O pedido de demissão do presidente da Petrobras, Pedro Parente, 65 anos, não o isenta da responsabilidade da greve de 10 dias dos caminhoneiros, que devastou a economia nacional e causou pesadas perdas para os acionistas da empresa. Qual é a sua responsabilidade nesse episódio? Nós, repórteres, temos que responder essa pergunta ao nosso leitor. O que já sabemos é que ele puxou o gatilho que deflagrou a greve, ao alinhar os preços dos combustíveis às oscilações dos mercados internacionais. Até ali, quem arcava com o prejuízo da diferença entre os mercados interno e externo de preço era a Petrobras, principalmente no óleo diesel e no gás de cozinha. Aqui aconteceram duas coisas diferentes que precisamos esmiuçar para os nossos leitores. Uma coisa foi Parente ter alinhado os preços dos combustíveis praticados no mercado interno com as oscilações internacionais. Outra coisa foi ele ter colocado essa nova política em prática da noite para o dia, sem levar em consideração o que representam no cotidiano do brasileiro o óleo diesel e o gás de cozinha. A nova política de preços foi colocada em prática pela Petrobras em julho do ano passado. No dia seguinte, começou a ser articulada a greve dos caminhoneiros. E o rolo que vem por aí com o gás de cozinha.
O passo seguinte nessa história é descobrir e explicar o que não sabemos. O ex-presidente da Petrobrás tinha o poder de colocar em prática uma política de reajuste de preços sem consultar alguém? A história mostra que não. A começar pelos governos militares (1964 a 1985), e até o de Dilma Rousseff (2011 – 2016), a palavra final sempre foi de quem ocupava a cadeira de presidente da Republica. Isso mudou? Não houve mudanças na estrutura de tomada desse tipo de decisão. Então, o que aconteceu? Simples. Vivemos um momento muito especial na estrutura de poder do Brasil. Enfraquecidos pelo envolvimento em casos de corrupção investigados e denunciados pela Operação Lava Jato, políticos como o presidente da República, Michel Temer (MDB – SP), não tem como se opor aos tecnocratas, tipo Parente, que são alinhados com os mercados internacionais.
Podemos simplificar assim a história. Imagine o que aconteceria com Parente se a presidência da República fosse ocupada por um general, como era nos tempos do Regime Militar, ou por presidentes populares, como foram Fernando Henrique Cardoso ( 1995 – 2003) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003 – 2011): ele teria sido demitido no dia seguinte ao começo da greve dos caminhoneiros. Temer não fez isso porque não tem cacife político. Na ocasião, tomou uma atitude ao contrário: blindou Parente. E nós, repórteres, nos esquecemos dele e focamos no nosso trabalho nos rolos das greves dos caminhoneiros. Temer o blindou porque quem dá as cartas no seu governo é a área econômica, que é orientada e dirigida pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que é ligado a Armínio Fraga, um homem com conexões com os grandes especuladores de mercado ao redor do mundo. Parente é pupilo deles. E sua decisão de pedir demissão passou por Meirelles e Fraga. Meirelles é candidato à presidência da República pelo MDB. Mesmo que não ganhe, o grupo dele continuará tendo influência na área econômica do próximo governo, seja lá de qual partido for. Parente pertence a esse grupo. Portanto, poderá voltar. O papel do repórter nessa história é pressionar o Ministério Público Federal (MPF) para que apure as responsabilidades do ex-presidente da Petrobrás nos danos causados pela maneira como colocou em prática a sua política de reajuste dos preços dos combustíveis. E saber o que aconteceu é importante para nosso leitor e é nosso dever informá-lo.