O caso do R$ 1,2 milhão é Kryptonita para Bolsonaro?

A Krytonita é a pedra que tem o poder. Foto:reprodução

Até um repórter em início de carreira sabe que tem alguma coisa errada na história do R$ 1,2 milhão movimentado na conta bancária do ex-motorista e assessor do filho do presidente da República eleito Flávio Bolsonaro, deputado estadual carioca eleito senador. Na semana passada, por duas vezes, uma na quarta e outra na sexta-feira, alegando problemas de saúde, Fabrício José Carlos Queiroz não compareceu para depor no Ministério Público do Rio de Janeiro a respeito da movimentação na sua conta bancária que foi detectada  pelo Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf) na Operação Furna da Onça, um desdobramento da Lava Jato. Esse dinheiro foi depositado na conta de Queiroz por sete funcionários do gabinete do deputado Flávio. Ele depositou R$ 24 mil na conta da esposa do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL – RJ), Michelle. A movimentação desse dinheiro só será um crime se a origem deles for ilegal. E qual é a origem do dinheiro?

Antes de responder a pergunta, eu vou contar uma história que rola há muitos anos nas redações dos jornais. Em 1930, nos Estados Unidos, os desenhistas Joe Shuster e Jerry Siegel  criaram um personagem chamado Superman. Às vésperas de ser extinto o planeta Kryton, os seus pais o enviaram para a Terra. E a luz do nosso Sol lhe deu superpoderes.  Mas ele os perde quando é exposto à kryptonita, que é um metal do seu planeta natal. Então, sempre que um fato vai enfraquecer uma pessoa  poderosa, os repórteres falam que é a Kryptonita  do fulano de tal. Voltando à pergunta sobre a origem do dinheiro. Se ela for ilegal, vai envolver o presidente, de uma maneira ou de outra. A começar que é ele foi eleito gritando contra a corrupção. E o que nós, repórteres, sabemos da origem desse dinheiro? Pelo que foi publicado até agora, temos apenas suposições. Sendo que a mais forte é que tenha se originado em uma prática antiga de alguns parlamentares brasileiros de exigirem uma parte dos salários pagos aos funcionários do seu gabinete. Isso é um crime previsto em lei: extorsão.

Não interessa qual a explicação que Queiroz vai dar ao Ministério  Público sobre o dinheiro.  O que nós temos que explicar ao nosso leitor e a questão do presidente eleito. A ligação que ele tem com o episódio  são os R$ 24 mil que foram parar na conta da sua esposa que seria a quitação de uma empréstimo. A única certeza que existe é que o dinheiro veio da conta de Queiroz. Agora se ele saiu do que foi depositado pelos funcionários do gabinete ou do salário do ex-assessor não tem com saber. Portanto, fica o dito pelo não dito. O desgaste do presidente fica por conta de ser o pai do Flávio.  Daqui para frente, o que irá acontecer será trabalho para os repórteres investigativos. O presidente eleito é deputado federal durante 27 anos. Vamos ter que esmiuçar a relação entre ele e os funcionários que trabalharam no seu gabinete.  Não vai ser um trabalho fácil. Mas ele é fundamental para o nosso leitor.

Há um fato que precisamos levar em conta. Pouco sabemos dos bastidores da vida parlamentar do presidente eleito. O nosso foco foi sempre nas asneiras que ele falava e que acabavam ganhando as manchetes dos jornais. Uma das escassas reportagens que foram feitas a respeito da relação dele com os trabalhadores do seu gabinete foi da Folha de São Paulo, que descobriu uma funcionária fantasma. Ele contestou a reportagem.  Agora tudo mudou. Ele é presidente da República, e tudo o que aconteceu no seu gabinete é de interesse público. E o que aconteceu com o  seu filho Flávio chamou a nossa atenção para saber se houve coisas semelhantes no gabinete dele na Câmara.  O fato é o seguinte. Eleito empunhando a bandeira da moralidade na administração pública, inclusive tendo como um dos seus ministros o ex-juiz federal Sérgio Moro, que ficou famoso como o homem que conduziu a Operação Lava Jato, Bolsonaro toma posse tendo que explicar o caso do R$ 1,2 milhão. O episódio o constrange, isso dá para ver nas imagens quando os repórteres falam com ele sobre o assunto.  E daqui para frente, sempre que o presidente da República falar com os jornalistas, seja lá qual for o assunto, não vai faltar um repórter para perguntar sobre o episódio. Aliás. é um dever nosso até que tudo seja esclarecido. Como se diz nas redações: o caso do R$ 1,2 milhão é a Kryptonita de Bolsonaro.

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