar a poeira.
No meio da gritaria que se estabeleceu na reunião, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, conseguiu a atenção de todos. Ele sugeriu que fosse aproveitada a confusão criada no Brasil pela emergência sanitária para flexibilizar as leis e portarias que regulamentam a exploração econômica do meio ambiente. O desmatamento da Floresta Amazônica não tem parado de crescer desde que Bolsonaro assumiu o governo. No ano passado, em agosto, quando houve grandes incêndios na floresta, os fundos de pensão avisaram que se o problema não fosse resolvido eles iriam embora. Se existia alguma dúvida dos fundos sobre a seriedade do governo do Brasil no trato do meio ambiente, Salles acaba de mostrar a maneira brasileira de lidar com o assunto. Aproveitar-se da confusão criada pela crise sanitária é um absurdo. Ontem (22/05), o número de mortos pelo vírus no país somava 21.116, com 332.382 pessoas contaminadas. Em Manaus (AM) os mortos estão sendo enterrados em covas coletivas. No Rio de Janeiro, cartão-postal do Brasil, os pacientes estão morrendo na fila porque o sistema hospitalar entrou em colapso. Ao redor do mundo, o quadro criado pelo coronavírus é macabro. Entre os investidores internacionais, os fundos de pensão são os mais conservadores e os que têm mais dinheiro. Claro que o ministro Salles sabe disso. Então por que fez o comentário de aproveitar a confusão da crise sanitária “para passar a boiada” – flexibilizar as leis? A resposta é curta: arrogância.
No festival de palavrões de posições polêmicas e exóticas ditas pelo presidente da República e alguns dos seus ministros sobrou para a China e o Paraguai. O STF mandou retirar do vídeo o nome dos dois países para evitar constrangimentos internacionais. Os chineses são os maiores compradores do agronegócio brasileiro, que será uma alavanca importante na recuperação da economia pós-pandemia. Um cliente como a China é importante, claro que o governo sabe disso. Mas mesmo assim enche os chineses de desaforos. No Paraguai vivem mais de 1 milhão de brasileiros, os chamados brasiguaios – agricultores que migraram para lá. Claro que o governo Bolsonaro sabe disso. Mas não deixou de disparar contra os paraguaios. Aqui chamo a atenção dos meus colegas, principalmente os jovens repórteres. O que aconteceu na reunião vai ser assunto por muito tempo. Mas o grande interesse do nosso leitor é saber como será alavancada a criação de empregos pós-pandemia. O resto é o resto, as asneiras de sempre que já viraram uma marca registrada do governo. É simples assim.