É uma questão de segurança nacional o bom funcionamento da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). A pauta da greve dos seus 126 mil funcionários alerta para o sucateamento da empresa, o que é um absurdo, um tiro no pé ou seja lá qual for a maneira de definir a falta de visão do dono da empresa, o governo federal. Se a intenção do governo é privatizar com os Correios, vai cometer um grande erro. Por quê? Simples Só uma empresa estatal comprometida com a estratégia nacional de desenvolvimento vai investir em lugares que não dão lucro. Os Correios têm agências na maioria dos 5.570 municípios brasileiros. Se a iniciativa privada assumir os Correios, mesmo que os novos donos fossem tomados por um surto de patriotismo, não teriam com manter a empresa, se não fechassem as agências que não dão lucro, aquelas lá no fim do mundo. Mas extremamente essenciais para a integração nacional.
O lugar dos Correios é de destaque na consolidação da integração nacional. Quem duvidar e só passar os olhos pelos livros de história. Eu sou testemunha disso. Viajando como repórter em busca de histórias para escrever, nos últimos 40 anos, eu conheço esse país de ponta a ponta, de lado a lado. Abusando da boa vontade dos meus colegas repórteres calejados e dos novatos, vou contar uma historinha. Nos 70, o governo federal abriu dezenas de fronteiras agrícolas nos estados do Meio-Oeste, do Oeste e do Norte. E levou agricultores, principalmente gaúchos, para povoar as novas regiões. Acampamentos de agricultores de beira de estrada se transformaram em cidades em meia dúzia de anos. Em diferentes anos, eu estive nesses locais. Na maioria delas, havia três prédios importantes: Correios, Banco do Brasil e Igreja. Um desses lugarejos se chamava Sorriso, no chamado Nortão do Mato Grosso. Viajar do Sul para chegar lá era uma aventura. Sobreviver exigia coragem. Hoje, eu afirmo o seguinte: se não existissem as estatais, tipo Correios, seriam bem menores as chances de Sorriso ser hoje uma das cidades mais ricas, organizadas e festejadas pelos fornecedores de insumos agrícolas.
A discussão se a ECT segue sendo uma empresa estatal ou privada não tem sentido no momento. E apenas serve para nos desviar do caminho para descobrir a verdadeira causa de tudo o que vem acontecendo. É aqui que entra o trabalho do repórter. Uma leitura nas notícias sobre as dificuldades dos Correios que temos publicado nos últimos dois anos mostram fatos isolados. São políticos e funcionários furtando o dinheiro da empresa, o uso de cargos para acomodar apadrinhados políticos e a drástica diminuição no número de funcionários, principalmente do símbolo da empresa: o carteiro. O problema dos ladrões é com a Polícia Federal (PF). O uso de cargos para acomodar apadrinhados políticos é resolvido com a vigilância das entidades de classe, os sindicatos. Resta a questão da estrutura e da falta de funcionários que o dono da empresa, o governo federal, pode resolver investindo dinheiro na empresa. Todos os brasileiros querem que os Correios funcionem. Resolver o problema é questão do dono da empresa, no caso o governo federal.
A questão interessante a ser lembrada por nós, repórteres. Graças às compras pela internet, brasileiros que vivem longe dos grandes comerciais, hoje tem acesso a qualquer tipo de mercadoria, comprando nas lojas online. Mesmo os que vivem nas cidades grandes e médias, hoje conseguem pagar menos pelos mercadorias comprando pela internet. Em todos os casos citados, os Correios são fundamentais para o sistema de compras online funcionar. A situação é essa.