Perguntas sem respostas para entender a guerra Israel versus Hamas

Cada guerra no Oriente Médio é semente da próxima, como acabar com esta lógica? Foto: EBC

Ainda não foi respondida a pergunta fundamental para a comunidade internacional entender a guerra entre Israel e o Hamas, movimento fundamentalista palestino que governa o território da Faixa de Gaza. Como 1,5 mil terroristas do Hamas conseguiram, no primeiro sábado de outubro, dia 7, executar uma invasão ao território israelense e matar 1,2 mil pessoas e sequestrar 220? Foi uma grande operação organizada do outro lado do muro que separa Gaza de Israel. Bem nas barbas do serviço de inteligência militar das Forças de Defesa de Israel. E dos agentes da Shin Bet, a agência que cuida da inteligência interna israelense. Em 16 e 17 de outubro, duas autoridades do setor de inteligência admitiram ter falhado na missão de impedir o ataque, o major-general Aharon Haliva, da Defesa, e Ronen Bar, oficial da Shin Bet. Depois dessas explicações, o assunto desapareceu dos noticiários. Não poderia ser diferente. As manchetes e outros espaços nobres passaram a ser ocupados pela guerra. Exercendo o seu direito de se defender, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu e está cumprindo a aniquilação física do Hamas com bombardeios de artilharia e aviação a Gaza que já mataram mais de 12 mil pessoas, a maioria civis – há matérias na internet.

O futuro dessa guerra ainda é indefinido. Portanto, é assunto para a imprensa diária. Eu quero centrar a nossa conversa na busca da resposta para a pergunta sobre como tudo começou. Por quê? Vou contar uma história. Na Guerra do Vietnã (1955 a 1975), as tropas dos Estados Unidos permitiam que os correspondentes de guerra acompanhassem os batalhões de infantaria e blindados nos combates. O resultado foi que as fotos, filmes e textos produzidos pelos jornalistas alimentaram um movimento de revolta contra a guerra na opinião pública americana que acabou influenciando de maneira decisiva para o fim das hostilidades. Desde então, os jornalistas que fazem a cobertura das guerras envolvendo militares americanos foram mantidos fora dos combates e confinados a centros de imprensa localizados a centenas de quilômetros das frentes de batalha. Falando a linguagem simples das redações dos jornais. Os correspondentes de guerra passaram a comer na mão dos porta-vozes dos generais. Esse modelo de cobertura das guerras foi adotado por vários países, incluindo Israel. Terminou a história. Vamos aos fatos atuais. As novas tecnologias de comunicação acabaram com esse modelo de cobertura das guerras. Hoje, os conflitos são transmitidos online pela população civil e os combates e os conteúdos podem ser encontrados com facilidade nas redes sociais. A guerra que está sendo travada entre a Ucrânia e a Rússia é transmitida online. Assim como o confronto entre Israel e o Hamas. Se forem comparadas as versões dos porta-vozes das Forças de Defesa de Israel e do Hamas com as transmissões feitas pelos civis, palestinos e israelitas, podemos ver que há alguma coisa errada. Em síntese: os judeus querem que as suas tropas priorizem a libertação dos reféns e os palestinos, que parem de bombardear indiscriminadamente suas casas e hospitais.

Respondendo à pergunta que fiz sobre o motivo pelo qual considero importante que os jornalistas expliquem aos leitores como o Hamas conseguiu entrar no território israelita, que é protegido por um dos mais experientes, equipados e organizados exércitos do mundo. Desde sua fundação, em 1948, Israel travou mais de 20 guerras com os seus vizinhos. O major-general Haliva e o oficial de inteligência Bar assumiram a culpa pela invasão. Mas a questão não é tão simples assim. Até acontecer a invasão terrorista, o primeiro-ministro Netanyahu enfrentava um intenso movimento popular que pedia a sua destituição do cargo, por estar respondendo a crimes na Justiça e tentando se safar mexendo nas leis. Nos primeiros dias da guerra, os protestos contra o primeiro-ministro cessaram. Mas estão voltando agora com o acréscimo da contrariedade de parte da população israelita pela maneira como a guerra está sendo conduzida. A imprensa de Israel tem batido nesse assunto diariamente. Bem como os noticiários de vários países ao redor do mundo, incluindo o Brasil. Quanto ao Hamas, até a invasão os acordos entre Israel e vários países do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita, ameaçavam minar a liderança do movimento. O que significa isso? O financiador do Hamas, no caso o Irã, iria procurar outro lugar para colocar o seu dinheiro. Aqui uma explicação para os jovens repórteres envolvidos na cobertura do dia a dia nas redações. Durante a Guerra Fria (1947 a 1991), travada entre os capitalistas Estados Unidos e a comunista e extinta União Soviética, era comum americanos e soviéticos financiarem organizações como o Hamas que defendessem os seus interesses. Voltando a nossa conversa. Os resultados da invasão a Israel tornaram o Hamas relevante para o Irã. Esse foi um dos motivos pelos quais os terroristas levaram câmeras no peito para mostrar nas redes sociais as ações que praticaram.

Tudo isso aconteceu por obra do acaso? É a explicação que precisamos dar ao nosso leitor. Há um fator que pode facilitar o nosso trabalho. No próximo ano acontecerão as eleições presidenciais nos Estados Unidos. O presidente americano Joe Biden (democrata) tem como principal adversário o ex-presidente Donald Trump (republicano), que é amigo e parceiro político do primeiro-ministro Netanyahu – há matérias na internet. Biden não vai retirar o histórico apoio dos americanos a Israel. Mas começou a falar, em alto e bom som, que a responsabilidade pela integridade da população civil de Gaza é de Netanyahu e que também é favorável à consolidação da Palestina como país. O que o governo americano sabe sobre a invasão do território israelense pelo Hamas que não tornou público? Seria ingenuidade nossa acreditar que o governo americano aceitou a versão do serviço de inteligência de Israel sobre como tudo aconteceu. Sabem, nas redações de jornais nos tempos das barulhentas máquinas de escrever existiam os chamados repórteres policiais, os colegas que faziam a cobertura dos casos de polícia. Aprendi muito com eles. Uma das lições foi que, na maioria das vezes, o culpado pelo crime é quem se beneficiou dele. É um bom caminho para entender a guerra Israel versus Hamas.

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