Para quem foi o recado de Eduardo Bolsonaro ao mostrar uma arma na cintura durante visita ao presidente no hospital?

Não se sabe as conversas entre as quatro paredes do círculo de pessoas que cercam o presidente, mas a uma delas foi mandando um recado pelo Eduardo. Foto: reprodução

A foto publicada na rede social pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deixando à mostra uma arma na cintura ao lado do seu pai, quando este estava internado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, é uma pista do que está rolando entre as pessoas que fazem parte do círculo ao redor do presidente Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Li todos os conteúdos publicados em noticiários e pelos colunistas políticos sobre o assunto. Em linha gerais, nós, repórteres, interpretamos o fato como uma demonstração da fragilidade da segurança presidencial. Muito embora a arma estivesse na cintura de um dos filhos, não deixa de ser um absurdo alguém posar armado ao lado do presidente do Brasil.

Ou seja, ali não se tratava meramente de uma situação entre pai e filho. Tratava-se da segurança do presidente da República, que ficou uma semana hospitalizado para corrigir uma hérnia que surgiu em decorrência do atentado a faca que sofreu no ano passado, durante a campanha eleitoral. Antes de seguir a conversa, chamo a atenção dos jovens repórteres das redações que fazem três ou quatro pautas por dia. Portanto, não têm tempo de refletir e estão expostos ao que chamamos de “verdades” – coisas ditas e escritas sobre um episódio que passam a ser repetidas nos conteúdos como um fato.

Retomando a conversa, vamos analisar o que sabemos. Em primeiro lugar, o deputado é agente da Polícia Federal (PF). Logo, pode andar armado e tem conhecimento sobre questões de segurança de autoridades. Em segundo lugar, ele vai ser indicado pelo pai para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos, um dos postos mais ambicionados pelos diplomatas.  Mas antes terá de passar por uma sabatina no Senado. E nas últimas semanas vem fazendo um corpo a corpo com os senadores, tentando convencê-los de que irá dar conta do recado. 

O que não sabemos. As conversas entre quatro paredes das pessoas que fazem parte do círculo do presidente. E qual é o grau de disputa entre elas pela atenção de Bolsonaro.  Sabemos que é acirrada e que os três filhos do presidente – Eduardo, Flávio (senador) e Carlos (vereador do Rio de Janeiro) – fazem parte do núcleo familiar do círculo e têm grande influência sobre o pai.

O núcleo familiar disputa espaço com o militar (composto pelos generais da reserva), o dos ministros (Paulo Guedes, da Fazenda, e Sergio Moro, da Justiça e Segurança), o político (deputado Onyx Lorenzoni, do DEM-RS) e dos “bajuladores” (formado por pessoas que falam o que o presidente quer ouvir). Eduardo mostrou a arma para alguém de um desses núcleos. Por quê?

Existem três assuntos principais no núcleo familiar do círculo ao redor do presidente: a reeleição, o medo de que ocorra outro atentado contra Bolsonaro e a caça aos petistas que ainda estão trabalhando na máquina administrativa da União. E há grande divergência entre os núcleos do círculo ao redor do presidente sobre esses três assuntos. Essas divergências não teriam notoriedade se não fossem dois motivos: o primeiro é que a economia não decola. E o segundo é a decadência da popularidade do presidente.

A história ensina ao repórter que sempre que um líder entra em decadência cresce o poder dos bajuladores, porque eles falam o que ele quer ouvir. Hoje há uma grande preocupação no círculo ao redor do presidente sobre o discurso que Bolsonaro fará na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidos (ONU), no dia 24. O assunto principal devem ser as queimadas da Selva Amazônica.

Por contas das queimadas, Bolsonaro foi desrespeitoso com a esposa do presidente da França, Emmanuel Macron. Se nos seu discurso Bolsonaro for Bolsonaro e defender a exploração mineral nas áreas indígenas e a flexibilização das leis ambientais brasileiras, duas coisas podem acontecer: um boicote aos produtos brasileiros – proteína vegetal e animal. O segundo fato que irá acontecer é o prejuízo que o boicote trará para o agronegócio e a agricultura familiar – responsáveis por centenas de empregos no interior do Brasil.

Em uma de suas entrevistas, antes de fazer a cirurgia, Bolsonaro disse que se fosse preciso iria de cadeira de rodas fazer o discurso na ONU. Ele falou só por falar. Ou estava respondendo a um dos núcleos para que não fosse o Bolsonaro na ONU? Aqui é o seguinte. Nós não temos acessos seguros ao que acontece entre as quatro paredes do círculo de pessoas que cercam o presidente. Mas muito do que publicamos são recados de um núcleo para o outro. Como a foto da arma do deputado Eduardo. É simples assim.

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